Netflix cresceu e quer dar “um empurrãozinho” a quem partilha contas abusivamente

Plataforma tem 230 milhões de membros e quer que os que usam passwords alheias criem “as suas próprias contas”. Vai apertar com partilha este ano e está aberta a versão grátis com anúncios.

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Jenny Ortega na mais reconhecível cena de Wednesday Netflix

A plataforma de streaming Netflix, líder de mercado que teve um 2022 acidentado com a sua primeira perda de novos subscritores em mais de uma década, continua a sua recuperação e terminou o ano com 230,75 milhões de assinantes e ganhos acima das suas previsões, anunciou quinta-feira à noite o serviço. Com a série Wednesday, o filme norueguês Troll e a sequela Glass Onion: Um Mistério Knives Out, bem como a série documental Harry e Meghan a alimentar o seu crescimento, avisa que vai apertar com a partilha de contas em mais mercados no final deste trimestre.

A apresentação de resultados trimestrais da empresa fez subir o valor das suas acções na Bolsa de Nova Iorque — embora os ganhos por acção tenham ficado aquém do que esperavam os analistas, atenta a agência Reuters. A informação aos investidores confirmou ainda que Reed Hastings, um dos fundadores da empresa, passou a presidente executivo do conselho de administração, dando lugar a Ted Sarandos e a Greg Peters como co-CEO da plataforma.

Nos últimos três meses de 2022, a Netflix angariou mais 7,66 milhões de assinantes, mais do que as previsões de 4,5 milhões do mercado bolsista, e na sua carta aos investidores congratula-se por ter tido “um final mais brilhante” de um ano “atribulado”. Em que também despediu centenas de pessoas depois de ter visto o seu valor cair no início do ano.

Os dois principais caminhos da empresa continuam a ser, como anunciou há meses, o combate à partilha abusiva de contas ou palavras-passe, bem como a introdução de uma nova forma de assinatura, mais barata, com publicidade incluída.

O lançamento desta modalidade, em Novembro e em 12 países, foi um sucesso, diz a empresa. “Acreditamos que o preço mais baixo está a levar ao crescimento das assinaturas de forma incremental”, lê-se no documento, que detalha que poucas pessoas terão mudado do seu actual plano de pagamento para a modalidade com publicidade.

“Mais no final do primeiro trimestre esperamos começar a lançar o pagamento de partilha de contas mais amplamente”, diz ainda a carta aos accionistas, precisando que em causa estão mais de 100 milhões de lares e que isso mina o sucesso futuro da Netflix. “Embora os nossos termos e condições limitem o uso da Netflix a um lar, reconhecemos que esta é uma mudança para os membros que partilham as suas contas de forma mais ampla.”

Não há detalhes sobre que países começarão a ver essas mudanças este ano, mas garante-se que a medida, que envolve várias opções de pagamento adicional para os subscritores que queiram continuar a partilhar contas com pessoas fora da sua casa, vai abranger “muitos países”. A experiência feita em vários países da América Latina (Chile, Costa Rica, Peru, Argentina, El Salvador ou Honduras) nos últimos meses faz a empresa californiana acreditar que depois de uma quebra inicial, haverá novas assinaturas ou formas de os espectadores se relacionarem à mesma com a Netflix.

Esta decisão acaba por criar novos modelos de pagamento e tipos de assinatura, defendeu Greg Peters na chamada com os investidores que decorreu já durante a madrugada desta sexta-feira (hora portuguesa). “Parte [da decisão] é motivada por questões económicas”, admitiu. “Mas parte é o que chamamos partilha casual, que as pessoas poderiam pagar mas não precisam quando ‘pedem emprestada’ a conta de outrem. A nossa função é dar-lhes um empurrãozinho e criar modalidades que tornem a transição para as suas próprias contas fácil e simples.”

Quanto à introdução de publicidade, que há um ano era um anátema no discurso da Netflix, agora não só é vista como forma sem retorno de gerar dividendos e atrair novos consumidores com preços mais baixos, mas parece uma porta prestes a escancarar-se. Não é para já, mas quando questionado sobre se poderiam mesmo ter uma versão 100% gratuita suportada por anúncios, Ted Sarandos disse: “Estamos abertos a todos esses diferentes modelos” e que “têm esse segmento debaixo de olho”. Não para já, mas a constatação de que a televisão digital se está a reaproximar da televisão tradicional parece já inquestionável.

A Netflix findou 2022 com receitas operacionais de mais de 30 mil milhões de dólares angariados em mais de 190 países. Pôde gabar-se de ter estreado mais um punhado de êxitos globais e transgeracionais, como a sua série mais popular de sempre, Stranger Things 4, a terceira série mais popular de sempre com Wednesday (baseada n’A Família Addams), a sua segunda série documental mais vista de sempre, Harry e Meghan, o disaster movie de fantasia Troll como o seu filme que não em língua inglesa mais popular de sempre e Glass Onion, de Rian Johnson, como o seu quarto filme mais popular.

Notícia corrigida às 11h16: retirada referência à cidade de Cupertino; actualizada a designação do novo cargo de Reed Hastings

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