Israel anuncia redução de presença militar no Sul de Gaza

Conversações para cessar-fogo recomeçam no Cairo, enquanto Israel se prepara para potencial retaliação iraniana a ataque em Damasco.

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Khan Younis, no Sul da Faixa de Gaza, onde o Exército israelita considerou ter completado a missão dos militares no terreno na cidade Ahmed Zakot/Reuters
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O Exército israelita anunciou este domingo que retirou mais militares do Sul da Faixa de Gaza, deixando apenas uma brigada no terreno, quando se assinalam seis meses sobre o ataque lançado pelo Hamas contra localidades do Sul de Israel.

Habitantes da cidade de Khan Younis disseram que as forças israelitas que estavam no centro da cidade se deslocaram para a periferia, enquanto o Exército de Israel declarou que tinha concluído a sua missão na cidade e que a força a operar no local tinha deixado o território “para recuperar e preparar-se para operações futuras”, segundo a agência AFP.

“Uma força significativa liderada pela 162.ª divisão e a Brigada Nahal continua a operar na Faixa de Gaza”, declarou ainda o comunicado do Exército.

O porta-voz da Casa Branca, John Kirby, foi questionado sobre o significado da mudança. “É difícil saber exactamente o que isto nos diz”, respondeu. “Pensamos que é uma questão de descanso e recuperação para militares que estão há quatro meses no terreno, e não indicativo de uma nova operação para estes militares.”

Já desde o início de Fevereiro que o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, diz que irá levar a cabo uma operação terrestre em Rafah, a cidade de fronteira com o Egipto em que estão a maioria das pessoas deslocadas (que serão cerca de 80% de 2,2 milhões de habitantes do território), levando a vários avisos internacionais sobre a necessidade de assegurar que a população civil poderia ser deslocada e protegida.

Neste domingo foi anunciado um plano de preparação para receber reservistas no Norte, caso seja necessário uma presença militar extensa face a ataques do Hezbollah, o movimento xiita do Líbano.

Isto acontece quando o Estado hebraico está em alerta para um possível ataque de retaliação do Irão a um bombardeamento israelita a um complexo diplomático iraniano em Damasco, a 1 de Abril, que matou um importante general iraniano da Força Al-Quds e outros seis militares (Israel não comentou, como é regra em operações no estrangeiro).

A retaliação poderia acontecer num ataque iraniano (ou de uma milícia que apoie, como o Hezbollah) a uma representação diplomática israelita, a alvos dentro do Estado hebraico, ou ainda a alvos americanos, segundo indicações dos serviços secretos citadas nos media dos dois países. Esperava-se que acontecesse a qualquer momento, dentro de, no máximo, poucos dias.

Ainda em relação à retirada de forças do Sul de Gaza, o analista israelita Omer Dostri prevê que esta acção possa ajudar nas conversações para um acordo de trégua, mas que, “depois da retirada dos residentes, dentro de dois meses haja uma acção em Rafah para destruir as últimas brigadas do Hamas”, declarou, citado pela Al Jazeera.

Uma organização de representante de reféns, o Fórum de Famílias de Reféns e Pessoas Desaparecidas, reagiu ao anúncio de retirada de forças da Faixa de Gaza dizendo que esta “prova que as IDF [Forças de Defesa de Israel] conseguiram muitos avanços militares para Israel e diminuíram as capacidades do Hamas”. Esta acção de retirada, concluiu o Fórum, “deveria ser o primeiro passo num acordo para libertação de reféns.”

Negociações no Cairo

Enquanto isso, o site Axios noticia que uma equipa negocial israelita está a caminho do Cairo com um mandato mais alargado para negociar um acordo que implicaria um cessar-fogo e libertação de reféns ainda na Faixa de Gaza.

Até agora, Israel tem dito que não considera cumprir a maior exigência do Hamas para libertar os reféns, que seria um cessar-fogo permanente em Gaza, já que este seria contraditório com o seu objectivo de “acabar com o Hamas”.

Não era claro o que implicava a decisão de participar nas negociações, uma vez que, antes, não era certo que Israel enviasse representantes ao Cairo, dizendo temer participar num “teatro político”.

Na véspera, Tami Arad, mulher de Ron Arad, que desapareceu em combate em 1986 no Líbano, fez uma publicação no Facebook criticando o Governo pela sua actuação em relação aos reféns. “O regresso dos reféns não depende de um remédio inovador, da ocorrência de um milagre, mas sim de decisões de seres humanos”, escreveu no sábado, citada pelo Haaretz. “Neste caso, da decisão de uma pessoa, e o nome dela não é Sinwar [Yahya Sinwar, o líder do Hamas em Gaza]. O primeiro-ministro de Israel é quem tem de tomar a decisão”, declarou Tami Arad.

Algumas famílias de reféns juntaram-se entretanto a protestos contra o Governo, pedindo agora abertamente a demissão de Netanyahu.

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