FMI revê crescimento português em alta e coloca-o acima da média do euro

No meio de uma conjuntura internacional considerada “precária”, previsões do Fundo para Portugal beneficiam com o novo panorama de crescimento trazido pelas recentes revisões do PIB realizadas pelo INE

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Kristalina Georgieva, a nova directora executiva do FMI LUSA/MICHAEL REYNOLDS

Embora ainda antecipando uma tendência de abrandamento que é bastante mais acentuada do que a esperada pelo Governo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu esta terça-feira em alta as suas previsões de crescimento para a economia portuguesa, passando a colocar o país com variações do PIB mais altas que a média da zona euro durante os próximos anos.

Nas projecções para a economia mundial agora divulgadas, o FMI passou a antecipar resultados mais favoráveis para Portugal tanto no curto como no médio prazo. A nova estimativa de variação do PIB para este ano é de 1,9%, quando em Abril era de 1,7%. Para 2020, a projecção passou de 1,5% para 1,6%. A previsão para a variação do PIB em 2024 passou de 1,4% em Abril para 1,5% agora.

A influenciar estes novos resultados está o facto de o INE ter revisto recentemente em alta os valores do crescimento económico dos anos anteriores, por exemplo passando a variação do PIB em 2018 de 2,1% para 2,4%. Isto tem levado as diversas entidades que fazem projecções para a economia portuguesa a reavaliar a sua posição em relação ao que se pode considerar o ritmo normal de crescimento em Portugal neste momento. O Banco de Portugal, por exemplo, passou a sua estimativa de crescimento deste ano de 1,7% para 2%, dando a revisão dos dados oficiais do INE como justificação.

Do lado do FMI, a revisão em alta foi mais moderada, mas é o suficiente para que Portugal passe a apresentar perspectivas de crescimento nos próximos anos sempre mais favoráveis do que as da zona euro.

Para o total dos países da moeda única, aquilo que o Fundo fez foi retirar 0,1 pontos percentuais às previsões de crescimento para 2019, 2020 e 2024. As novas previsões são agora de um crescimento de apenas 1,2% este ano, 1,4% no próximo e 1,3% em 2024. Combinando isto com a revisão em alta das previsões para Portugal, o que acontece é que, pela primeira vez em muitos anos, o Fundo vê um potencial de crescimento para a economia portuguesa que é, embora de forma ligeira, superior ao da média da zona euro.

De assinalar contudo que, o crescimento de 1,5% previsto para Portugal em 2024 é apenas o 12º mais alto entre os países da zona euro. Portugal supera as maiores economias como a Alemanha, França e Itália, mas fica atrás da maior parte das economias de menor dimensão.

O que não muda nas projecções do FMI, por outro lado, é a expectativa de que a tendência será, já este ano e nos anos seguintes, de abrandamento da economia, em linha com o que acontece no resto da Europa e com Portugal a caminhar para o seu potencial de crescimento.

Para além do PIB, o FMI também se tornou mais optimista em relação à evolução do desemprego em Portugal. Em Abril, esperava que a taxa de desemprego caísse de 7,1% em 2018 para 6,8% em 2019 e 6,3% em 2020. Agora, a trajectória esperada é, partindo de 7% em 2018, uma taxa de 6,1% em 2019 e de 5,6% em 2020.

Abrandamento no globo

A nível global, o Fundo manteve a tendência dos últimos relatórios de mostrar uma cada vez maior preocupação em relação ao rumo da economia.

O crescimento global de 3% previsto para este ano (um valor 0,3 pontos mais baixo do que o apresentado em Abril) será, caso se confirme, o mais baixo desde a crise financeira internacional. E aquilo que se pode esperar para 2020, alerta o FMI, não é mais do que uma recuperação modesta, para um crescimento de 3,4%.

O Fundo vê um cenário pouco animador em quase todas as regiões do globo e identifica três factores fundamentais que levam a classificar a conjuntura como “precária”. Em primeiro lugar, assinala a manutenção de “uma confiança frágil num cenário de tensão entre os EUA ao nível do comércio e da tecnologia”. Depois, destaca “a quebra acentuada na produção e vendas de automóveis, que fez com que as compras de veículos caíssem 3% em 2018”. E por fim, alerta para o facto de se registar um “abrandamento da procura na China, desencadeado pelos necessários esforços de regular a dívida e exacerbado pelas consequências macroeconómicas de um aumento das tensões comerciais”.

As revisões das projecções de crescimento face a Abril foram generalizadas, com muitos poucos países a escaparem a eles. Destacaram-se no entanto pela negativa, países como a Alemanha e a Itália na Europa, e México e Brasil na América Latina.

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