Rússia deve “parar de disparar” para se iniciarem conversas de paz, esclarece Vaticano

As declarações do Papa Francisco sobre o acordo de paz entre Rússia e Ucrânia causaram várias reacções. Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, clarificou as declarações esta terça-feira.

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Pietro Parolin esclareceu as declarações do Papa e refere que a Rússia deve parar com as ofensivas, caso desejem realizar acordo de paz Reuters/STRINGER
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Numa tentativa de desanuviar a situação e clarificar as observações do Papa Francisco, Pietro Parolin, o secretário de Estado do Vaticano, disse ao Corriere della Sera, esta terça-feira, que a primeira condição para quaisquer negociações é que a Rússia pare as suas investidas.

“Em primeiro lugar, deveriam ser os agressores a parar de disparar”, declarou. Referiu também que os dois lados têm de negociar lado a lado e que se devem “criar as condições para uma solução diplomática na busca de uma paz justa e duradoura”. Para o cardeal, a guerra foi desencadeada por escolhas humanas e deve ser resolvida de forma diplomática.

O Kremlin afirmou na segunda-feira, 11 de Março, que o apelo do Papa Francisco para que se realizem conversações para pôr fim à guerra na Ucrânia é “bastante compreensível”, mas o chefe da NATO disse que não é o momento para falar de “rendição”.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia convocou o embaixador do Vaticano, conhecido como núncio papal, para expressar o seu “desapontamento” com os comentários de Francisco, numa entrevista gravada no mês passado. Nessa entrevista, Francisco considerava que a Ucrânia deveria ter “a coragem da bandeira branca” para negociar o fim do conflito. O ministério ucraniano afirmou que os comentários do Papa “legalizam o direito do poder e encorajam um maior desrespeito pelas normas do direito internacional”.

Enquanto o Ocidente se debate com a forma de apoiar a Ucrânia e com a perspectiva de uma mudança brusca na política dos Estados Unidos, caso Donald Trump vença as eleições em Novembro, Putin ofereceu-se essencialmente para congelar o campo de batalha ao longo das actuais linhas da frente. Contudo, a Ucrânia rejeita esta proposta.

“É perfeitamente compreensível que ele [o Papa] tenha falado a favor das negociações”, declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, que disse aos jornalistas que o Presidente Vladimir Putin afirmou repetidamente que a Rússia estava aberta a conversações de paz. “Infelizmente, tanto as declarações do Papa como as repetidas declarações de outras partes, incluindo a nossa, foram recentemente objecto de recusas absolutamente duras”, rematou.

Derrota russa foi “o mais profundo equívoco”

Peskov disse que as esperanças ocidentais de infligir uma “derrota estratégica” à Rússia eram “o mais profundo equívoco”, acrescentando: “O curso dos acontecimentos, principalmente no campo de batalha, é a prova mais clara disso.” No entanto, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, disse que as negociações que preservariam a Ucrânia como uma nação soberana e independente só aconteceriam quando Putin percebesse que não venceria no campo de batalha.

“Se queremos uma solução negociada, pacífica e duradoura, a forma de lá chegar é dar apoio militar à Ucrânia”, disse à Reuters na sede da NATO, em Bruxelas. Julga também que não é altura para falar de uma bandeira branca: “Não é altura de falar em rendição por parte da Ucrânia. Isso seria uma tragédia para os ucranianos.” E acrescentou: “Será também perigoso para todos nós. Porque a lição aprendida em Moscovo é que quando usam a força militar, quando matam milhares de pessoas, quando invadem outro país, conseguem o que querem”.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia afirmou que o núncio, o arcebispo Visvaldas Kulbokas, foi informado de que o Papa “deverá enviar sinais à comunidade mundial sobre a necessidade de unir imediatamente forças para garantir a vitória do bem sobre o mal”.

De acordo como Volodymyr Zelensky, a Ucrânia quer a paz, mas de uma forma justa, baseada nos princípios da ONU e no seu próprio plano. No domingo, 10 de Março, o Presidente ucraniano disse que o pontífice estava a participar numa “mediação virtual”, enquanto o ministro dos Negócios Estrangeiros reforçou que Kiev nunca capitularia. Zelensky sublinhou que Putin não será convidado para a Cimeira da Paz, a realizar na Suíça.

O plano de paz de Zelensky exige a retirada das tropas russas, o regresso às fronteiras da Ucrânia de 1991 e um processo justo para responsabilizar a Rússia pelas suas acções. A Rússia diz que não pode realizar quaisquer conversações sob essa premissa.

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