Call centers já empregam quase 100 mil pessoas

O sector continua a crescer em Portugal, mas o elevado número de queixas continua a denunciar más condições de trabalho. Os sindicatos pedem alterações e os partidos dizem estar a trabalhar em mudanças.

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Instabilidade, assédio moral e autorização para ir à casa-de-banho são algumas denúncias de trabalhadores deste sector em crescimento Pedro Lima/NFACTOS

Os call centers empregam entre 80 e 100 mil pessoas e o número continua a crescer. Os dados são uma estimativa da Associação Portuguesa dos Contact Centers (APCC) que, no final do ano, terá os resultados de uma análise mais exaustiva ao sector, cita o Jornal de Notícias (JN). O número continua a subir: o call center da Altice de Oliveira do Hospital é o centro mais recente.

Os números do Instituto de Emprego e Formação Profissional mostram que é na capital que se concentra o maior número de empresas de trabalho temporário licenciadas: 101. O Norte conta 78, o Centro 14, a Madeira 9 e o Algarve e Alentejo 8, cada.

A profissão ocupa um peso cada vez maior, mas as más condições de trabalho são uma queixa recorrente, pelo que os partidos que suportam o Governo admitem mudar a lei.

Falta de progressão na carreira, rígida supervisão, pressão e instabilidade e assédio moral são algumas das queixas apresentadas pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Call Center, Danilo Moreira. Os representantes do sector pretendem, entre outras reivindicações, que a profissão seja considerada de desgaste rápido, querem limitar as razões para contratar em regime de trabalho temporário, que exista mais tempo entre chamadas e que a fiscalização seja mais exigente, escreve o diário.

O secretário-geral da Associação Portuguesa dos Contact Centers, Jorge Pires, admite que as histórias que denunciam as condições de trabalho sejam verdadeiras, mas garante não espelham todo o sector. Admite que o trabalho é gerido ao segundo, mas garante o tempo de descanso, pagamento acima do salário mínimo e acrescenta que a precariedade só corresponde a cerca de 5% a 10% do emprego. “As pessoas podem estar convencidas de que é tudo igual, mas não é”, garante.

Entre 2015 e 2016, a Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego recebeu dez queixas relativas a empresas de trabalho temporário e call centers, de um universo de 182 queixas. Das dez registadas, quatro referiam-se ao despedimento de mulheres grávidas, puérperas ou lactantes, e de um trabalhador em licença parental. As outras incidiam sobre a flexibilidade de horário de trabalho de trabalhadores com filhos até aos 12 anos ou com deficiência.

Em 2015, Autoridade para as Condições no Trabalho fez 431 inspecções que detectaram 17 situações irregulares. Até Junho de 2016, as 350 inspecções detectaram falhas como trabalho não declarado, organizações dos horários, salários e falta de seguro de acidentes de trabalho ou exames de saúde.

Entre as denúncias feitas pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Call Center e pela deputada do Bloco de Esquerda Isabel Pires, que trabalhou em call centers antes de chegar a São Bento, são destacados os três segundos entre desligar uma chamada e voltar a ligar, ou os três minutos de intervalo a cada hora de trabalho, só quando o supervisor ou o computador autorizar. Apesar de poderem passar anos no mesmo posto de trabalho, os funcionários estão sujeitos a contratos mensais, quinzenais, diários ou a tempo incerto. A formação inicial é prolongada para adiar a assinatura de contrato e evitar descontos à Segurança Social, diz Danilo Moreira. Jorge Pires responde que é real e intensa porque os call centers não têm interesse em estar sempre a mandar pessoas embora. As chamadas são gravadas para “avaliar, gerar pressão e encontrar falhas” dos trabalhadores, afirma Danilo Pereira, denunciando um forte assédio moral.

O Ministério do Trabalho não se quis pronunciar porque ainda decorrem os trabalhos do grupo de combate à precariedade, escreve o JN. Tiago Barbosa Ribeiro, do PS, e José Soeiro, do BE, dizem estar empenhados. Em Novembro, Barbosa Ribeiro quer ouvir os trabalhadores e Soeiro quer apertar a fiscalização. Também Rita Rato, do PCP, diz estar em conversações com o Governo.

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