Portugal paga juros 0,7 pontos mais altos do que há três meses

Efeitos da viragem de política registada nos últimos meses no BCE já se estão a sentir nas emissões de dívida realizadas esta quarta-feira pelo Estado português.

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LUSA/TIAGO PETINGA

O Estado português garantiu esta quarta-feira, através da emissão de dois títulos de dívida, um novo financiamento nos mercados financeiros de 1250 milhões de euros. Os juros suportados, contudo, ficaram cerca de 0,7 pontos percentuais acima daqueles que tinham sido obtidos no final do ano passado.

Em linha com aquilo que se esperava, depois de na semana passada ter ficado claro que o BCE pode vir a ser forçado a subir as suas taxas de juro de referência mais cedo do que tinha previsto, as emissões de dívida realizadas esta quarta-feira por Portugal – através da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – IGCP – saíram mais caras aos cofres do Estado do que aquilo que vinha acontecendo recentemente em operações da mesma natureza.

O Tesouro português conseguiu agora colocar no mercado 544 milhões de euros de títulos de dívida com uma maturidade até Outubro de 2028 e 706 milhões de euros nos títulos que terminam em Outubro de 2031.

Na primeira operação, com um prazo de cerca de seis anos e meio, os juros que o Estado terá de suportar são de 0,603% ao ano. Já na segunda operação, com um prazo de quase dez anos, a taxa de juro a pagar aos investidores será de 1,008%.

Quando se olha para as últimas emissões de dívida realizadas por Portugal com prazos semelhantes, é possível verificar que foram conseguidas com taxas de juro mais baixas. Em Junho do ano passado, a emissão de dívida a seis anos realizada pelo Tesouro foi feita a uma taxa de juro negativa de 0,162%, isto é, na altura os investidores aceitaram pagar ao Estado português para lhe emprestar dinheiro. A taxa de juro registada na operação desta quarta-feira ficou 0,75 pontos percentuais acima da verificada em Junho do ano passado.

No que diz respeito à emissão a 10 anos, o Tesouro português tinha conseguido no passado mês de Novembro obter um financiamento de quase 700 milhões de euros a uma taxa de juro de 0,314%, o que significa que, esta quarta-feira, passados três meses, apesar do prazo ser ligeiramente mais curto, a taxa de juro ficou cerca de 0,7 pontos percentuais acima da anterior.

Este agravamento dos custos de financiamento já era esperado. Desde Dezembro do ano passado que as taxas de juro da dívida pública em todos os países da zona euro, incluindo Portugal, têm vindo a subir nas transacções de títulos (anteriormente emitidos pelos Estado) que são efectuadas entre os investidores.

No caso da dívida portuguesa a 10 anos, cuja taxa de juro implícita se encontrava ligeiramente abaixo de 0,3% em meados de Dezembro, o valor registado na manhã desta quarta-feira era já superior a 1%.

A subida começou a acontecer logo a seguir à reunião de Dezembro do conselho de governadores do BCE, onde foi definida uma estratégia progressiva de retirada dos apoios do banco central às economias da zona euro, incluindo a diminuição a partir de Março das compras de dívida por parte do BCE e, mais tarde, o início da subida das taxas de juro de referência da autoridade monetária.

A subida dos juros da dívida acentuou-se, contudo, desde a passada quinta-feira, quando a presidente do BCE, Christine Lagarde, revelou, à saída de uma nova reunião do conselho de governadores, que o banco central estava agora mais preocupado com a inflação, dando sinais que a diminuição das compras de dívida e o início da subida das taxas de juro de referência do BCE poderiam acontecer mais rapidamente do que estava previsto.

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