Físico nuclear iraniano foi morto por uma metralhadora controlada por satélite

Irão responsabiliza Israel pela morte de Fakhrizadeh, assassinado no fim de Novembro numa auto-estrada perto de Teerão, e descreve uma operação sofisticada sem a presença de atacantes no local.

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O funeral do cientista nuclear Mohsen Fakhrizadeh foi há uma semana Reuters

Teerão já tinha afirmado que Mohsen Fakhrizadeh, assassinado a 27 de Novembro quando viajava de carro, foi vítima de uma operação “complexa” com recurso a meios “completamente novos”. Agora, o comandante adjunto dos Guardas da Revolução diz que o assassínio do principal físico nuclear iraniano foi realizado remotamente com uma metralhadora equipada com “um sistema inteligente controlado por satélite”.

“Não havia terroristas presentes no terreno”, diz Ali Fadavi, citado pelas agências de notícias Mehr e Tasnim. A metralhadora, que “estava montada numa carrinha de caixa aberta e era controlada por um satélite” fez zoom no rosto do cientista e disparou 13 balas, numa operação que envolveu “inteligência artificial e reconhecimento facial”.

A arma “concentrou-se simplesmente no rosto do mártir Fakhrizadeh, de tal forma que a sua mulher, que se encontrava apenas a 25 centímetros dele, no mesmo carro, não foi atingida por nenhuma bala”. Segundo o responsável dos Guardas da Revolução, o guarda-costas de Fakhrizadeh foi atingido por quatro tiros “quando se atirou sobre ele” para o proteger.

Fadavi não refere se houve outras vítimas – sabe-se que Fakhrizadeh circulava numa auto-estrada em Absard, a 70 Km de Teerão, com uma equipa de segurança composta por onze membros dos Guardas da Revolução.

Logo depois do assassínio, testemunhas ouvidas pela televisão iraniana referiram a explosão de um camião e um grupo de homens que teria disparado contra o carro do físico, ele próprio membro dos Guardas da Revolução. Mas já a semana passada Ali Shamkhani, secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional, disse que Fakhrizadeh foi morto através de “engenhos electrónicos” sem atacantes no terreno.

As autoridades iranianas também dizem ter “pistas” sobre os assassinos, mas não noticiaram ainda qualquer detenção.

Sem que ninguém tenha reivindicado o ataque, o Irão começou por acusar Israel, mas também já apontou o dedo aos Mujahedin e-Khalq (Combatentes do Povo), principal grupo de oposição armada ao regime iraniano, que teriam “tido uma participação” no assassínio.

Peritos ouvidos pela Reuters a semana passada afirmam que esta morte expôs falhas de segurança que sugerem a infiltração das forças de segurança iranianas – a confirmar-se, isto significaria que a República Islâmica está vulnerável a mais ataques.

Durante muitos anos Fakhrizadeh foi considerado pelos serviços secretos ocidentais como o principal responsável pel tentativa de Teerão para desenvolver uma arma nuclear, um projecto que a República Islâmica abandonou em parte no início dos anos 2000. Mas já em 2008 foi alvo de sanções por parte dos Estados Unidos e a Mossad, que foi associada ao assassínio de vários cientistas iranianos, continuava a considerá-lo um dos seus principais alvos.

O físico, que era professor numa universidade de Teerão, é o quinto cientista nuclear iraniano alvo de ataques dentro do Irão nos últimos dez anos, e o segundo alto responsável do regime assassinado em 2020. Logo nos primeiros dias de Janeiro, Qassem Soleimani, comandante da Força Quds, unidade de elite dos Guardas da Revolução, foi morto num ataque em Bagdad ordenado por Donald Trump.

Depois da sua morte, Fakhrizadeh foi apresentado pelo ministro da Defesa, Amir Hatami, como seu vice-ministro e chefe da Organização de Investigação e Inovação em Defesa. Segundo o ministro, o cientista “geria a defensa antiatómica” iraniana.

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