Projecto As Três Irmãs de Tita Maravilha vence Bolsa Amélia Rey Colaço

Releitura de Tchékhov à luz dos debates contemporâneos sobre identidade de género e interseccionalidade receberá bolsa de 22 mil euros.

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Tita Maravilha ALÍPIO PADILHA

O projecto As Três Irmãs, da actriz, cantora, performer e palhaça Tita Maravilha, venceu a quinta edição da Bolsa Amélia Rey Colaço, anunciou o Teatro Nacional D. Maria II (TNDM), um dos promotores da iniciativa.

As Três Irmãs, a partir da peça homónima de Anton Tchékhov, será a primeira obra de Tita Maravilha em nome individual: uma criação que combina a estrutura literária de um clássico com as ideias de vanguarda da contemporaneidade, explica o TNDM, em comunicado.

Através da recriação da peça do dramaturgo russo, a artista expõe o seu “interesse radical” em intervir nas artes performativas portuguesas e “repensar e alterar o fluxo da história em diálogo com a identidade de género, cruzando o pensamento crítico com o humor, a arte e a interseccionalidade”.

“Nesta versão de As Três Irmãs criarei uma deliciosa trama sobre irmãs de sangue que se descobrem pessoas trans e não binárias no mesmo percurso em que se tentam inserir na sociedade. Quero sobrepor a trama original a um tema que grita por atenção e que pouco tem sido discutido com sabedoria e lugar de fala”, afirma Tita Maravilha.

A artista lembra ainda que o momento presente torna especialmente pertinente reflectir sobre como o sistema político na Rússia, onde a peça tem lugar, lida com pessoas LGBTQIA+.

“Aqui interessa o futuro, negociar o futuro da escrita. Penso a escrita num território movediço que nos serve de trampolim para a recriação, re-emoção, revolução. Neste momento, tenho um interesse radical em interagir nas artes performativas a partir da minha formação enquanto criadora, em repensar e alterar o fluxo da história”, acrescenta.

O projecto contará com as interpretações de João Abreu, Ivvi Romão e Luan Okun, com assistência de dramaturgia de Keli Freitas, música de Aurora Pinho e Odete, direcção de movimento de Jaja Rolim, iluminação de Luisa Labate, cenário e figurinos de Marine Sigout e produção de Maria Tsukamoto.

Licenciada em Artes Cénicas pela Universidade de Brasília, Tita Maravilha vive em Portugal desde Dezembro de 2018.

A Bolsa Amélia Rey Colaço é uma iniciativa conjunta do Teatro Nacional D. Maria II (Lisboa), do Centro Cultural Vila Flor (Guimarães), d'O Espaço do Tempo (Montemor-o-Novo) e do Teatro Viriato (Viseu).

O prémio para o projecto vencedor da Bolsa Amélia Rey Colaço traduz-se na atribuição de um valor pecuniário de 22 mil euros, com acesso a várias residências artísticas e apresentação do espectáculo nos quatro teatros parceiros.

À edição deste ano concorreram 47 projectos, a partir dos quais foram seleccionados seis, que passaram pela fase de entrevista, após a qual foi escolhido o projecto vencedor.

O júri foi composto pelos directores artísticos do Teatro Viriato, Henrique Amoedo, do Teatro Nacional D. Maria II, Pedro Penim, d'O Espaço do Tempo, Rui Horta, e do CCVF e departamento de Artes Performativas de A Oficina, Rui Torrinha.

Criada em 2018, em homenagem à actriz e encenadora Amélia Rey Colaço, pelo seu papel na história do teatro português, a Bolsa Amélia Rey Colaço, atribuída anualmente, visa apoiar jovens artistas e companhias emergentes. Nas suas anteriores edições, foram contemplados os projectos Parlamento Elefante, de Eduardo Molina, João Pedro Leal e Marco Mendonça, Aurora Negra, de Cleo Tavares, Isabél Zuaa e Nádia Yracema, Ainda estou aqui, de Tiago Lima, e Another Rose, de Sofia Santos Silva.

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