“Mais do que acreditar, trabalho para uma maioria absoluta”

António Pires de Lima acredita que a coligação PSD/CDS tem “todas as condições” para vencer as próximas eleições legislativas.

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O ministro da Economia mantém reservas sobre o seu futuro político Enric Vives-Rubio

O ministro da Economia mantém reservas sobre o seu futuro político, preferindo não revelar qual o destino que seguirá após as próximas eleições legislativas agendadas para o Outono por considerar que não é tema de relevância nacional. Já sobre os resultados, diz não ter dúvidas de uma vitória da coligação entre PSD e CDS, mas alerta que só uma maioria vai proporcionar “uma solução governativa estável”. O ministro, e dirigente do CDS, acredita que os portugueses já não associam o actual Governo à austeridade, mas sim à palavra esperança. “Os eleitores portugueses valorizarão aqueles que trabalharam para que esse sentimento existisse do que propriamente aqueles que fazem permanentemente um discurso de desconfiança relativamente à capacidade dos portugueses e da economia nacional”, afirma.

Recebeu muitas heranças do seu antecessor. Qual é a marca que deixa como ministro?
 O meu tempo como governante ainda não acabou e é cedo para fazer balanços. Este Governo, que vai estar em funções durante mais alguns meses, foi um só. Tenho procurado não entrar em contradições artificiais com o meu antecessor, que é uma pessoa que respeito, e procurar imprimir a minha linha de prioridades num ciclo que era marcadamente assumido como tendo um desafio: a recuperação da economia. Se há desafio que agarrámos de uma forma particular no Ministério da Economia nesta segunda fase da legislatura foi o da recuperação do investimento, que estava com uma tendência muito negativa, deixou de cair em 2014 e parece estar a dar sinais de crescimento este ano.
 
Relativamente ao seu futuro, mantém a intenção de abandonar a vida política/governativa depois das eleições?
Não creio que o meu futuro político seja de relevância nacional, nem vejo nenhum português particularmente inquieto com essa matéria. É uma questão pessoal. Não tenho nada a acrescentar. Quero acabar este mandato com um forte sentimento de missão cumprida, de ter ajudado à solução. Quando entrei para o Governo, a economia ainda estava em recessão e vamos terminar esta legislatura com a economia a crescer, até mais do que a União Europeia. Hoje o desemprego, apesar de muito alto, está a um nível consideravelmente mais baixo do que aquele que registávamos no princípio de 2013. Isto é, este crescimento económico, pelo desenvolvimento das exportações, pela recuperação gradual do consumo privado e do investimento, está a gerar oportunidades de emprego, invertendo uma tendência muito preocupante. É possível até que terminemos esta legislatura com uma taxa de desemprego inferior àquela que recebemos como legado da governação socialista. É para isso que estamos a trabalhar. E, finalmente, nunca mais se ouviu falar seriamente de ameaças à estabilidade governativa. Uma coligação, pela primeira vez na história da democracia portuguesa, vai terminar um mandato, que ainda por cima terá sido mais exigente das últimas décadas, o que foi essencial para Portugal não ter um segundo resgate e não estar agora na situação da Grécia.

Acredita que a coligação poderá vencer as próximas eleições legislativas?
O povo decidirá, mas acredito que esta coligação tem todas as condições para ganhar e seria desejável que se repetisse uma maioria parlamentar de apoio à solução governativa.

Também acredita numa maioria absoluta?
Mais do que acreditar, trabalho para que isso aconteça. Não delego em ninguém a responsabilidade pessoal que tenho de fazer com que as coisas aconteçam. Estamos a trabalhar para que a economia portuguesa tenha um ano de crescimento bom em 2015, tenha perspectivas de crescimento fortes nos anos seguintes, para que o desemprego continue a cair e para que os portugueses tenham um sentimento mais forte de que todo o esforço que lhes foi pedido ao longo dos últimos anos, que foi muito, valeu a pena, no sentido em que o caminho que estamos a seguir é hoje um caminho reconhecido de esperança. A economia já mudou e eu acho que o PS ainda não percebeu isso. O sentimento prevalecente hoje na sociedade portuguesa é de esperança, de confiança, e os eleitores portugueses valorizarão aqueles que trabalharam para que esse sentimento existisse do que propriamente aqueles que fazem permanentemente um discurso de desconfiança relativamente à capacidade dos portugueses e da economia nacional. Este Governo recuperou a esperança. Embora o ajustamento tenha implicado muitos sacrifícios ma sociedade portuguesa, a austeridade será revertida gradualmente na exacta medida em que a recuperação económica se acentue.

Está realmente convicto de que os portugueses associam mais o actual Governo à palavra esperança do que à palavra austeridade?
Já deixámos uma parte da austeridade para trás e é muito importante que não tenhamos de voltar a tempos de austeridade acrescida, como aqueles que reiteradamente se viveram em países que não foram capazes de cumprir os seus programas de ajustamento. Este Governo herdou uma situação que exigia o cumprimento de um plano de ajustamento que tinha sido negociado pelos nossos antecessores e deixa o país fora desse programa, com a economia a crescer, o desemprego a descer. Tudo isto são sinais de esperança que se devem fundamentalmente ao trabalho dos portugueses, das empresas, mas em que o Governo se constituiu como parceiro reconhecido ao longo destes anos. Estamos todos a trabalhar para que esta maioria se renove. E o meu desejo é que PSD e CDS obtenham uma vitória importante nas eleições legislativas, para que possam constituir uma solução governativa estável.

Se houver um governo minoritário, será grave?
O desejável é que das próximas eleições legislativas saia uma solução governativa estável. Minorias parlamentares dificilmente asseguram estabilidades governativas longas.

Se o partido mais votado for o PS, o CDS deverá dar apoio aos socialistas para garantir essa maioria?
No CDS estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance para que o partido socialista não seja o mais votado nas próximas eleições.

 Os programas de apoio à Grécia destruíram a sua economia, e geraram poucos resultados. Não é normal que Atenas queira alterar a forma como a estratégia está desenhada?
Em relação à Grécia é preciso ser muito objectivo: todos os países que fazem parte do euro devem respeitar os compromissos inerentes à pertença deste espaço monetário único. Compete aos gregos, fundamentalmente, decidir sobre o seu futuro. Eu desejo que a Grécia continue a pertencer ao euro, mas não substitui os meus desejos à vontade dos gregos.

Mas não seria uma boa altura para mudar alguns parâmetros do programa de ajustamento?
Eles foram sendo reformulados ao longo do tempo. E o que eu considero importante é que o nosso processo de ajustamento financeiro está para trás. Já passámos essa fase, a economia virou.

Neste momento, está em cima mesa da eventualidade da saída da Grécia da zona euro. Se isso acontecer, Portugal não fica de novo debaixo da alçada das instituições europeias, devido aos apoios que serão necessários para assegurar que o país não é arrastado?
Nós deixámos o nosso programa de ajustamento há cerca de um ano, e a situação de Portugal é uma situação completamente diferente da Grécia.
 
Não estou a comparar os dois países. Estou a questionar se, caso a Grécia saia do euro, não teme uma fuga de investidores de dívida, e quanto tempo demorará até recorrermos a apoios europeus…Não há uma certa ligeireza na forma como se está a abordar uma eventual saída da Grécia?
Não se trata de ligeireza. Logo veremos que caminho é que se irá tomar. O importante é separar o caso da Grécia do caso de Portugal. Quando o actual governo grego tomou posse, Portugal estava a financiar-se a taxas de juro superiores às actuais. O que aconteceu desde o início do ano é que as taxas de juro para Portugal foram descendo, fizemos várias emissões de dívida, todas elas bem-sucedidas, e, neste momento, as taxas ainda estão a níveis bastante aceitáveis. O que comprova que o nosso caso é diferente.

Não teme então os efeitos da saída da Grécia?
Não desejo a saída da Grécia, mas limito-me a procurar trabalhar, no governo português, para que a nossa economia possa manter esta rota de crescimento e estar tão imune quanto é possível a qualquer incidência que possa existir na zona euro. Essa, ou outra.

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