CP aluga comboios espanhóis por 30 milhões de euros

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A CP vai recorrer a automotoras espanholas em segunda mão para rejuvenescer a sua frota de serviço regional. O negócio prevê o aluguer, por parte da transportadora espanhola Renfe, de 17 automotoras a diesel da série 592 para serem usadas durante cinco anos na rede portuguesa.

A CP pagará 5,35 milhões de euros por ano à transportadora espanhola e o acordo entre as duas empresas prevê a revisão integral das automotoras que será efectuada nas oficinas da Integria (afiliada da Renfe para a manutenção de material circulante).

Um comunicado da Renfe diz que "este contrato vai trazer trabalho para as oficinas da Integria, cujos objectivos estratégicos passam por reconverter a sua divisão industrial, dedicada a fabrico e manutenção, num prestador de serviços de referência para operadores ferroviários".

O mesmo documento refere que será feita "uma renovação completa do ciclo de vida deste material", no qual participarão também técnicos da EMEF (empresa de manutenção da CP) que se deslocarão a Espanha. Numa segunda fase, parte destes trabalhos serão também efectuados nas oficinas desta empresa em Guifões (Porto).

A Renfe assegurará também a formação dos maquinistas portugueses que se deslocarão igualmente a Espanha.

As automotoras 592 são conhecidas em Espanha por "camellos" por os aparelhos de ar condicionado instalados no tecto se parecerem com bossas. Curiosamente são tão antigas como o material que vêm substituir pois datam, tal como as automotoras portuguesas, dos anos oitenta. Foram construídas pela Ateinsa e Macosa (que entretanto foi comprada pela Alstom), mas especificadas com requisitos superiores aos das composições portugueses à data da construção.

As "camellos" foram renovadas e remotorizadas com motores MAN em 1996 e, segundo especialistas espanhóis com quem o PÚBLICO falou, estão em "muito bom estado". O facto de a maioria ter sido retirada de serviço em Espanha deveu-se à compra de material mais moderno para os comboios regionais e suburbanos. Ainda assim, automotoras desta série circulam actualmente nos suburbanos de Múrcia e Valência e em serviços de média distância na região de Madrid.

As primeiras seis automotoras "camello" deverão começar a circular em Portugal em Julho, ainda a tempo de poupar os passageiros dos calores do Verão no vale do Douro, onde substituirão as actuais UTD (unidades triplas a diesel) que estão em fim de vida útil (embora a CP espere poder vendê-las para a Argentina).

O material espanhol irá também substituir as UDD (Unidades Duplas Diesel) na linha do Minho que, por terem ar climatizado, serão transferidas para o Algarve, cujas automotoras não dispõem actualmente desse "luxo".

Para a CP, este negócio é uma forma de colmatar o seu défice de material circulante enquanto não se concretiza o concurso público que está a decorrer para a compra de 74 novos comboios (49 unidades eléctricas para serviço suburbano e 25 automotoras a diesel para serviço regional e de longo curso).

As propostas apresentadas variam dos 319 aos 479 milhões de euros e ainda não foi escolhido nenhum fabricante, pelo que antes de 2013 dificilmente haverá material novo.

Num protocolo firmado recentemente, a Renfe alugou ainda à CP, por 2 milhões de euros, dois comboios Talgo para efectuarem o Sud Expresso (Lisboa-Hendaye). O aluguer inclui a manutenção do material que será feita em Madrid.

A CP e a Renfe assinaram recentemente um acordo de cooperação para a exploração conjunta da ligação Lisboa-Madrid em alta velocidade. O documento prevê o estabelecimento das condições de cooperação entre as duas empresas, nomeadamente o modelo de exploração, a coordenação de serviços e a partilha de receitas e de custos e recursos humanos.

Em todos os países europeus onde há alta velocidade é normalmente a empresa incumbente que explora esse serviço. Em Portugal, no entanto, o Governo ainda não definiu as condições de acesso à rede do TGV que poderão passar por um concurso internacional.

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