Reunião entre agricultores e ministra foi positiva, mas “respostas” só na próxima semana

Já se circula com normalidade na Ponte Vasco da Gama. Protestos continuam em Coimbra, Alcochete, Vila Franca de Xira e noutros pontos do país.

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Protesto dos agricultores no Montijo LUSA/RUI MINDERICO
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Protesto dos agricultores em Coimbra LUSA/PAULO NOVAIS
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Protesto dos agricultores em Coimbra LUSA/PAULO NOVAIS
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Protesto dos agricultores no Montijo LUSA/RUI MINDERICO
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Alcochete LUSA/RUI MINDERICO
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Protestos dos agricultores cortaram circulação em várias estradas do país nesta quinta-feira LUSA/NUNO VEIGA
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A reunião entre agricultores e a ministra da Agricultura foi “positiva” e Maria do Céu Antunes comprometeu-se a levar “respostas” para os problemas da classe a uma reunião que deve decorrer já na próxima semana. José Estêvão, que representou o Movimento Cívico de Agricultores no encontro que aconteceu esta sexta-feira em Alcochete, em que também esteve presente um secretário de Estado do Ministério da Agricultura, disse que foi debatida uma série de temas pertinentes, apesar de a reunião “pecar por tardia”.

Foram discutidos vários pontos relacionados com o uso de água, medidas agro-ambientais e factores de produção e os seus custos. “Fizemos valer as nossas preocupações e mostrámos o que nos está a pôr numa situação débil. Vamos esperar pelas respostas da próxima semana”, disse. “Não estávamos à espera de posições imediatas, mas tivemos que tomar estas decisões [recorrer a protestos] porque até aqui não estávamos a ser ouvidos...”

Questionado sobre se esta garantia de possíveis respostas na próxima semana (não há ainda um dia marcado) será suficiente para suspender os protestos durante alguns dias, José Estêvão disse que sim, mas esse será um tema debatido entre todos os agricultores.

“A decisão caberá a todos os agricultores. Isto nasceu nas redes sociais, agricultores que se começaram a juntar para debater o tema da asfixia que há na agricultura, e disso surgiu este movimento, foi uma coisa espontânea”, explicou ainda, sublinhando que os agricultores não quiserem prejudicar a sociedade civil. “Foi tudo feito de forma ordeira e para chamar a atenção, para que a população tenha noção de que este é um sector fulcral no país.”

À semelhança do que aconteceu na quinta-feira, também esta sexta-feira está a ser marcada por vários protestos dos agricultores, que se juntam, com os seus tractores, em pontos-chaves de norte a sul do país. Na quinta-feira, paralisaram importantes vias, incluindo fronteiras, com alguns dos movimentos a começarem a desmobilizar à noite, após terem recebido garantias sobre os apoios anunciados pelo Governo. O protesto foi organizado pelo Movimento Civil de Agricultores e juntou-se às manifestações que têm ocorrido noutros pontos da Europa.

Na manhã desta sexta-feira, por volta das 6h, os acessos à ponte que liga Alcochete a Lisboa estiveram condicionados no sentido sul-norte devido a uma concentração de agricultores nas zonas de Alcochete, Montijo e Moita, disse à Lusa fonte da Guarda Nacional Republicana (GNR). Horas depois, o capitão João Lourenço, do gabinete de Relações Públicas da GNR, garantiu à Lusa que “não há cortes nem condicionamentos quer na Ponte Vasco da Gama, quer nos seus acessos”. Apenas resistem constrangimentos na A33, que liga o Monte da Caparica a Alcochete.

Segundo Daniel Pacífico, um dos promotores, estão envolvidos no protesto entre 150 e 200 veículos e o mesmo número de agricultores. “Vamos estar divididos em três grupos. O primeiro vai circular em marcha lenta entre a Rotunda da Lançada e a Rotunda da Moita. O segundo grupo entre a Rotunda das Portas da Cidade do Montijo e a Rotunda da Lançada e o terceiro grupo vai em marcha lenta do IC32, da Rotunda do Entroncamento de Alcochete à Rotunda do Montijo”, explicou, antes do arranque da iniciativa, à CMTV.

Marcha lenta e buzinões em Coimbra

Mais acima, em Coimbra, os agricultores concentrados desde quinta-feira adoptaram entretanto novas formas de protesto, designadamente buzinões e marcha lenta na Baixa da cidade.

“Só saímos daqui quando tivermos uma resposta às nossas reivindicações”, disse à agência Lusa um dos dinamizadores da manifestação, Carlos Plácido. O agricultor, que tem explorações agrícolas nos concelhos de Coimbra e Montemor-o-Velho, no Baixo Mondego, adiantou que se mantiveram durante a noite na Avenida de Fernão de Magalhães cerca de 250 tractores e outros veículos.

Às 8h, os manifestantes efectuaram um buzinão e prometeram repetir de hora a hora o mesmo ruído de protesto. A circulação naquela avenida está cortada entre a Rotunda da Rodoviária e a Rotunda da Cindazunda nos dois sentidos, sendo apenas possível a circulação para veículos de emergência e de socorro.

Mais de 100 tractores desfilam em Estarreja

Mais a norte, mais de 100 tractores e máquinas agrícolas iniciaram, por volta das 11h, uma marcha lenta na Estrada Nacional (EN) n.º 109, em Estarreja, no distrito de Aveiro.

Organizado pela União de Agricultores e Baldios do Distrito de Aveiro (UABDA), os agricultores que participam no protesto dizem que os apoios prometidos pelo Governo não são suficientes para resolver os problemas do sector que dizem estar a viver uma situação crítica, como referiu Silvino Tomás, de 78 anos. “Os factores de produção têm vindo a subir de tal ordem que não há ninguém que consiga viver na agricultura. Tenho três filhos e nenhum deles trabalha na agricultura. Se fosse aliciante, eles não saíam de cá. Alguns deles andam a ganhar o ordenado mínimo e eu tenho uma agricultura razoavelmente mecanizada. Antigamente, a agricultura era uma profissão como outra qualquer. Eu orgulhava-me de ser agricultor. Hoje tenho vergonha”, disse este produtor hortícola.

Em declarações à Lusa, o produtor de leite Carlos Pinto, de 37 anos de idade, disse que este protesto serve para exigir um preço justo à produção. “Não nos interessam linhas de crédito nem subsídios. Queremos só um preço justo à produção. Só vamos sair daqui quando a ministra nos der resposta a isso”, afirmou.

Detentor de uma exploração com cerca de 200 animais, este produtor de leite diz que a maior parte dos factores de produção está actualmente ao dobro dos preços, enquanto o leite subiu apenas 10 cêntimos. “A palha, que comprávamos a sete/oito cêntimos, compramos a 22 cêntimos. A silagem do milho estava a 4/5 cêntimos, está a 10/12 cêntimos”, exemplificou.

Constrangimentos em Vila Franca de Xira e Setúbal

Esta manhã, a circulação rodoviária na Ponte do Marechal Carmona, em Vila Franca de Xira, e na Recta do Cabo está também com constrangimentos devido a uma marcha lenta de agricultores, disseram à Lusa fontes da PSP e da GNR.

“A informação de que dispomos é que está condicionada. As forças de segurança estão a coordenar uma marcha lenta de tractores na Ponte de Vila Franca de Xira [que faz a ligação entre este concelho do distrito de Lisboa e o concelho de Benavente, no distrito de Santarém]”, disse.

Entretanto, fonte da Guarda Nacional Republicana (GNR) disse à Lusa que a Recta do Cabo (que liga a freguesia de Porto Alto, no concelho de Benavente, à Ponte do Marechal Carmona) está também com constrangimentos devido à marcha lenta dos agricultores.

Em Lamego, tractores cortam acesso à A24

Em Lamego, a concentração de agricultores só começou por volta das 12h. Cerca de 120 veículos concentraram-se junto ao nó da A24 para cortar o acesso à auto-estrada e ali permanecerão até terem respostas aos “graves problemas” da fruticultura, disse à agência Lusa um dos manifestantes. “Não temos as mesmas preocupações que os agricultores na maioria do país, mas temos problemas muito graves na fruticultura aqui da zona e que não existem noutras regiões”, disse João Calhau.

Entre os problemas mais graves, enumerou João Calhau, estão os prejuízos causados pela geada e pelo granizo e também a questão do seguro de colheitas. “Do seguro, que pagamos, cerca de 45% já fica lá, porque é 20% de franquia, 20% de prémio e 5% de áreas não cobertas, ou seja, de um seguro que teoricamente seria benéfico, não é. Pior ainda é o atraso no pagamento, que, em alguns casos, é de sete meses”, contou.

“Ninguém vai sair da luta”

Falha de comunicação e a presença de “infiltrados” terão desmobilizado os agricultores que ontem se concentraram em Vilar Formoso e Caia.

Apesar de a mobilização se revelar “muito dispendiosa e cansativa” para cada um dos participantes no bloqueio da fronteira em Vila Verde de Ficalho, “ninguém saiu nem vai sair da luta”, garantiu ao PÚBLICO Diogo Morgado, um dos organizadores da manifestação. Para este agricultor de Serpa, a desmobilização dos agricultores que se concentraram em Vilar Formoso e do Caia deveu-se a “falhas de comunicação e da acção de gente infiltrada que enganou os manifestantes”.

“Neste momento não temos nada palpável, nem qualquer informação que nos dê garantias de que as nossas reivindicações foram satisfeitas”, acentua Diogo Morgado, lamentando a desmobilização dos agricultores nos locais já referidos. “Aqui, em Ficalho, continuamos todos juntos e a reclamar pela satisfação do caderno reivindicativo que nos trouxe à rua” e a presença do secretário de Estado que está junto da ministra da Agricultura para nos esclarecer, já que o anúncio feito ontem, ao final do dia, de que o Ministério da Agricultura ia acelerar os pagamentos aos agricultores “não é garantia de coisa nenhuma” salientou.

A GNR de Beja confirma que os agricultores continuam a bloquear a EN 260 em Ficalho e a EM 520 em São Marcos, concelho de Serpa, que dá acesso à ponte sobre o rio Chança e à povoação espanhola de Paymogo. O trânsito de viaturas pesadas foi desviado para Barrancos, Sobral da Adiça (a norte) e Pomarão (a sul).

Pacote de ajuda não parou protestos

Na quarta-feira, o Governo avançou com um pacote de ajuda aos agricultores, destinado a mitigar o impacto provocado pela seca e a reforçar o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC), que não travou os protestos agendados para esta sexta-feira, de norte a sul do país.

Segundo a informação disponibilizada quinta-feira à Lusa, a maior parte das medidas que integra o pacote de apoio entra em vigor ainda este mês, com excepção das que estão dependentes de “luz verde” de Bruxelas.

No contexto europeu, a Comissão Europeia vai preparar com a presidência semestral belga do Conselho da UE uma proposta para a redução de encargos administrativos dos agricultores, que será debatida pelos ministros da Agricultura dos 27 Estados-membros do bloco europeu no próximo dia 26 de Fevereiro. Com Lusa

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