Kremlin considera “compreensível” apelo do Papa à “bandeira branca” da Ucrânia

Em resposta, o secretário-geral da NATO afirmou ainda não ser hora de negociar uma eventual rendição por parte da Ucrânia.

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Papa Francisco apelou à negociação para o fim da guerra na Ucrânia, numa entrevista dada em Fevereiro EPA/ETTORE FERRARI
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O Kremlin considerou, esta segunda-feira, que o apelo do Papa a negociações para o fim da guerra na Ucrânia era "bastante compreensível". Por outro lado, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, afirmou que não está na hora de se falar sobre uma eventual "rendição".

O Papa Francisco disse, numa entrevista feita no mês passado, que a Ucrânia devia ter "a coragem da bandeira branca" para negociar o fim do conflito que já matou dezenas de milhares de pessoas.

Numa altura em que o Ocidente tenta perceber como ajudar a Ucrânia e é possível que haja uma grande mudança no panorama político norte-americano se Donald Trump ganhar as eleições presidenciais de Novembro, Putin ofereceu-se para, essencialmente, congelar o campo de batalha ao longo das actuais linhas da frente. Uma premissa que a Ucrânia rejeita.

"É bastante compreensível que ele [o Papa] tenha falado a favor da negociação", disse Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, aos jornalistas. Referiu ainda que Vladimir Putin já afirmou repetidamente que a Rússia estava aberta a negociações de paz: "Infelizmente, tanto as declarações do Papa como as repetidas declarações de outras partes, incluindo a nossa, têm recebido recusas absolutamente duras."

As ofertas de negociação de Moscovo têm implicado, invariavelmente, que Kiev desista dos territórios que a Rússia ocupou e anexou ao país, que compõem mais de um sexto do território ucraniano.

Peskov diz que a esperança do Ocidente em provocar uma "derrota estratégica" da Rússia é "o mais profundo equívoco", acrescentando: "O decorrer dos acontecimentos, principalmente no campo de batalha, é a mais clara prova disto."

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, disse que as negociações que preservariam a Ucrânia enquanto nação soberana e independente só chegariam quando Putin percebesse que ele não iria ganhar a batalha. "Se nós querermos uma solução de negociação pacífica e de longo prazo, a forma de lá chegar implica dar apoio militar à Ucrânia", afirmou à Reuters, em Bruxelas.

Questionado sobre se isto significava que não é hora de falar sobre bandeiras brancas, disse: "Não é altura de falar de uma rendição por parte dos ucranianos. Seria uma tragédia para eles."

Acrescentou ainda: "Também seria perigoso para todos nós. Porque a lição aprendida em Moscovo é de que quando eles usam a força militar, quando eles matam milhares de pessoas, quando eles invadem outro país, conseguem o que querem."

Este domingo, o governo ucraniano rejeitou o apelo de Francisco. O Presidente, Volodymyr Zelensky, disse que o pontífice estava a envolver-se numa "mediação virtual", enquanto o ministro dos Negócios estrangeiros ucraniano disse que Kiev nunca se renderia.

Zelensky, que assinou em 2022 um decreto que punha de parte negociações com Putin, disse na semana passada que a Rússia não vai ser convidada para a cimeira da paz que vai decorrer na Suíça.

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