Covid-19 teve “impacto devastador” na luta contra a sida, a tuberculose e a malária

Pela primeira vez desde a sua criação, em 2002, o Fundo Global de Luta Contra a Sida, Tuberculose e Malária relata recuos, como a redução significativa dos serviços de despistagem e de prevenção do VIH.

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Radiografia de um paciente em tratamento por tuberculose na Argentina MAGALI DRUSCOVICH/Reuters

A covid-19 teve um “impacto devastador” na luta contra a sida, a malária e a tuberculose, que sofreu um retrocesso sem precedentes, salientou o Fundo Global, no relatório anual divulgado esta quarta-feira.

Pela primeira vez desde a sua criação, em 2002, o Fundo Global de Luta Contra a Sida, Tuberculose e Malária relata recuos, como a redução significativa dos serviços de despistagem e de prevenção do vírus da imunodeficiência humana (VIH) junto de populações fundamentais e vulneráveis e uma queda acentuada no número de pessoas testadas e tratadas contra a tuberculose, com um especial impacto nos programas de combate à tuberculose resistente à medicação.

Os números de 2020 “confirmam o que temíamos quando apareceu a covid-19”, disse o director executivo do Fundo Global, Peter Sands, citado no relatório. “O impacto da covid-19 tem sido devastador. Pela primeira vez na nossa história, os nossos indicadores-chave estão a retroceder”, acrescentou. O SARS-CoV-2 tem perturbado gravemente o acesso aos sistemas de saúde, testes e tratamentos em muitos países.

A pandemia teve consequências “catastróficas” na luta contra a tuberculose. Em 2020, o número de pessoas tratadas para a tuberculose resistente aos medicamentos diminuiu 19%. Nos países onde o Fundo Global investe, cerca de 4,7 milhões de pessoas com a doença receberam tratamento, cerca de menos um milhão do que em 2019. O impacto da covid-19 no combate ao VIH é também significativo. Enquanto o número de pessoas seropositivas que recebem tratamento anti-retroviral continuou a aumentar, 9% em 2020, o relatório assinala uma quebra “alarmante” nos serviços de prevenção e testagem para pessoas chave e vulneráveis.

O número de pessoas abrangidas por programas de prevenção da sida diminuiu 11% em 2020. O número de tratamentos fornecidos às mães, para evitar que os seus bebés contraiam o vírus, caiu 4,5%. Os testes à sida diminuíram globalmente 22%, atrasando o início do tratamento na maioria dos países. Nos países onde o Fundo Global investe, 21,9 milhões de pessoas estavam a receber tratamento anti-retroviral para o VIH em 2020, um aumento de 8,8% em relação a 2019.

Até agora, os programas contra o paludismo parecem ter sido os menos afectados pela pandemia provocada pelo SARS-CoV-2, é referido no relatório. A quantidade de redes mosquiteiras distribuídas tem continuado a aumentar, 17% em 2020. As pessoas rastreadas por suspeita de malária diminuíram 4,3% em 2020 e os progressos na contenção da doença estagnaram, lamentou o Fundo Global, no mesmo documento.

A pandemia provocada pela covid-19 salientou a “importância crítica” dos sistemas de saúde em todo o mundo, realçou o Fundo, que considera existirem alguns vislumbres de esperança, uma vez que o novo coronavírus originou uma série de inovações que beneficiaram a luta contra a sida, a tuberculose e a malária.

Na Nigéria, por exemplo, a agência nacional de controlo da sida fez testes de despistagem ao VIH quando estas se deslocaram a centros médicos para testes à covid-19 e aumentou o número de seropositivos identificados, informou o Fundo.

O Fundo Global é uma parceria entre Governos, sociedade civil, o sector privado e doentes. Metade do financiamento vai para a luta contra a SIDA e metade para a malária e a tuberculose. Desde a sua criação, em 2002, a organização afirma ter salvado 44 milhões de vidas.

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