Israel terá estado por trás de sabotagem de gás no Irão

Notícia do diário norte-americano The New York Times mostra escalada no conflito entre os dois países.

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Gasoduto no Irão Reuters
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Duas operações de sabotagem a dois gasodutos dentro do Irão que aconteceram esta semana terão sido levadas a cabo por Israel, noticiou o diário norte-americano The New York Times com base em declarações de dois responsáveis ocidentais e um estratega militar iraniano próximos dos Guardas da Revolução, a força de elite do regime iraniano.

Esta acção marca, sublinha o jornal citando analistas militares, uma escalada no conflito nas sombras entre Israel e Irão: se Israel já tinha assassinado cientistas nucleares dentro e fora do Irão, ou levado a cabo ciberataques que afectaram bombas de gasolina, por exemplo, uma operação para destruir parte da infra-estrutura de energia necessária para fábricas e milhões de civis é uma acção de um âmbito diferente.

O Irão tinha afirmado que o plano, que atribuiu a um “inimigo” sem especificar qual, era “impedir totalmente o fluxo de gás no inverno para várias cidades e províncias”, disse o ministro do Petróleo, Javad Owji, na sexta-feira.

As explosões, dissera antes o ministro, foram actos de “sabotagem e ataques terroristas” com o objectivo de causar danos à infra-estrutura de energia do Irão e provocar descontentamento interno.

“Isto mostra como as redes clandestinas que operam no Irão alargaram a sua lista de alvos e avançaram para além apenas de instalações militares e nucleares", disse Shahin Modarres, analista de segurança com base em Roma e especializado no Médio Oriente. “É um grande desafio e um golpe na reputação dos serviços secretos e das agências de segurança do Irão.”

O estratega militar ligado aos Guardas da Revolução – que não tinha autorização para falar publicamente sobre os ataques, tal como as outras fontes citadas no artigo – afirmou que o Governo iraniano achava que Israel estava por detrás do ataque devido à sua complexidade e carácter. A acção exigiu muito provavelmente a ajuda de colaboradores dentro do Irão para saber onde e como atacar.

Os principais gasodutos no Irão são patrulhados por guardas em intervalos regulares, afirmou, pondo a hipótese de que os autores da acção de sabotagem soubessem os horários em que os locais não estavam a ser vigiados.

Não era claro que meios foram usados para provocar as explosões.

“Nunca vimos nada nesta escala e alcance”, afirmou Homayoun Falakshahi, analista de energia na Kpler, uma empresa de análise de energia com sede em Bruxelas, também ao diário norte-americano. “O impacto foi muito grande porque se trata de dois importantes gasodutos que ligam o Norte e o Sul.” Cada um dos gasodutos tem uma extensão de cerca de 1200 quilómetros.

Uma das fontes citadas pelo New York Times disse que os ataques tinham um grande valor simbólico, já que não era difícil ao Irão reparar os danos (embora levasse, provavelmente, alguns dias e obrigasse a interromper o fornecimento de gás). Mas exigiram conhecimento profundo da infra-estrutura iraniana e muita coordenação, já que os dois gasodutos foram atingidos em vários locais ao mesmo tempo.

A ideia seria, assim, mandar uma mensagem ao Irão sobre a capacidade de Israel causar danos na República Islâmica, quando movimentos apoiados por Teerão como os houthis do Iémen continuam a disparar contra navios no mar Vermelho (sendo atacados, por outro lado, pelos EUA) e quando forças israelitas e do libanês Hezbollah trocam disparos rotineiramente nas zonas junto à fronteira.

Há também ataques de forças apoiadas pelo Irão no Iraque e Síria a bases norte-americanas – num deles, numa base na Jordânia perto da fronteira com a Síria, morreram três soldados americanos – e ataques dos EUA contra estes movimentos.

O Irão sofreu ainda, em Janeiro, o pior atentado terrorista ocorrido após a fundação da Republica Islâmica em 1979, quando um duplo ataque suicida matou cerca de 100 pessoas numa cerimónia para assinalar o aniversário da morte de Qassem Soleimani, que foi um poderoso general responsável pela estratégia iraniana no Médio Oriente e foi morto pelos EUA num ataque em Bagdad em 2020.

Figuras do regime ainda apontaram, nessa altura, o dedo a Israel, mas o atentado foi reivindicado pelo Daesh (o autoproclamado Estado Islâmico).

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