Porque é que as medidas anunciadas não vão melhorar a situação da CP no curto prazo?

Situação da CP vai continuar a degradar-se nos próximos meses pois nenhuma das medidas anunciadas pelo Governo terá efeitos no curto prazo.

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Na melhor das hipóteses, os novos comboios da CP só serão entregues em 2023 Nuno Ferreira Santos

Depois de um Verão em que a transportadora pública foi notícia quase diária devido à situação de ruptura provocada pela falta de material circulante e de pessoal, o Governo desdobrou-se em promessas de investimento no sector ferroviário. Mas a situação vai continuar a piorar. O PÚBLICO explica por que motivo nenhuma das medidas anunciadas terá qualquer eficácia nos próximos meses.

Compra de novos comboios

O Governo anunciou que vai lançar um concurso público para adquirir 22 novos comboios para serviço regional, dos quais 10 serão eléctricos e 12 híbridos (aptos a circular em modo diesel e modo eléctrico). Trata-se de um concurso de 170 milhões de euros que, embora já anunciado várias vezes desde o início do ano, tarda em concretizar-se.

Se for lançado nos próximos meses, na melhor das hipóteses, os novos comboios só serão entregues em 2023. Em vez de apenas 22 comboios, regionais a proposta da anterior administração da CP, entregue ao executivo em Fevereiro deste ano, era de 25 comboios mais dez de longo curso.

O Governo nunca explicou por que motivo reviu em baixa estas necessidades, mas diz que a falta de investimento em material de longo curso nada tem a ver com qualquer intenção de privatização ou concessão desse serviço.

Em 2009, ainda no Governo de Sócrates, a necessidade de comboios para a CP foi avaliada em 74 comboios (49 eléctricos e 25 a diesel), tendo sido aberto um concurso público, que depois não se concretizou.

Aluguer de comboios à Renfe

O aluguer de mais quatro automotoras à espanhola Renfe é um paliativo que está longe de colmatar as necessidades da CP. Mas é o possível. Num primeiro momento, a Renfe disse que tinha todos os seus comboios em circulação não havendo material disponível para aluguer a Portugal, mas poucos dias depois as duas empresas anunciavam que tinham chegado a acordo para o aluguer de quatro automotoras.

Questionada pelo PÚBLICO sobre este volte-face, fonte oficial da empresa espanhola disse que “a Renfe compra comboios para os ter todos em circulação e não para estarem parados numa oficina”, acrescentando que “vão-se melhorar as rotações de material e oferecer-se comboios à CP”.

Essas quatro unidades, iguais às outras 20 automotoras espanholas (inicialmente eram 17) que já circulam em Portugal (e pelas quais a CP paga sete milhões de euros por ano à Renfe), são também material bastante envelhecido – datam de inícios dos anos 80 e foram renovadas em 1996.

Terão de ser alvo de reparações e, sobretudo, incorporar tecnologia a bordo que permita “ler” a sinalização em Portugal. Por isso, só estarão em funcionamento, na melhor das hipóteses, no primeiro trimestre de 2019.

Admissão de 102 trabalhadores para a EMEF

Se as oficinas da CP tivessem pessoal suficiente, a situação da ruptura que a empresa vive não se teria verificado pois, apesar de velho, o material circulante seria reparado atempadamente.

O Governo anunciou agora o recrutamento de 102 trabalhadores para a EMEF, mas a medida tardará a dar resultados. Por dois motivos: em 2010 a EMEF tinha 1552 trabalhadores. Hoje tem 1067. E só no primeiro semestre deste ano saíram 68. Os 102 que vão ser admitidos representam uma quinta parte dos que saíram nos últimos oito anos.

Por outro lado, o recrutamento e fase de aprendizagem dos novos operários tardará, pelo menos, nove meses a dar frutos, pelo que até lá, automotoras, locomotivas e carruagens vão continuar imobilizados à porta das oficinas.

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