“A Igreja nunca mudará o essencial por nenhuma espécie de pressão”

Em temas polémicos como os do referendo sobre o aborto ou o casamento de pessoas do mesmo sexo, D. José Policarpo defendia os princípios católicos, mas sem recusar que o Estado pudesse ter uma posição diferente.

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Enric Vives-Rubio (arquivo)

“Metam na vossa cabeça uma coisa: a Igreja pode mudar e adaptar-se na descoberta das melhores maneiras de comunicar a sua mensagem. Mas nunca mudará o essencial da sua mensagem por nenhuma espécie de pressão”. A declaração foi feita por D. José Policarpo numa entrevista ao PÚBLICO em 2011, quando questionado sobre se a Igreja não deveria ter outra atitude de acolhimento em relação aos homossexuais que entendem não dever renunciar à sexualidade por causa da fé.

D. José Policarpo acrescentou: “Uma coisa é a solicitude para acolher toda a gente. Mas formas de pressão para que a Igreja mude ao ritmo da batuta da sociedade e da comunicação social, não contem com isso.”

Em temas polémicos como os do referendo sobre o aborto ou o casamento de pessoas do mesmo sexo, D. José Policarpo defendia os ideais católicos, mas não recusava que o Estado tivesse outra posição. Em 2010, por exemplo, acerca da possibilidade de um referendo sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, admitia ter "dificuldade em aceitar referendos sobre questões de consciência".

Ordenação de mulheres
Em 2011, deu uma entrevista ao boletim da Ordem dos Advogados, na qual dizia que "teologicamente não há nenhum obstáculo fundamental" à ordenação de mulheres. As afirmações, que contrariavam as posições dos últimos papas, desencadearam reacções em várias publicações estrangeiras.

Mas não foi a primeira vez que o defendeu. Em 1999 já o tinha dito: “As razões pelas quais a Igreja Católica não se abriu ainda a essa hipótese são sobretudo as da tradição apostólica, que foi sempre de homens".

Porém, depois da entrevista ao Boletim da Ordem, emitiu um esclarecimento, no qual contava ter recebido reacções, algumas de "indignação", que o obrigaram a "olhar para o tema com mais cuidado". E acabou por convidar os católicos a "acatarem o magistério" da Igreja – a interdição do sacerdócio feminino.

O preservativo
Tal como Bento XVI, também D. José Policarpo considerava que o preservativo não devia ser a "única maneira de combater a sida" e que até era um "meio falível". E sobre a visita do Papa Bento XVI aos Camarões e a Angola, em África, o cardeal-patriarca lamentou que os jornalistas tivessem reduzido a viagem à questão do preservativo, sublinhando uma vez mais que a Igreja Católica não muda de doutrina só porque é pressionada.

Já sobre escândalos de abusos sexuais, D. José Policarpo negou, numa entrevista ao PÚBLICO, que a Igreja os ocultasse, defendeu “a confidencialidade e a discrição” e lembrou que a Igreja também “tem uma ordem jurídica própria”.

 

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