Telmo Correia deixa Parlamento

O líder parlamentar diz que “a democracia está suspensa no CDS”, que só poderia ser novamente deputado se houvesse congresso no CDS e que “o mentor” do presidente é Ribeiro e Castro.

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O deputado centrista assume estar de saída da Assembleia da República LUSA/JOSÉ COELHO

O divórcio está consumado: o líder parlamentar do CDS, que gosta de ser deputado, abandona o seu cargo no fim desta legislatura, caso não venha a existir congresso do partido, como foi decidido pela direcção. Em entrevista ao programa Interesse Público, que pode ver no site do PÚBLICO, Telmo Correia afirma que “nunca seria candidato com um presidente do partido que foge de um congresso” por “uma questão de dignidade pessoal”. Sobre querer ou não figurar nas listas de Francisco Rodrigues dos Santos, garante que o líder centrista “pode ficar completamente descansado no que a mim diz respeito”.

Telmo Correia diz que o mandato de Rodrigues dos Santos “foi completamente falhado”, por causa de uma “estratégia errada” e, “acima de tudo, [pela] questão da democracia interna do partido”. A única forma de o líder parlamentar ainda vir a ser candidato nas próximas legislativas seria a vitória de Nuno Melo, que apoia, num congresso que agora parece impossível – e se o novo líder desejasse contar com ele. Ainda coloca a hipótese de poder permanecer nas listas “em lugar cá para baixo” em caso de vitória de Rodrigues dos Santos, se fosse encontrado um “compromisso”, mas essa possibilidade parece remota.

Muito crítico do presidente do partido, Telmo Correia acusa Rodrigues dos Santos de “hipocrisia”, tanto nos elogios que fez a Cecília Meireles, quando a deputada decidiu abandonar a política, como a ele próprio, que já classificou de “grande tribuno”. “Tudo foi feito por parte do presidente do CDS para que a deputada Cecília Meireles abandonasse as suas funções e lhe cedesse o seu lugar no grupo parlamentar”, afirma. “Essa hipocrisia tem sido prática comum em relação a outros membros do grupo parlamentar, inclusivamente a mim próprio. Há um ponto que revolta. Não é possível que alguém que é presidente do partido tenha este tipo de comportamento”.

Telmo Correia diz que “liderar um partido não pode ser uma espécie de exercício de mitomania” e recusa que a má relação entre direcção e bancada parlamentar se deva ao grupo parlamentar. “Houve duas reuniões entre o presidente do partido e o grupo parlamentar e ambas a pedido do grupo parlamentar”, diz, insistindo que Francisco Rodrigues dos Santos esteve totalmente alheado do processo parlamentar do Orçamento do Estado. “Posso-lhe dizer que, relativamente ao Orçamento que leva ao fim da geringonça, não houve uma única frase, uma única palavra, uma indicação seja em relação a mim como líder parlamentar seja em relação à deputada que coordenou todo o processo [Cecília Meireles]”.

O líder parlamentar do CDS diz que o actual presidente tem “um mentor” e que esse mentor é o antigo presidente Ribeiro e Castro. “Se ler as entrevistas do mentor passado 15 dias percebe exactamente o que vai dizer o presidente do partido porque o que diz um antes é o que o outro vai reproduzir logo a seguir…”. Telmo Correia acusa Rodrigues dos Santos de ser “uma espécie de avatar do dr. Ribeiro e Castro": “O dr. Ribeiro e Castro conseguiu criar um avatar e esse avatar conduz a sua estratégia. Estamos a falar de uma espécie de vingança com mais de 15 anos de história”.

Ribeiro e Castro foi presidente do CDS entre 2005 e 2007, depois de Paulo Portas se demitir em 2005 e antes de regressar em 2007 e, tal como Francisco Rodrigues dos Santos, também acusava o grupo parlamentar de boicotar a direcção do partido. Agora, Telmo afirma que “para dar lições de moral”, Ribeiro e Castro não será “o ideal": “O dr. Ribeiro e Castro, quando o dr. Adriano Moreira foi eleito presidente do partido, desfiliou-se, escreveu um artigo muito famoso na altura em que chamava de tudo à direcção do dr. Adriano Moreira e depois esteve a colaborar com o Governo do prof. Cavaco Silva no pior momento do CDS, com o CDS em vias de desaparecimento, no auge do cavaquismo. Quando ouço o dr. Ribeiro e Castro dizer que há um plano de destruição do CDS a minha dúvida é se esse plano de destruição não tem, de facto, um mentor chamado José Ribeiro e Castro e um executor chamado Francisco Rodrigues dos Santos.

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