Protesto de militares na reserva pressiona Netanyahu

Pilotos de unidade de elite na reserva recusam-se a fazer exercício para que foram chamados, em protesto contra a proposta reforma judicial.

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Benjamin Netanyahu e o ministro da Justiça, Yariv Levin, responsável pela reforma judicial Reuters

Uma nova vaga de protestos contra a reforma judicial proposta pelo Governo de Benjamin Netanyahu está a ser protagonizada por militares na reserva. A mais recente foi a de pilotos na Força Aérea, em que 37 de 40 de um esquadrão não compareceram a um exercício dizendo que este é o seu meio de protestar contra o Governo.

São já várias as unidades militares em que reservistas têm avisado que não comparecerão à chamada se for aprovada a reforma judicial, vista como uma machadada à democracia de Israel, dizendo que não irão “servir uma ditadura”. Os reservistas são uma parte essencial das Forças Armadas de Israel, especialmente na Força Aérea, com pilotos a serem chamados regularmente para treinos, essenciais para manterem a sua capacidade de levar a cabo operações.

No domingo, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas de Israel, Herzi Halevi, expressou a sua “profunda preocupação” com os efeitos do movimento crescente de recusa a servir, já que este pode “prejudicar a capacidade operacional” das Forças Armadas, cita a jornalista Noga Tarnopolsky, no Twitter. “Todos os antigos chefes do Estado-Maior das Forças Armadas ainda vivos se opõem à tentativa de Netanyahu mudar o regime de governo de Israel”, comentou ainda a jornalista.

Muitos jornalistas e analistas têm notado que a expressão “reforma judicial” não é suficiente para descrever as medidas propostas, e que estão já a ser discutidas no Parlamento, já que em cima da mesa está o fim do contrapeso que o sistema judicial faz ao sistema político em Israel. Como o país não tem uma Constituição, qualquer maioria no Parlamento ficaria sem contrapesos ou restrições ao seu poder, um problema para a democracia. As propostas têm levado à oposição de vários grupos, incluindo uma importante oposição de economistas. Nas ruas, centenas de milhares de pessoas têm-se manifestado regularmente, em protestos cheios de bandeiras de Israel.

Netanyahu “perdeu a carta patriótica”

A unidade que recusou levar a cabo o exercício, marcado para quarta-feira, foi a responsável por destruir um reactor nuclear em construção na Síria em 2007, sublinha a JTA (Jewish Telegraph Agency). É o único esquadrão que opera o caça-bombardeiro de longo curso F-15I, uma variação do norte-americano F-15E, nota pelo seu lado o diário liberal Haaretz.

Outras unidades de elite viram protestos semelhantes, incluindo a unidade de espionagem de elite 8200 (que terá sido responsável pela famosa Operação Opera, o ataque-surpresa de Israel contra um reactor nuclear no Iraque em 1981).

No meio de tantos protestos, uma das cartas mais destacadas foi a de dez dos comandos que participaram no resgate de reféns de um avião em Entebbe, no Uganda, em 1976 – a operação em que foi morto o irmão de Netanyahu, Yonatan.

“Fizemos o impossível pelos nossos camaradas de armas”, dizia a carta, publicada nas redes sociais, citada pela JT. “E vocês estão a fazer todos os possíveis para destruir a motivação e quebrar a sociedade israelita.”

Para Anshell Pfeffer, do Haaretz, o protesto dos reservistas – “que estão no coração da sociedade israelita” – quer dizer que “Netanyahu perdeu a carta patriótica”.

“Escala nunca vista”

Se os protestos de reservistas são, diz Pfeffer, “uma tradição israelita”, os que estão a acontecer agora “são numa escala nunca antes vista – seja pelo número de reservistas a dizer abertamente que recusam servir se a reforma judicial for em frente, porque estão a ‘servir uma ditadura’, seja pela grande diversidade de unidades de elite representadas no protesto, e também pelo apoio que receberam de uma grande fatia da sociedade israelita e de altos responsáveis do establishment da segurança (incluindo de antigos chefes do Estado-Maior das Forças Armadas).”

O movimento de recusa de servir é, em geral, muito malvisto em Israel, com objectores de consciência a serem uma minoria e sujeitos a pena de prisão.

Em várias alturas, diz ainda Pfeffer, “a esquerda radical tentou encorajar reservistas a recusar-se a servir na Cisjordânia, e a direita radical tentou convencê-los a não participar na evacuação de colonatos”, mas “nenhuma das tentativas resultou em mais de umas dezenas de refuseniks”.

Mas o que aconteceu agora foi que “a objecção de consciência se tornou, pela primeira vez na História de Israel, generalizada”. E o resultado é, diz ainda o jornalista, que “é impossível, nesta altura, avaliar o impacto disto na prontidão operacional” das Forças Armadas de Israel.

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