Central de Zaporijjia pode ser uma nova Fukushima sem uma zona de protecção

Director da agência da ONU vai esta quinta-feira ao Conselho de Segurança defender que é “imperativo” estabelecer um perímetro de segurança: “Temos de evitar um grave acidente nuclear.”

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Ricardo Grossi, em Setembro, quando visitou com inspectores da AIEA a central nuclear de Zaporijjia YURI KOCHETKOV/EPA

O director da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) vai esta quinta-feira defender no Conselho de Segurança das Nações Unidas a necessidade “imperativa” de criar uma zona-tampão de segurança em torno da central nuclear ucraniana de Zaporijjia, ocupada pelas forças russas desde Março.

Para Ricardo Grossi, é preciso uma decisão “rápida” ou corre-se o risco de que aconteça algo trágico, um novo desastre como Fukushima. “Temos de evitar um grave acidente nuclear”, referiu o diplomata argentino, citado pela Lusa, no discurso de abertura da conferência ministerial da agência da ONU, que se realiza em Washington até sexta-feira.

É preciso alcançar um consenso sobre o assunto “o mais rápido possível”, afirmou Grossi, porque os riscos aumentam à medida que o conflito se prolonga na Ucrânia. A situação na central, ocupada pelos russos, mas que continua a ser operada pelos seus técnicos ucranianos, é precária, na percepção dos inspectores da AIEA, como aliás fica demonstrado pelas sucessivas interrupções no fornecimento de energia.

O diplomata argentino tem tentado negociar com Moscovo e Kiev a salvaguarda da central de Zaporijjia, a maior da Europa, e Grossi reuniu-se recentemente com os chefes de Estado russo, Vladimir Putin, e ucraniano, Volodymyr Zelensky, para tentar garantir que um lado não a use como alvo militar e o outro não procure lançar ataques a partir dela.

“A situação continua a ser muito má e precária. Estamos com interrupções do fornecimento de energia eléctrica na central quase de forma quotidiana”, dizia o diplomata no domingo, em entrevista ao site Cenital. “Isto é muito grave porque, sem o abastecimento eléctrico, a central pode ficar sem refrigeração.”

Perdendo a capacidade de arrefecer os seus reactores, pode acontecer o mesmo em Zaporijjia que aconteceu à central de Fukushima, no Japão, em 2011, o maior desastre nuclear desde o da central de Tchernobil.

A falta de refrigeração “foi o que provocou Fukushima”, disse Grossi na entrevista. “A central parou como um relógio quando veio o terramoto. O que se passou depois é que os geradores de emergência a diesel estavam a funcionar e foram levados pela onda. A central ficou sem refrigeração e é isso que é preciso evitar.” Em Zaporijjia, o que acontece quando falta energia é que se ligam os geradores a diesel para manter os reactores refrigerados.

Na entrevista, Grossi reconhece como é complicado “estabelecer uma zona de protecção” numa área de combates. “Não é uma central nuclear num país em guerra, o que já por si só seria complicado. Está no teatro de operações, na linha da frente. Aí está a dificuldade que tenho, os parâmetros de protecção, as medidas que se esperam de um e de outro.”

O director da AIEA fala numa “negociação muito complexa”, não só com Zelensky e Putin, mas também com militares e “toda uma constelação de pessoas”. Mas lembra que, “a cada dia que passa sem que cheguemos a uma solução, há uma possibilidade de que algo aconteça”.

“O factor tempo conspira contra a segurança da central e a segurança em geral”, acrescentou Grossi. “O que temos de conseguir é um acordo o mais rápido possível.”

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