Nacionalizar? Obviamente, dizem BE e PCP; nem pensar, replica a direita

Partidos dividem-se sobre leitura das declarações de Mário Centeno sobre a possibilidade de nacionalizar o Novo Banco no dia em que o regulador deveria anunciar a sua proposta.

Fotogaleria
Eventual nacionalização do Novo Banco divide partidos com assento parlamentar Rui Gaudencio
Fotogaleria
Bloco e PCP pedem nacionalização do Novo Banco. PSD e CDS recusam a ideia. PS espera para ver. Rui Gaudencio

A decisão sobre o futuro do Novo Banco deve ser a que “melhor sirva os interesses do país” e Bloco e PCP terão ficado esta quarta-feira com uma secreta esperança de que finalmente um grande banco venha a ser nacionalizado, respondendo aos apelos e propostas que têm feito nos últimos anos. Ouvir o ministro das Finanças, Mário Centeno, colocar tão taxativamente em cima da mesa a possibilidade de o Novo Banco vir a ser nacionalizado precisamente no dia em que o Banco de Portugal (BdP) deveria anunciar a proposta vencedora deixou a porta aberta às pretensões dos partidos à esquerda do PS.

Já os socialistas preferem olhar para as declarações de Mário Centeno ao Diário de Notícias e à TSF como uma forma de “manter todas as possibilidades em aberto para valorizar os activos que está a tentar vender”. O deputado do PS Eurico Brilhante Dias diz que o Governo não pode ser taxativo com qualquer cenário sem o parecer do BdP nem tão pouco pode dar a imagem de quem quer vender a todo o custo. Mas, admite, a nacionalização “não é o plano A”.

António Costa repetiu, nos debates quinzenais, ao BE e ao PCP que o Governo tomará a melhor decisão e que todos os cenários estavam em cima da mesa, mas na entrevista ao DN e à TSF, Mário Centeno foi um pouco mais além e disse que apesar do parecer do BdP sobre uma das três propostas de compra, “o processo não termina aqui” e que o Governo é livre de tomar depois uma decisão diferente, se isso se justificar. “Nada está fora de questão quando se trata de garantir a estabilidade do sistema financeiro”, disse o governante, acrescentando, de uma forma, no entanto, um pouco hesitante, que não é “adequado eliminar nenhum tipo de abordagem em relação ao Novo Banco”.

O líder parlamentar comunista realça que a manutenção do Novo Banco na esfera pública é uma reivindicação antiga dos comunistas, que até têm um projecto de resolução no Parlamento desde Fevereiro do ano passado que defende precisamente essa nacionalização – tal como fizeram, aliás, com o BPN e o Banif e têm repetido anualmente as propostas para a nacionalização de toda a banca. João Oliveira espera, por isso, que o Governo “dê razão ao PCP”.

Ao PÚBLICO, Mariana Mortágua afirma que o Bloco, por um lado, “rejeita qualquer negócio que mais uma vez implique perder um activo ao mesmo tempo que se paga ao comprador” - numa referência aos casos do BPN e do Banif – e, por outro, considera que a banca “é hoje demasiado importante para ser vendida ao desbarato a fundos abutres estrangeiros”. Ou seja, “o controlo público é a única garantia de uma gestão democrática e que possa vir a proteger a economia no futuro”. Mas também admite que o ministro das Finanças “tem a obrigação de tomar sempre a melhor decisão para o país e isso implica tem em cima da mesa todas as possibilidades”.

Enquanto a esquerda aplaude, a direita mantém a sua posição de princípio contra a nacionalização e prefere aguardar pela decisão do Banco de Portugal e do Governo. Sem querer pronunciar-se sobre a venda do Novo Banco por desconhecer o processo, a deputada do CDS-PP Cecília Meireles reiterou a posição de princípio do partido, que é contra a nacionalização. "Somos contra a resolução do problema com dinheiro dos contribuintes. A nacionalização é isso: é que paguemos todos o que aconteceu com o BES", afirmou a vice-presidente do CDS. Questionado pelo PÚBLICO sobre esta abertura de Mário Centeno para o cenário de integrar oficialmente na esfera pública o Novo Banco, o deputado social-democrata Hugo Soares também remeteu para mais tarde qualquer comentário, dizendo que não haver “novidades” nas palavras do ministro, apenas cenários. com Sofia Rodrigues

Sugerir correcção
Ler 1 comentários