O impacto da guerra nas crianças ucranianas

As crianças ucranianas estão a ver os seus direitos negados, desde os civis aos económicos, sociais e culturais, à saúde, habitação e educação, colocando-as perante o risco de culminar em situação de pobreza e desigualdade.

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@petercalheiros

Os bombardeamentos das tropas russas já mataram muitas crianças de todas as idades e meios socioeconómicos e estão a deixar um lastro de destruição na vida de outras, vítimas de uma guerra que não é delas. As crianças gostam de rotinas e de saber com o que contam, tornando-se difícil assimilarem por que é que, de um momento para o outro, tiveram de fugir do seu país acabando por se tornar refugiadas. Tudo na sua vida mudou de forma inesperada e agora estão a assistir ao pior dos cenários com violência, ruína do seu país, da sua casa, da sua escola, separação dos seus amigos e dos seus animais de estimação, insegurança nos olhos dos pais, medo e morte de pessoas próximas.

As crianças ucranianas estão a ver os seus direitos negados, desde os civis aos económicos, sociais e culturais, à saúde, habitação e educação, colocando-as perante o risco de culminar em situação de pobreza e desigualdade, bem como de maior tendência a problemas de foro psicológico. Sobretudo as mulheres e as crianças, como as que são separadas dos seus pais, correm o risco de sofrerem várias formas de violência que incluem a violação, o tráfico e a exploração sexual. O tema do tráfico de seres humanos já foi aqui abordado noutro artigo, onde refiro o risco dos refugiados caírem numa destas redes e as consequências devastadoras que sucedem nas suas vidas.

As situações elencadas acima são, naturalmente, propícias a desenvolverem traumas e a deixar marcas profundas nas suas vítimas. Desde logo, é imperativo a análise deste fenómeno e a activação de formas de sinalização formal e de travagem do mesmo, tentando também ultrapassar as dificuldades com que se depara quem tenta denunciar.

A investigação tem demonstrado a disfunção psicológica que pode ser causada pelo sofrimento psicológico e pelo trauma associado a situações de catástrofe, incluindo perturbação de stress pós-traumático, dissociação, ansiedade, depressão, confusão, abuso de substâncias, isolamento, baixa auto-estima e, nos casos de violência sexual, o aumento do risco de vitimação continuada, entre outros.

Estas pessoas irão beneficiar de intervenções psicológicas e sociais baseadas em evidências para lidar com o trauma, reduzir o sofrimento psicológico, a sensação de isolamento e devolver-lhes capacidade de autonomia e de integração social, ajudando-as a sentirem que podem reaver o controlo das suas vidas.

No caso concreto das crianças e jovens que chegam a Portugal separados dos pais, os psicólogos e assistentes sociais devem sempre ter em mente o superior interesse das crianças, protegendo os seus direitos e potenciando o seu desenvolvimento saudável através do acesso à habitação, aos serviços de saúde física e psicológica e à retoma do seu percurso educativo. A ausência dos pais ou de familiares próximos torna estas crianças ainda mais vulneráveis, sendo primordial atender às suas necessidades emocionais além das básicas, assegurando rotinas, segurança e um espaço para serem ouvidas e poderem falar sobre aquilo que sentem, os seus receios, preocupações e o que esperam para o futuro. Acima de tudo estas crianças passaram por situações que abalaram o seu sentido de confiança e previsibilidade e precisam de profissionais sérios e com formação adequada para poder ajuda-las a acreditar e construir um futuro melhor.

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