A Matemática também pode contar histórias

Dramático e exagerado, Semion está sempre a antecipar tragédias. “É o meu fim”, repete a cada novo desafio. E agora só tem 20 minutos para resolver um problema de Matemática. Ui!

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João Fazenda
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Malditas matemáticas
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Capa do livro “Maldita Matemática”, editado pela Bruaá João Fazenda

Se Galileu acreditava que a Matemática teria sido usada para escrever o universo, o protagonista desta história usou-a tão-só para escrever uma aventura geograficamente bem localizada. Não resolveu o problema proposto pelo professor, mas divertiu os leitores. Muitos, já que o autor nasceu em 1881… na Rússia.

Maldita Matemática descreve o raciocínio de uma criança que tem dificuldade em pensar num problema em abstracto. Se lhe pedem para dizer qual é o dos dois camponeses que chega primeiro ao ponto B, sabendo que um saiu 15 minutos antes do outro do ponto A e percorrendo uma distância que equivale ao que quer que seja…, ele precisa imediatamente de dar uma identidade a cada um e perceber por que raio é que não foram juntos para o destino proposto no problema.

O professor falou no “primeiro” e no “segundo”, mas o rapaz rebaptizou-os, deu-lhes rosto e identidade: William e Rudolf.

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“Já via com os seus olhos mentais uma faixa branca na testa de William, devida à protecção do chapéu (…) Quanto a Rudolf, na sua imaginação, era um homem espadaúdo e corajoso (…)”

Tudo o que o rapaz imaginou depois distanciou-se do ponto de partida e da própria Matemática, mas trouxe-nos suspense, divertimento, violência e também justiça.

O texto foi escrito por um autor russo do princípio do século XX, comparado a Mark Twain e a quem chamavam “rei do riso”. Fundou e dirigiu a revista Satiricon, que contou com a colaboração de grandes nomes da literatura e ilustração russa.

Para esta edição portuguesa de Agosto de 2020, João Fazenda (Prémio Nacional de Ilustração em 2015) emprestou o seu talento, com imagens dinâmicas e inesperadas. Confirmou o que já nos tinha revelado numa conversa em 2018. “A ilustração é a tradução de qualquer coisa numa outra linguagem. E nas traduções acontecem sempre interpretações. Depois, acrescentam algo mais, complementam uma história ou ideia e tornam a comunicação mais rica.

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Também na altura, o artista, que estudou Artes Gráficas na Escola António Arroio e se licenciou em Pintura na Faculdade de Belas-Artes de, Lisboa falou da técnica usada: “Estou entre gerações e escolas. Desenho ainda à mão, com tintas, e sujo-me bastante. Mas depois a parte de cor, de edição, é digital (…) É um processo cada vez mais caótico e mais próximo da pintura até.

Quanto à trágica personagem Semion Pantalíkin, deixou passar os 20 minutos sem ter articulado um único pensamento aritmético, geométrico ou trigonométrico. Então, ouviu a voz do professor de Matemática, “como uma trovoada num dia claro”, na sua direcção. E pensou: “É o fim!”

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