Depois de Macedo de Cavaleiros, agricultores açorianos fazem marcha lenta com 100 veículos

Mais de 100 veículos agrícolas estão numa marcha lenta em São Miguel no terceiro protesto de agricultores do dia. Manifestantes em Macedo de Cavaleiros desmobilizaram para se reunirem com a ministra.

Foto
Pelas 8h já estavam concentrados cerca de 300 agricultores num protesto em Macedo de Cavaleiros LUSA/JOSÉ COELHO
Ouça este artigo
00:00
07:04

Mais de uma centena de tractores, carrinhas e automóveis conduzidos por agricultores estão esta quinta-feira numa marcha lenta em Ponta Delgada, Lagoa e Ribeira Grande destinada a exigir soluções para os problemas que o sector atravessa na região. O protesto é o terceiro em território nacional esta quinta-feira, depois de as duas manifestações em Macedo de Cavaleiros e Vila Flor terem sido desmobilizados ao fim de uma hora de bloqueio de estradas.

A iniciativa em São Miguel começou por volta das 10h30 locais (11h30 em Portugal Continental e Madeira) junto à sede da Associação de Jovens Agricultores Micaelenses, nos Arrifes (Ponta Delgada) e terminará, previsivelmente, pelas 13h30 de Lisboa na Associação Agrícola de São Miguel (em Santana, Rabo de Peixe, concelho da Ribeira Grande), onde os agricultores tencionam entregar o manifesto com as suas reivindicações.

Os manifestantes colocaram nos veículos faixas e cartazes em que se pode ler: "União pela lavoura, preço justo para o leite", "2023 perdemos 30 milhões de euros. 2024?", "Exigimos soluções para a agricultura", "Queremos que valorizem o nosso produto de excelente qualidade" e "Menos Segurança Social, menos juros, menos impostos".

É mais um protesto num dia em que os agricultores bloquearam estradas em Macedo de Cavaleiros, no distrito de Bragança durante a manhã. O protesto terminou quando o Governo confirmou uma reunião esta quinta-feira e na segunda-feira com a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, disse fonte da organização. Após este anúncio, a organização pediu aos manifestantes que desmobilizassem “ordeiramente” e “seguindo as instruções das autoridades”.

"Vamos reunir-nos com ela [referindo-se à ministra da Agricultura] hoje ao meio-dia na Câmara de Macedo [de Cavaleiros] via online e na segunda-feira à tarde temos reunião [presencial] marcada para as 16h também na Câmara de Macedo”, disse Armindo Lopes, da organização deste protesto.

Dirigindo-se às dezenas de agricultores que, desde as primeiras horas da manhã, estiveram concentrados com máquinas agrícolas e tractores na A4, Armindo Lopes anunciou, cerca das 10h15, que o chefe de gabinete de Maria do Céu Antunes tinha entrado em contacto para marcar as reuniões.

“O chefe de gabinete queria que a reunião fosse em Mirandela, mas nós começámos isto em Macedo [de Cavaleiros], por isso vamos terminar em Macedo”, assinalou. Perante a marcação da reunião, a organização decidiu pela desmobilização do protesto.

“Vamos desmobilizar. Pedimos que todos de forma ordeira desmobilizem. A manifestação correu bem. Viemos sozinhos e conseguimos uma reunião com a ministra”, disse Armindo Lopes. Em resposta, os agricultores aplaudiram e ouviram-se frases como: “A vitória é nossa.”

Agricultores açorianos em marcha lenta

No caso dos Açores, o protesto é organizado pelo Movimento Cívico de Agricultores de São Miguel, cujo porta-voz, Fernando Mota, disse à agência Lusa que o itinerário por Ponta Delgada, Lagoa e Ribeira Grande, na ilha de São Miguel, será efectuado "sempre por estradas regionais".

Fernando Mota referiu que a iniciativa junta mais de 100 veículos de agricultores, entre tractores, carrinhas e carros, que reivindicam soluções para o seu descontentamento.

O preço do litro do leite pago ao produtor "é sempre a descer" e os custos com as explorações estão "sempre a subir", disseram à agência Lusa alguns agricultores presentes no protesto, que, no início, ficou marcado por muita chuva. "Os rendimentos são cada vez menos. Os produtores quase que pagam para trabalhar. As coisas estão muito difíceis", referiu aos jornalistas o agricultor Rui Oliveira.

Lucinda Tavares, mãe de um jovem agricultor, declarou também que os lavradores são "mal pagos", principalmente no que diz respeito ao preço do leite na produção. "Temos que ser mais valorizados pelos produtos que produzimos", disse outro agricultor, avisando que os protestos podem continuar se não forem tomadas medidas que ajudem quem vive da lavoura.

No caderno reivindicativo, a que a Lusa teve acesso, os agricultores de São Miguel pedem, entre outras medidas, a prorrogação do prazo das candidaturas "no apoio directo aos jovens para diminuir os sobrecustos de pagamentos à Segurança Social", "no apoio directo ao sobrecusto do aumento das taxas de juro" e no apoio à transição digital e inovação previstos no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), para a inclusão de sistemas automáticos de alimentação animal e ordenha.

A descida do imposto sobre os produtos petrolíferos do gasóleo agrícola, a redução do preço das rações, e a aplicação de um sistema Simplex no licenciamento às explorações e na autorização de corte de matas são outras das exigências.

Agricultores no continente querem garantias sobre pagamento de apoios

Dezenas de agricultores estiveram esta quinta-feira concentrados no nó da Amendoeira, em Macedo de Cavaleiros, Bragança, obrigando ao corte da A4 e do IP2. A Guarda Nacional Republicana, que acompanhou o protesto, vedou o acesso à A4 nos dois sentidos e ao IP2. Também a Estrada Nacional 15 (EN15) esteve condicionada junto ao nós de acesso, devido à presença de máquinas agrícolas.

Na origem dos protestos dos agricultores estão cortes nos apoios aos trabalhadores da área e as críticas que têm tecido às políticas nacionais e da União Europeia que, argumentam, estão a tornar menos rentáveis os negócios. Os protestos desta quinta-feira visam exigir garantias de que os apoios à agricultura chegarão ainda este mês.

De acordo com Luís Reis, da organização deste protesto, pelas 8h já estavam concentrados cerca de 300 agricultores, de Macedo de Cavaleiros, Mirandela, Alfândega da Fé, Vimioso, Bragança, Vinhais, Mogadouro e Valpaços, no distrito de Vila Real.

“Fechámos a A4 e, enquanto não tivermos uma resposta concreta, não vamos sair daqui. Só vamos sair daqui se tivermos uma resposta concreta. Queremos que ela [referindo-se à ministra da Agricultura] diga por escrito e bem sublinhado que os apoios de 2023 serão pagos até ao final do mês de Fevereiro”, disse Luís Reis.

O organizador do protesto, que é produtor de gado, rejeitou a possibilidade de os apoios serem pagos “apenas em Junho”, uma data que disse constar nos comunicados da tutela. “Queremos que hoje fique explícito que os pagamentos são em Fevereiro”, frisou. Segundo Luís Reis, que esperava a chegada de centenas de agricultores ao local do protesto, muitas pessoas “em situação muito difícil já estão a pedir empréstimos” para conseguir sobreviver no dia-a-dia.

“Somos muitos e devem-nos muito dinheiro. Estamos a dever a muitas pessoas. Há quem esteja a fazer empréstimos. Se a ministra dá linhas de crédito, então que faça os pagamentos”, concluiu.

Também desde as 7h decorre outro protesto, agendado para o distrito, junto ao nó de Lodões, Vila Flor, que junta agricultores ainda do concelho de Carrazeda de Ansiães. Segundo informações recolhidas junta da GNR, as máquinas agrícolas circulam na nacional contígua às vias principais e tudo decorre com normalidade.

Neste segundo protesto, e de acordo com a TSF, os fruticultores de Carrazeda de Ansiães reivindicam apoios à instalação de canhões antigranizo nos pomares. Este sistema, que já existe em pomares de Armamar e Moimenta da Beira,​ envia ondas de choque com uma cadência de segundos que reduz o granizo nas nuvens a gotas de água.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários