Em Castanheira os incêndios marcam o ritmo da campanha

Naquela pequena localidade com dois mil eleitores, qualquer desequilíbrio conta. E os incêndios foram um safanão na vontade dos eleitores.

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Adriano Miranda

Não há meias medidas nem paninhos quentes. Em Castanheira de Pêra, os incêndios entram pela campanha eleitoral adentro e puxam pela rivalidade, mas não pela crispação exagerada. "Acha que a câmara tem estado a acompanhar e a responder ao que precisam?", questiona Alda Correia, candidata do PSD à câmara de Castanheira de Pêra, sempre que encontra alguém numa arruada porta-a-porta, na aldeia de Sarzedas de São Pedro, uma das aldeia mais afectadas pelos incêndios que chorou várias vítimas mortais. Gonçalo Lopes, o candidato do PS, também tem andado todos os dias na rua a falar eleitor-a-eleitor, mas joga com mais cautelas na aproximação.

"Foi uma extensão de incêndio muito grande. Mas para quem teve perdas, três meses é muito tempo", responde o socialista a uma moradora em Gestosa Cimeira, queixosa porque ainda não sabe quando a vão ajudar a reconstruir o lugar onde tinha os animais e que ardeu com o incêndio. "Tenho as cabras com a vizinha. Há pessoas piores do que eu, mas eu tenho andado muito nervosa", diz a dona São.

Falar do incêndio e das suas consequências é inevitável para estes candidatos que se deparam porta sim, porta sim com pessoas que perderam alguma coisa para o fogo. As ajudas por aqui vão chegando aos poucos e são tema de conversa com os candidatos. Gonçalo Lopes é o homem escolhido pelo PS para substituir o presidente da câmara, Fernando Lopes, impedido de se candidatar por ter alcançado o limite de mandatos. Alda Correia, a bancária, escolhida pelos sociais-democratas para tentar roubar a câmara aos socialistas.

Ela, mulher do comandante dos bombeiros, tem como cabeça-de-lista à Assembleia Municipal (AM) o presidente da associação dos bombeiros. Ele, empresário, conta com o ex-presidente na lista para a AM. Mais uma vez, duas forças no município em confronto. E pelo meio há uma candidatura mediática: Ágata é a números dois do CDS à câmara. Por estes dias, a cantora vai a um concerto solidário e admite a parca votação para a política. "Não percebo nada de política. O que eu percebo é das necessidades das pessoas".

Por estes dias antes das eleições, a terra anda num rebuliço. São as ajudas pelos incêndios, casas em reconstrução, vidas a reerguerem-se e a política a acelear. É sábado e em Sarzedas passa uma carrinha da câmara. "Andam a limpar a fossa agora, está entupida há mais de mês e meio", conta uma candidata social-democrata. A justificação é que a autarquia só soube naquele dia. Mas há outra. Castanheira foi uma das autarquias que este ano ainda estava sob a alçada do programa de ajustamento por causa da dívida e só soltou as amarras no final de Junho.

Na vida política, a uma semana de eleições, a Assembleia Municipal, por proposta do presidente, baixou o IMI e a derrama do IRS. A oposição acusa-o de "eleitoralismo". "Não é aproveitamento político. O presidente é presidente até ao último dia de mandaro", diz Gonçalo Lopes, uma espécie de delfim de Fernando Lopes, o actual presidente, que nega que vá ser o ex-autarca a continuar a mandar.

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