#3 “Amores de verão”

Posso fazer um apelo aos pais e avós deste país e arredores: por amor dos santinhos não estraguem os amores de verão dos adolescentes com avisos constantes sobre os perigos disto e daquilo.

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@DESIGNER.SANDRAF

Ana,

Posso fazer um apelo aos pais e avós deste país e arredores: por amor dos santinhos não estraguem os amores de verão dos adolescentes com avisos constantes sobre os perigos disto e daquilo. Não ponham a carroça à frente dos bois, quase como se estivessem a partir do princípio de que eles já deviam estar no estádio seguinte — se fizeram bem os vossos TPC, sobre essa fase estarão devidamente informados. Deixem-nos, agora, descobrir as estrelas no céu, o prazer do toque, aquela impossibilidade absoluta de ficar longe do outro, as mãos dadas.

Não sejam invejosos. Nem desmancha-prazeres.


Mãe,

Acordou muito romântica hoje! Parece-me bem. E estou consigo no desejo de dar espaço para toda essa magia e paixão. Acrescento-lhe mesmo um ponto, nunca jamais, em tempo algum, desvalorizem o amor que eles sentem. Lembro-me de ficar furiosa quando o faziam comigo, e de pensar “Tenho a certeza absoluta de que, mesmo quando for adulta, vou saber que isto era amor a sério, mesmo que não case com esta pessoa”. E tinha razão.

Quanto aos TPC já feitos, desconfio que até a mãe não acredita mesmo nisso. A “educação sexual” é um processo contínuo, e falar com calma em casa (ou melhor ainda no carro, onde ninguém tem de olhar na cara do outro), não é substituível por nenhuma internet, professor ou amigos. As conversas sobre a sexualidade com os pais — não tendo que ser extensas ou profundas, e embora sempre um bocadinho desconfortáveis — são fundamentais, e permitem abrir um canal de comunicação a que podem recorrer sempre que precisarem, sobretudo num momento de maior aflição. Além disso, há TANTA informação maluca por aí que é bom poderem esclarecer connosco dúvidas. Mas, dou-lhe razão, quando diz que devem começar muito antes da adolescência, não só porque a intimidade não nasce de um dia para o outro quando dava jeito, mas também porque a conversa flui melhor enquanto o assunto é mais abstracto e menos “pessoal”. Não pode é, mesmo, ser um assunto tabu.


O Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Agora, ao longo do Verão, deixam curtos avisos que não são de desprezar. Facebook e Instagram.

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