Israel não envia armas para a Ucrânia, mas não se importa de ganhar com a guerra

Pela primeira vez, os israelitas vão exportar carros de combate Merkava e um dos países é europeu. Israel vê uma oportunidade nos stocks militares esvaziados dos aliados da Ucrânia.

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Os israelitas terão mais de 200 Merkava 2 e Merkava 3 retirados de serviço para vender Yannis Behrakis/REUTERS
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Com os stocks militares dos aliados da Ucrânia a serem esvaziados para apoiar o esforço de guerra contra a Rússia, Israel, que se recusou desde o princípio a apoiar militarmente as forças ucranianas e só em Março deste ano admitiu fornecer equipamento militar a Kiev, mas apenas sistemas defensivos, começa a ver no prolongamento do confronto bélico uma oportunidade de negócio.

“Os países europeus estão a ajudar a Ucrânia e a fornecerem-lhe sistemas. Os stocks nesses países estão a esvaziar-se, estão a renová-los comprando sistemas mais modernos e mais actualizados e é aqui que as indústrias israelitas entram no cenário”, disse, em entrevista ao jornal económico Calcalist, citado pelo Times of Israel, Yair Kulas, chefe do Directorado de Defesa de Cooperação Internacional do Ministério de Defesa de Israel, conhecido pelas siglas SIBAT, que se encarrega da venda internacional de armamento israelita.

“Há aqui um potencial de várias centenas de milhões de shekels”, explicou. Mesmo valendo o shekel um quarto de valor do euro, ainda é uma quantia razoável a ter em conta, numa altura em que “o mundo anda à procura de sistemas e os processos de produção requerem tempo e nem todos têm tempo para esperar”.

Perante este cenário, o Governo israelita, que no primeiro ano da invasão russa se recusou a fornecer equipamento bélico a Kiev e desde Março mudou de política, mas apenas para sistemas de defesa, está no mercado para vender os excedentes das suas forças de defesa, nomeadamente os modelos mais antigos do tanque Merkava, o seu principal carro de combate desde os anos 1980.

O país tem vindo a substituir os MK 2 e os MK 3 pelo mais recente MK 4 (que começou a ser produzido em 2003), podendo aproveitar agora para vender os mais antigos. Segundo o jornal online israelita em língua inglesa Ynetnews, mais de 200 MK 2 e MK 3 retirados de serviço estariam disponíveis para venda e poderiam chegar aos seus compradores entre dois a três meses.

“Há dois potenciais países com os quais temos negociações adiantadas” para a venda dos Merkava, disse Kulas. “Estou impedido de dizer quem são, mas um é do continente europeu”, acrescentou.

Imprensa do sector da defesa tem vindo a especular quem serão os potenciais compradores, nomeadamente se o país europeu seria mesmo a Ucrânia, algo que, no entanto, não parece plausível, pelo menos por agora, porque poderia ser considerada uma intervenção directa no conflito num país com uma considerável percentagem da população de origem russa (1,3 milhões, mais ou menos 15% do total).

A Croácia é outro alvo identificado como possível. Os croatas, desejosos de substituir os seus carros de combate M-84A, baseados no T-72 de modelo soviético, já adquiriram hardware aos militares israelitas, mas fracassaram no que diz respeito à aquisição de caças F-16A/B Netz que Israel pôs à venda em 2016.

A revista alemã Stern referia no fim-de-semana que a Alemanha poderia ser o país europeu comprador e que era muito provável que os MK 2 e os MK 3 acabassem por ser transferidos depois para as forças ucranianas.

“Muitos elementos indicam que os carros de combate são destinados à Ucrânia. São demasiado velhos para equipar um exército moderno no futuro”, escrevia a revista. No entanto, essa reexportação teria de ser autorizada por Israel.

Outros dois países referenciados, nomeadamente pelo site BulgarianMilitary.com, especializado em defesa, são Chipre e Marrocos. Os cipriotas para substituir em parte os 41 tanques T-80U que os cipriotas enviaram para Kiev e Rabat para ocupar o espaço dos T-72B que seguiram o mesmo caminho.

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