"Uma personalidade ímpar"

Os comentários de várias personalidades à morte do patriarca emérito.

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D. José Policarpo morreu na sequência de um aneurisma da aorta Rui Gaudêncio

Da política, à Igreja e à sociedade em geral, várias são as personalidades a destacar a importância de D. José Policarpo na vida do país e a forma como se entregou à religião sem esquecer os problemas das pessoas e sem perder a ligação à actualidade.

Cavaco Silva, Presidente da República
“Portugal foi tristemente surpreendido pela notícia da morte do patriarca emérito de Lisboa, D. José da Cruz Policarpo. Todos os portugueses, crentes e não crentes, lamentam a perda de uma personalidade ímpar, que pela lucidez serena e pela luminosa inteligência da sua palavra constituiu, ao longo de décadas, uma das mais importantes referências éticas e espirituais da nossa sociedade. Dotado de uma profunda cultura humanística, autor de uma vastíssima obra, teve papel determinante na afirmação e consolidação da Universidade Católica Portuguesa, onde foi professor e, mais tarde, Reitor. Norteou a sua presença na vida pública pelos ideais da tolerância, da autenticidade e da fidelidade aos valores em que acreditava, assumindo o serviço aos outros, em especial aos mais carenciados, com exemplar generosidade e admirável espírito de entrega.”

Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro
“A Igreja e o País sentirão a sua falta na defesa dos valores cristãos, do auxílio aos mais desprotegidos e do diálogo inter-religioso. Foi um homem de reflexão não só dos grandes temas próprios da teologia cristã, mas também dos grandes desafios civilizacionais. Com a força da sua fé, foi uma voz de alerta para os dilemas da sociedade portuguesa e uma voz de exortação para a vivência de cada um segundo os imperativos da bondade e da solidariedade. Quero transmitir à família enlutada e a toda a comunidade católica que estou certo de que este sentimento de perda é partilhado por todo o País.”

Paulo Portas, vice-primeiro ministro e presidente do CDS-PP
“Pastor da Igreja de Lisboa e da Igreja portuguesa, o senhor D. José Policarpo deixa-nos o testemunho empenhado da esperança, o exemplo da reflexão profunda e frontal, e a memória de uma vida de construção e compreensão pelo próximo. O XVI Patriarca de Lisboa nunca deixou de ajudar a compreender o nosso tempo e de intervir no nosso mundo. Para os católicos, em especial, a sua fé e confiança foram uma interpelação constante. Homem de cultura e acção - pensada, dialogada e partilhada -, a sua morte prematura é uma perda para todos, sem distinção de credo ou fé.”

Partido Socialista
“Personalidade marcante da Igreja Católica, deixa na memória dos portugueses um exemplo de abnegação e de serviço à comunidade”, diz o PS numa nota de imprensa, recordando o cardeal emérito como “um exemplo de abnegação e de serviço à comunidade” e “um homem de profunda cultura e de enorme dedicação aos valores cristãos e ao diálogo inter-religioso”.

António Costa, presidente da Câmara Municipal de Lisboa
“Foi um notável cardeal patriarca de Lisboa, sempre na linha da frente da defesa do diálogo entre religiões e da aceitação da diferença. Perdemos o cardeal da democracia e da tolerância.”

Fernando Tinta Ferreira, presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha
“Em nome da câmara manifesto a grande consternação que o concelho sente neste momento pelo falecimento de um dos seus filhos mais ilustres”, afirmou, lembrando que o cardeal emérito nasceu na freguesia de Alvorninha, no concelho das Caldas da Rainha. “Sempre fez questão de se manter muito ligado ao concelho e à freguesia”, acrescentou.

Manuel Clemente, patriarca de Lisboa
“A sua memória mantém-se viva no muito trabalho que D. José Policarpo desenvolveu com bondade e lucidez à frente da diocese.”

António Marto, vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa
“A Igreja fica-lhe toda grata e creio que o país também lhe deve a gratidão porque contribuiu para criar um clima pacífico, dialogante e de atenção aos problemas reais do país. Distinguiu-se, sobretudo, por uma leitura muito fina, atenta aos sinais dos tempos e por uma intervenção iluminadora sobre os problemas do país, sobretudo, também, por um interesse da relação da Igreja com o mundo numa perspectiva de diálogo, de simpatia, de solidariedade, sem deixar de afirmar sempre a identidade cristã.”

António Francisco dos Santos, bispo do Porto a partir de Abril
“O senhor D. José era um mestre com quem diariamente aprendíamos e sobretudo um verdadeiro irmão para nós bispos. Ele marcou de modo exemplar e irreversível a vida da Igreja em si mesma e no seu diálogo com a cultura e com a sociedade portuguesas. Ele abriu à Igreja caminhos de renovação, de esperança e de futuro. Nesta hora, a Igreja e Portugal devem saber dizer 'obrigada' senhor D. José.”

António Vitalino, bispo de Beja
“Era um homem de fé e de esperança, pelos maiores problemas que houvesse, ele não ficava perturbado, mas antes confiava, reflectia e tomava as suas decisões, também era um homem de decisão, profundamente confiante de que um bispo precisa, muitas vezes, de decidir mesmo que não agrade a todos. No meio dos maiores problemas era capaz de ganhar a distância necessária para aguardar o momento mais oportuno de o ver numa outra relação e numa outra óptica, para poder encontrar as melhores soluções.”

Manuel Linda, bispo das Forças Armadas
“Deixou-nos o sentido de que a Igreja não pode existir fora do mundo, só tem razão de existir enquanto transformadora do mundo, e D. José Policarpo era um homem que apreciava o mundo. O segundo dado é que o mundo não é aquele pensado à maneira grega, fixo, é dinâmico.”

Januário Torgal Ferreira, bispo emérito das Forças Armadas
“A imagem que me fica foi de uma pessoa que serviu incondicionalmente, serviu com jovialidade, com alegria. Neste momento tão difícil do mundo, se tivéssemos servidores deste quilate tínhamos muito mais luz e tínhamos muito mais certeza humana e de respeito”, afirmou, recordando uma frase de D. José Policarpo: “Eu não tenho opções, escolhas. Eu escolho aquilo que a Igreja escolheu para mim. Isto é, a Igreja tudo aquilo que me pedir, através do papa, me solicitar, isso eu realizo e sirvo.”

José Cordeiro, bispo de Bragança-Miranda
“Ainda estamos sob choque”, afirmou o mais jovem bispo de Portugal, que estava com D. José Policarpo, num retiro, em Fátima, quando o patriarca emérito se sentiu mal e foi transferido para o hospital, onde acabou por morrer. Disse ter “uma amizade e uma admiração muito grande” com o cardeal e destacou “os laços humanos e de fé” que os uniam, que já foi ele que o ordenou.

Anacleto Oliveira, bispo de Viana do Castelo
“Marcou a Igreja portuguesa, para não dizer a Igreja universal. Era um bom pensador, um bom teólogo, um homem do Concílio Vaticano II", disse, descrevendo-o ainda como um homem “aberto à cultura” e que sabia “transmitir a mensagem cristã”.

Nuno Brás, bispo auxiliar de Lisboa
“Era um homem sereno, um homem que raras vezes - penso que nunca - se deixava levar por aquilo que eram as modas e os pensamentos dominantes. Foi assim que ele recomeçou, de facto, o Seminário dos Olivais, foi assim que ele ganhou a Faculdade de Teologia da Universidade Católica, foi assim que ele conseguiu consolidar a própria Universidade Católica em tempos difíceis e foi assim também que ele governou a Igreja de Lisboa nestes 15 anos de patriarca. Era um homem que procurava e conseguia ver mais longe e era um homem de oração, cujas decisões não eram simplesmente marcadas por aquilo que era o pesar humano, mas que procurava escutar Deus para depois tomar as decisões.”

Jorge Ortiga, arcebispo de Braga
“A morte imprevista de D. José Policarpo (...) é uma grande perda para a Igreja em Portugal e creio que poderei também dizer para a Igreja Católica”, disse, acrescentando que "legado principal” de José Policarpo foi ter-se dedicado “à reflexão” e “ao estudo” dos “sinais dos tempos”, aos quais “a Igreja tem necessidade de responder de uma maneira adequada e oportuna”.

Basílio do Nascimento, bispo de Baucau
“Guardo muito boas recordações de D. José Policarpo. Mas, as recordações mais particulares, guardo-as da proximidade de D José em relação a Timor. Em 1999 [ano da consulta popular que conduziu o país à independência], acompanhou muito de perto o problema de Timor e praticamente estivemos em comunicação todos os dias. Ele ligava-me para estar inteirado e saber como o país se encontrava.”

Anselmo Borges, padre e teólogo
“Era um homem que se movia à-vontade, tanto dentro da Igreja como na sociedade civil. Era um homem de fé, mas que, ao mesmo tempo, queria uma Igreja aberta ao mundo, pelo que não é por acaso que escolhe para tese de doutoramento os sinais dos tempos. Ele movia-se no meio do mundo como homem da Igreja que não era eclesiástico e movia-se como homem de fé dentro do mundo contemporâneo com todos os seus problemas.”

Padre Carreira das Neves
“Trabalhei com ele durante 40 anos. Fomos sempre amigos. Eu tenho 79 anos ele tinha uns meses menos. É uma tristeza muito grande, é um grande amigo que se vai. Era muito apagado mas muito avançado ao mesmo tempo. Um homem de fé, profundamente crente.”

Padre Vítor Feytor Pinto
“Eu considero que é uma perda enorme, não apenas para os cristãos, para os católicos, é uma perda enorme para o país inteiro, mas é também uma grande perda para a Igreja. Era de facto um cardeal da Igreja, mesmo em Roma, tinha uma importância enorme nas suas opiniões, nas suas tomadas de posição, na riqueza que era o seu contributo para o bem maior, da Igreja e do mundo.”

Xeque David Munir, líder da Comunidade Islâmica de Lisboa
“Era uma pessoa afável, amável. Alguém muito preocupado com a situação [do país]. A comunidade islâmica sempre teve um bom relacionamento com as outras igrejas e os responsáveis dessas igrejas, incluindo a Igreja Católica.”

Luciano Guerra, antigo reitor do Santuário de Fátima
Destaco, antes de mais, a sua inteligência e uma certa formação enciclopédica acerca, digamos, da problemática do mundo actual. Penso que foi no que ele mais se destacou. Foi uma pessoa que acompanhou, realmente, a evolução da vida humana, política, económica, social e religiosa nos nossos dias e tentou dar uma palavra sempre actual acerca dos acontecimentos.”

Fernando Soares Loja, presidente da Comissão da Liberdade Religiosa
“Fica-me a imagem de um homem que era corajoso na afirmação das suas convicções. Era um homem que acreditava, tinha valores, defendia esses valores e não pedia licença para expressar a sua opinião. Fazem-nos falta homens que digam o que pensam e, nesse aspecto, vou sentir falta dele. Foi um homem que tentou, não sei se sempre com sucesso, transportar a Igreja Católica para o século XXI.”

Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa
“Foi uma enorme surpresa a morte de D. José Policarpo, porque ainda na segunda-feira tinha tido oportunidade de estar com ele. Mesmo para os não católicos, penso que estaremos de acordo que a morte de D. José Policarpo representa uma perda, não só para a cultura religiosa, mas para a cultura em geral, porque ele era um gigante da cultura a todos os níveis. Foi sempre um homem da igreja aberto aos grandes temas que o concílio do Vaticano II deixou à igreja universal (...), mesmo que alguns pudessem ser incómodos, não perdendo nunca a oportunidade de lançar desafios para os trazer à ordem do dia.”

Sporting Clube de Portugal
“O Sporting Clube de Portugal recebeu com enorme pesar a notícia da morte do Cardeal-Patriarca Emérito de Lisboa, D. José Policarpo. À família de D. José Policarpo e à Igreja Católica o Sporting Clube de Portugal apresenta os seus sentidos pêsames.” O cardeal emérito era adepto do clube de Alvalade.

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