Presidente de Israel avisa para risco de “guerra civil”

Veterano deputado do Likud, de Netanyahu, propõe que a polémica reforma judicial seja congelada e repensada pelos membros da coligação no poder.

Foto
Manifestantes na cidade de Bnei Brak, a leste de Telavive NIR ELIAS/Reuters

Israel acordou esta quinta-feira para um dia de “escalada na resistência à ditadura”, expressão usada pelos organizadores do protesto nacional que deverá levar centenas de milhares de pessoas à rua com “perturbações” planeadas em 150 locais. A jornada de contestação à reforma judicial da coligação de Governo começou horas depois de Benjamin Netanyahu ter recusado um compromisso proposto pelo Presidente, Isaac Herzog. “Quem pensar que uma verdadeira guerra civil, da vida humana, é uma linha que não alcançaremos não faz ideia”, avisou Herzog.

Como nas duas semanas anteriores, há manifestantes a bloquear algumas das principais estradas e auto-estradas de Israel e protestos diante de universidades, do Supremo Tribunal, em Jerusalém e do consulado dos Estados Unidos, em Telavive. Pelo menos sete manifestantes foram detidos durante a manhã, incluindo cinco que tinham pintado uma linha vermelha até ao Supremo.

Também há reservistas nas ruas de Haifa e grupos de religiosos que se juntaram em Telavive com cartazes onde se lê “judaísmo e democracia, a mesma voz”. Mas em Bnei Brak, uma cidade ultra-ortodoxa que na terça-feira à noite foi palco de confrontos entre apoiantes e oponentes da reforma do Governo, há reservistas que gritam “Vão para o Exército” – os ultra-ortodoxos, uma percentagem cada vez maior da população, não são obrigados a cumprir o serviço militar obrigatório de quase três anos para homens e dois para mulheres.

“O abismo está tão perto que podemos tocar-lhe”, alertou Herzog na sua intervenção ao país, transmitida na televisão, na noite de quarta-feira. Israel, disse o chefe de Estado, está “no meio de uma verdadeira crise”, mas também “diante de uma enorme oportunidade”. A maioria dos israelitas, sublinhou, “querem um plano que traga justiça e paz”. A presidência é um cargo essencialmente simbólico, mas perante a crise actual Herzog tem tentado mediar negociações entre membros da coligação, que inclui os partidos da direita mais extremista de Israel (extrema-direita e ultra-ortodoxos) e a oposição.

A chamada reforma judicial pretende dar mais controlo ao governo na nomeação de juízes, que passaria a ser feita por um comité composto por três ministros, o presidente do Supremo, dois juízes e dois funcionários públicos (escolhidos por acordo entre o presidente do Supremo e o ministro da Justiça). Ao mesmo tempo, o Supremo Tribunal perderia poderes para reverter leis que considere inconstitucionais – o país não tem Constituição, mas um conjunto de leis básicas que funcionam como tal –, com o Parlamento, ou seja, a maioria que esteja no poder, a poder reverter as suas decisões.

"O nosso país"

“Infelizmente, os representantes da coligação não concordaram com as propostas do Presidente”, afirmou Netanyahu. “O elemento central das propostas que ele ofereceu só perpetua a situação actual e não traz o equilíbrio necessário entre os poderes [executivo e judiciário]. Essa é a infeliz verdade”, disse o primeiro-ministro antes de voar para Berlim, uma viagem que atrasou por causa das conversações e da qual regressará antes do previsto, já esta quinta-feira (centenas de manifestantes juntaram-se no aeroporto tentando impedir a sua partida).

Apesar da intransigência do Governo, surgiu a primeira voz discordante, com David Bitan, deputado e veterano membro do Likud (de Netanyahu) a propor que a legislação seja congelada para “acalmar o país” e permitir que a coligação repense o plano. “Um atraso não é um problema”, afirmou numa entrevista ao diário Yedioth Ahronoth. Ainda que seja o primeiro membro da aliança que apoia o Governo no Parlamento a avançar com uma proposta neste sentido, Bitan também discorda do que foi apresentado por Herzog aos partidos.

“Vocês só vão ser capazes de perceber quem são e o que querem fazer se Israel continuar a ser um país livre e democrático com igualdade”, disse esta quinta-feira de manhã a ex-ministra dos Negócios Estrangeiros e da Justiça Tzipi Livni (foi membro do Likud antes de formar o seu partido de centro-esquerda, o Hatnua), dirigindo-se aos manifestantes em Telavive. “É por isso que estamos a lutar. Este é o nosso país, esta é a nossa bandeira. Vivemos aqui e vamos manter este país democrático.”

Sugerir correcção
Ler 1 comentários