Palcos da semana: das florestas ao Húmus, com Dan Daw e Susanne Kennedy

As estreias de Angela (a strange loop) e The Dan Daw Show marcam uma semana também pautada por Dibuk, Fuensanta, cinema indígena e literatura em nome de Brandão (e da liberdade).

literatura,teatro,cinema,culturaipsilon,danca,musica,
Fotogaleria
The Dan Daw Show, uma peça sobre “viver com vergonha enquanto se rebenta de orgulho” Hugo Glendinning
,Francisco Hyjno Kraho
Fotogaleria
O filme A Flor do Buriti dá o mote ao ciclo Câmara-Corpo - Mostra de Cinemas Indígenas DR
literatura,teatro,cinema,culturaipsilon,danca,musica,
Fotogaleria
Angela (a strange loop), de Susanne Kennedy Julian Röder
literatura,teatro,cinema,culturaipsilon,danca,musica,
Fotogaleria
Fuensanta vem a Lisboa actuar no seio de um quarteto DR
literatura,teatro,cinema,culturaipsilon,danca,musica,
Fotogaleria
Maria do Rosário Pedreira participa no festival literário Húmus Nuno Ferreira Santos
Ouça este artigo
00:00
03:51

Da vergonha ao orgulho

Poder na vulnerabilidade. A dominação como veículo de libertação. A resistência nos próprios termos – à opressão, ao capacitismo, ao preconceito, ao constrangimento – em nome da reivindicação de uma identidade. Os limites esticados até ao desconforto, por via de alusões sexuais mas também de um registo de intimidade capaz de desembocar em ternura e comoção. E ainda (aviso à plateia) eventuais gatilhos emocionais.

Tudo isto se joga em The Dan Daw Show, algo “diferente de tudo o que provavelmente vão ver”, registou a impressionada crítica do The Guardian ao vê-lo. Traz o nome do seu criador, o artista australiano Dan Daw, nascido com paralisia cerebral. Em dueto com Christopher Owen, e sob a direcção de Mark Maughan, deixa-nos espreitar o que é isso de “viver com vergonha enquanto se rebenta de orgulho”, explica na folha de sala.

O espectáculo, que esteve nomeado para os National Dance Awards 2021, é apresentado em Lisboa no remate do ciclo Corpos Políticos, que se debruça sobre O corpo fora da norma nas artes performativas, com curadoria de Diana Niepce. Depois, segue para o Porto.

O ciclo que veio da flor

A Flor do Buriti, da brasileira Renée Nader Messora e do português João Salaviza, tem andado a acumular prémios nos festivais internacionais (incluindo Cannes e Munique) e está prestes a chegar às salas lusas, a 21 de Março. Entretanto, é pretexto para todo um ciclo: Câmara-Corpo - Mostra de Cinemas Indígenas.

Levado ao Trindade pela Escola das Artes, em parceria com o Festival do Filme Documentário e Etnográfico de Belo Horizonte (Brasil), não só projecta esse filme (e convida os realizadores) como outros nove que retratam a vivência indígena, seja em tradições e espiritualidade, seja na memória de um massacre ou no impacto da desflorestação.

Influencer em loop

Uma distopia em torno de uma influencer acometida de uma estranha doença que a prende num loop vicioso e abissal. É com esta história que a encenadora alemã Susanne Kennedy se estreia em palcos portugueses.

Apresentada pela primeira vez na Bélgica, em Maio de 2023, e levada a vários festivais (de Viena a Amesterdão, passando por Avignon), Angela (a strange loop) é uma extensão do interesse de Kennedy em explorar o que a tecnologia causa à essência do que é humano – ou o que sobra quando se diluem as fronteiras entre o real e o virtual. Para compor essa visão, teve como cúmplice o artista visual Markus Selg.

Noite de Dibuk e Fuensanta

Do Teatro do Bairro Alto vem o convite para uma noite passada na companhia de “duas das mais interessantes vozes femininas da composição contemporânea”, ambas originárias da América do Sul e radicadas na Europa, para escutar em sessão dupla ou separadamente.

Primeiro, actua a brasileira Lea “Dibuk” Taragona, cantautora que vive no Porto e tem em mãos o novíssimo Antipássaro, o álbum que sucede à estreia discográfica com Casa Zero (2020). Depois, entra em palco a mexicana – baseada em Amesterdão – Fuensanta. À frente de um quarteto, a cantora, contrabaixista e compositora mostra o EP Principio del Fuego (2023), num passeio pela poesia, por vários géneros musicais e por ecos da floresta da sua infância.

Húmus de liberdade

Guimarães volta a folhear o festival literário Húmus, novamente sob inspiração da pena de Raul Brandão e desta vez em sintonia com os 50 anos do 25 de Abril. Maria do Rosário Pedreira, Rita Redshoes, Hugo Gonçalves e Valter Hugo Mãe estão entre os convocados para esta edição, que tanto passa por conversas e debates, como por apresentações de livros, intervenções em escolas, leituras ou actividades para crianças.

Em nome da liberdade que atravessa o programa, o Húmus também contempla O Que a Chama Iluminou, espectáculo multidisciplinar saído da pena de Afonso Cruz, e a exposição Livro, Espaço de Liberdade e Memória, que homenageia o livreiro e activista cultural da cidade Luís Caldas.

Sugerir correcção
Comentar