PCP afirma-se oposição sem hesitações e avisa que Governo não terá a vida facilitada

Paulo Raimundo defendeu a “justeza” da moção de rejeição ao programa do Governo que o PCP vai apresentar esta semana no Parlamento. “Sabemos bem o que dali virá (...) passos atrás, retrocessos.prog”

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"É no caminho de Abril" que estão as respostas aos problemas do país, defendeu o líder do PCP. LUSA/TIAGO PETINGA
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O secretário-geral dos comunistas afirmou neste domingo que o PCP é "a oposição ao Governo" que não tem quaisquer dúvidas, hesitações nem ilusões e avisou que o executivo chefiado por Luís Montenegro não terá a vida facilitada. Uma assertividade que pode ser lida como um remoque ao PS que desde 10 de Março chama a si o estatuto de oposição mas ajudou o PSD a eleger Aguiar-Branco para a presidência do Parlamento.

Paulo Raimundo discursava no encerramento de uma sessão do PCP sobre o 25 de Abril, na Academia Almadense, em Almada, no distrito de Setúbal, em que apelou à mobilização popular para celebrar o 50.º aniversário da Revolução dos Cravos e sustentou que "é no caminho de Abril" que estão as respostas aos problemas do país.

"O novo Governo PSD-CDS, com os seus 17 ministros, os seus 41 secretários de Estado e toda a bateria de apoiantes bem posicionados em vários pontos relevantes da vida nacional, por mais que seja a sua tentativa de enganar o povo com esta ou aquela entrada a pezinhos de lã, com esta ou aquela medida avulsa, não vai ter a vida facilitada", avisou.

Em seguida, Paulo Raimundo defendeu a iniciativa do PCP de apresentar no Parlamento uma moção de rejeição ao programa do Governo, que se discute nas próximas quinta e sexta-feira: "Nós não precisamos de mais apresentações, o que conhecemos desde já confirma a justeza da nossa moção." A iniciativa dos comunistas está a dividir a esquerda e já se sabe que pelo menos o PS não irá inviabilizar o executivo de Luís Montenegro.

Segundo o secretário-geral do PCP, será certamente um programa "de passos atrás, de retrocessos, marcadamente contra-revolucionário", com "opções da política de direita reaccionária, do seu compromisso com os grandes grupos económicos". "Sabemos bem o que dali virá. Não temos a memória curta e o povo e os trabalhadores saberão dar firme resposta a todos os ataques de que sejam alvo e tomarão nas suas mãos o seu destino e a exigência das respostas concretas aos seus problemas", acrescentou.

Paulo Raimundo manifestou-se espantado por haver "quem tenha aparente expectativa do que deste Governo possa vir". "Da nossa parte, estamos aqui determinados, convictos. Não temos nenhuma dúvida e não alimentamos nenhuma ilusão. Nós somos a oposição ao Governo e à sua política e projecto reaccionário. E assim somos sem hesitação e desde o primeiro minuto", afirmou.

Paulo Raimundo não se referiu ao PS, mas o dirigente do Secretariado do Comité Central do PCP e ex-deputado Francisco Lopes, que discursou antes, criticou não só o actual posicionamento do maior partido da oposição como o anterior Governo chefiado por António Costa. "Há quem diga que se iniciou um novo ciclo", mas "não é assim. A política em curso com o Governo PSD/CDS, da AD actual, envolvido pela maioria de direita completada com o Chega e a Iniciativa Liberal, e contando com um prometido afago da convergência do PS, é a continuação e o aprofundamento da política de direita e antinacional ao serviço do grande capital que o Governo PS desenvolveu nestes anos de maioria absoluta."

No entender de Francisco Lopes, porém, "não se podem subestimar os objectivos daqueles que, aproveitando a correlação de forças institucional existente, querem dar novos passos significativos no processo contra-revolucionário".

"Brutal investida contra Abril"

Por outro lado, o antigo candidato presidencial criticou Marcelo Rebelo de Sousa por ter afirmado que, com os 50 anos do 25 de Abril, se fecha um ciclo de meio século da História portuguesa e se abre outro. Para Francisco Lopes, são "afirmações que deturpam a realidade" e que "têm um propósito claramente desmobilizador", porque "pretendem dar Abril por definitivamente derrotado, remeter para a História o que representa, removendo-o do tempo presente e futuro".

No início da sua intervenção, o secretário-geral do PCP manifestou-se contra "a reescrita da História" e alegou que "há uma brutal investida contra Abril", para "esconder e branquear a natureza terrorista do regime fascista e enaltecer quem conspirou e age contra a Revolução" e para tentar "apagar o papel ímpar do PCP na resistência à ditadura fascista".

"Dizem à boca cheia que Abril é de todos. Abril é, de facto, para todos, mas não é de todos. E não é seguramente de todos aqueles que o negam e que lhe dão todos os dias combate", considerou.

Paulo Raimundo apontou "a integração de Portugal na CEE, esse que já era um objectivo do fascismo, tal como o tinha sido o da fundação da NATO", como uma vitória da "política de direita" que permitiu "novos passos de retrocesso e de processo e de andamento contra-revolucionário". E sustentou que a Constituição aprovada após o 25 de Abril, "mesmo tão atacada e mutilada" continua a ser "o elemento-chave para melhorar as condições de vida dos trabalhadores e do povo".

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