Telmo Correia: o ministro que assinou 300 despachos numa noite regressa agora como secretário de Estado

O dirigente do CDS-PP que tinha gosto em ser deputado, foi ministro, mas volta como secretário de Estado. Terá a seu lado, na Protecção Civil, o também advogado Paulo Simões Ribeiro.

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Telmo Correia numa intervenção na Assembleia da República na discussão da proposta do Orçamento para 2022 Nuno Ferreira Santos
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É o regresso às funções governativas de um político conhecido sobretudo pelo percurso de muitos anos na Assembleia da República, incluindo como líder parlamentar dos centristas. Telmo Correia, nomeado secretário de Estado da Administração Interna, no ministério tutelado por Margarida Blasco, sucede assim a Isabel Oneto, que desempenhava o cargo desde 2022.

O advogado e consultor de 64 anos volta agora ao Governo, não para ministro – cargo que ocupou nos curtos cinco meses de Governo de Santana Lopes –, mas para ser um dos dois secretários de Estado que o CDS-PP leva para este Governo. Foi ministro do Turismo entre Julho de 2004 e o início de 2005. Deputado entre 1999 e 2002, já depois de ter sido vice-presidente da Assembleia da República na X Legislatura.

Já estava arredado das lides governativas há três anos, quando foi notícia em 2008 por ter assinado cerca de 300 despachos na véspera da tomada de posse do Governo de José Sócrates, quando o Governo de que era ministro já estava em gestão há algumas semanas.

Um dos despachos assinados nessa madrugada, antes de deixar o gabinete, teria como consequência que o edifício do Casino de Lisboa não seria devolvido ao Estado mas passaria para a propriedade da empresa Estoril Sol, segundo uma manchete do semanário Expresso.

O ex-governante negou ter favorecido a Estoril Sol, escudando-se no argumento de que apenas assinara um despacho que homologava um parecer da Inspecção-Geral dos Jogos, que não dependera dele.

Nunca foi acusado, mas o seu nome esteve entre os três mencionados, enquanto ministros, juntamente com Nobre Guedes, que tutelava o Ambiente, e Costa Neves, à frente do ministério da Agricultura, como tendo autorizado o abate de sobreiros em Benavente para a construção de um empreendimento, no igualmente mediático caso Portucale.

Foi sobretudo no Parlamento que construiu o seu percurso, o político também conhecido por gostar de ser deputado. Liderou a bancada do CDS-PP em vários momentos, o mais recente dos quais, entre 2020 e 2022. Foi deputado e representante do CDS-PP na primeira comissão – dos Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias – já depois de ter integrado as comissões parlamentares, entre as quais a da Economia, Inovação e Obras Públicas e a dos Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas. E foi vice-presidente da Assembleia da República na X Legislatura.

Além de advogado e professor universitário, é um dos muitos políticos com a visibilidade que o espaço de comentador confere: além de colaborações com a imprensa escrita e Antena 1, foi comentador político da SIC-Notícias e da TVI. Como comentador desportivo na BTV e Sport-TV é, no painel de vários clubes, aquele que representa o Benfica, tendo também integrado a comissão de honra da recandidatura do então presidente do clube, Luís Filipe Vieira, em 2020.

Paulo Simões Ribeiro, o advogado chamado para a gestão do combate aos incêndios

No mesmo ministério, estará o também advogado Paulo Simões Ribeiro, de 55 anos, nomeado para a Secretaria de Estado da Protecção Civil que foi ocupada até aqui igualmente por uma mulher, Patrícia Gaspar, embora no currículo do novo governante não haja menção a experiência profissional numa área debaixo de grande escrutínio e atenção, sobretudo na época de incêndios.

Simões Ribeiro também não tem experiência governativa, mas acumula funções de destaque no partido, como membro da Comissão Política do PSD, presidente da distrital de Setúbal, e vereador da Câmara Municipal de Palmela, segundo a sua resumida biografia na página da Assembleia da República.

Ao longo dos anos, foi deputado em vários momentos. E quando não o era, integrou cargos de responsabilidade, ligados ao sector das águas e às empresas Águas de Portugal e EPAL. O direito em áreas como a água e o ambiente são algumas daquelas em que se especializou ao longo da sua carreira profissional, às quais também o Direito Contra-ordenacional, Penal, do Trabalho, entre outros, como o sector das autarquias.

Teve um pé no futebol, quando assumiu entre 2003 e 2006 a vice-presidência do Vitória Futebol Clube de Setúbal.

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