Suspensão dos voos da TAP para a Venezuela custa dez milhões

Transportadora aérea portuguesa está impedida de voar para Caracas durante 90 dias. “Quem vai pagar a conta?”, questiona o seu presidente, Antonoaldo Neves.

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Rui Gaudêncio

A decisão de suspender os voos da TAP para a Venezuela, tomada pelo Governo de Nicolas Maduro, vai custar dez milhões de euros à empresa portuguesa. A contabilização das perdas foi feita esta quinta-feira pelo presidente da transportadora aérea, Antonoaldo Neves, durante a conferência de imprensa de apresentação de resultados.

De acordo com o presidente executivo da TAP, a factura decorre do processo de indemnizações a passageiros e de transferências para outras companhias que já tinham viagem reservada para Caracas. “Quem vai pagar a conta?” questionou o gestor, de forma retórica, acrescentando que a empresa já analisou os procedimentos do voo ligado à suspensão e que não se verificou nenhuma falha. Além da factura já contabilizada, Antonoaldo Neves falou ainda da existência de um “impacto negativo na marca” que o episódio está a causar em outros países, e que, disse, também tem impactos na percepção externa de Portugal.

Em 2015, e na sequência da impossibilidade de repatriar os capitais retidos em Caracas – com a transportadora a falar de “violação das obrigações internacionais” –, o grupo acabou por assumir nas suas contas uma perda de 91 milhões de euros relativos à operação na Venezuela. E, uma vez que já não vende bilhetes na Venezuela, não voltou a acumular verbas em Caracas.

Apesar de se manterem as dificuldades de repatriamento das disponibilidades retidas na Venezuela”, referiu a empresa no relatório de 2018, o facto de as “disponibilidades serem utilizadas para fazer face aos gastos locais e à imaterialidade do montante” fez com que fossem classificadas em termos contabilísticos na rubrica “caixa e seus equivalentes”, no montante de 14 mil euros.

A TAP estava a voar duas vezes por semanas para Caracas, às terças e aos sábados, uma rota que existe desde Abril de 1976. Desde Setembro de 2017, os voos estavam a ser assegurados pela Euroatlantic, através de um regime de ACMI (Aircraft Crew Maintenance Insurance), que envolve o outsourcing da operação, com contratação de avião e respectiva tripulação.

A suspensão foi anunciada na segunda-feira pelo executivo de Maduro, após ter acusado a companhia aérea de permitir que um tio de Juan Guaidó, principal opositor político, transportasse o que dizem ser explosivos durante uma viagem. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, já veio classificar a medida como “inamistosa” e “injustificável”, tendo o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmado que a situação era “inaceitável, incompreensível e inadmissível”.

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