COP29: Azerbaijão diz que petróleo e gás são “dádivas dos deuses”

Ilham Aliyev, Presidente do Azerbaijão (país que organiza a Cimeira do Clima), diz que vai defender os direitos dos países produtores de petróleo porque ter jazidas fósseis é uma “dádiva” divina.

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O Presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, discursa no Diálogo Climático de Petersberg, em Berlim Annegret Hilse / REUTERS
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O Azerbaijão, país anfitrião da próxima Cimeira do Clima (COP29), vai continuar a investir no aumento da produção de gás para satisfazer a procura da Europa, tendo o seu Presidente afirmado que a abundância de combustíveis fósseis é uma "dádiva dos deuses".

O Presidente Ilham Aliyev afirmou, durante uma conferência sobre a crise climática em Berlim, intitulada Diálogo climático de Petersberg, que o petróleo e o gás serão necessários durante "muitos mais anos". Aliyev lidera o país que vai acolher a COP29, em Bacu, capital do Azerbaijão, no final deste ano.

Aliyev destacou o acordo alcançado com a União Europeia para aumentar o fornecimento de gás natural, a fim de ajudar a compensar as carências da Rússia após a invasão da Ucrânia.

O Presidente enalteceu os planos climáticos do Azerbaijão, incluindo a ambição de ter 2 gigawatts de capacidade de energia verde em linha até 2027, que favorece um movimento do gás para o sistema eléctrico. Mas também teceu comentários sobre a necessidade contínua de investimento em combustíveis fósseis, mesmo poucos meses depois de o mundo ter concordado, durante a COP28, em reduzir o uso de fontes de energia de origem fóssil.

"Como chefe do país que é rico em combustíveis fósseis, é claro que vamos defender o direito de esses países a continuarem a investir e a produzir, porque o mundo precisa disso", afirmou num discurso na sexta-feira de manhã. "Ter jazidas de petróleo e gás não é culpa nossa. É uma dádiva dos deuses", frisou.

Aliyev afirmou que metade das exportações de gás natural do país se destinava à Europa e que o país forneceria 20 mil milhões de metros cúbicos de gás à região até 2027.

Os comentários contrastam com os do início da semana, segundo os quais a UE não estava disposta a financiar novos projectos e ainda não tinha dado garantias de que continuaria a comprar o seu gás no futuro. Este facto vem aumentar as dúvidas sobre se o país conseguirá duplicar as suas exportações para o bloco.

Ainda assim, as observações de Aliyev vão ao cerne de uma das principais tensões no período que antecede a COP29: como cumprir os compromissos de se afastar dos combustíveis fósseis, quando regiões como a Europa estão à procura de fornecimentos diversificados. Este ano, os países pretendem definir um novo objectivo colectivo para aumentar o financiamento da luta contra as alterações climáticas para os países mais pobres, a fim de contribuir para essa transição.

"Saímos do Dubai com um acordo para seguir a ciência e acelerar a transição para longe dos combustíveis fósseis nesta década, de acordo com o objectivo de limitar o aquecimento a 1,5 graus", disse Tina Stege, enviada para o clima das Ilhas Marshall. "Isso significa não expandir o petróleo e o gás e reduzir drasticamente a procura. Se os países acordam uma coisa na COP e depois vão para casa e implementam o oposto, que confiança podemos ter?", questionou Tina Stege.

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