Máscaras regressam aos hospitais espanhóis por causa da gripe. E em Portugal?

Regiões espanholas anunciaram obrigatoriedade das máscaras em estabelecimentos de saúde após aumento de casos de gripe e covid-19. DGS recomenda a utilização para doentes com infecções respiratórias.

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Ministério da Saúde espanhol vai reintroduzir a utilização da máscara em todos os hospitais do país EPA/Enric Fontcuberta
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Foi um dos últimos países a retirar a medida e vai ser um dos primeiros a voltar a implementá-la: as máscaras de protecção individual estão de volta aos hospitais e outros estabelecimentos de saúde em Espanha.

A medida começou por estar circunscrita a cinco regiões espanholas, que anunciaram que iam reintroduzir a obrigatoriedade de utilização das máscaras em estabelecimentos de saúde após o aumento dos casos de gripe e covid-19 durante a época festiva, um cenário que se repete em Portugal.

Em Valência, por exemplo, os hospitais pediram aos pacientes com sintomas, familiares e amigos que estejam nas salas de espera, bem como aos profissionais médicos, que utilizem máscaras nos próximos tempos.

Pouco depois, a ministra espanhola da Saúde, Mónica García, anunciou que o Governo vai propor a generalização da medida a todo o país já na próxima segunda-feira, numa reunião com as autoridades regionais de saúde que terá como objectivo discutir o ponto de situação da circulação dos vírus respiratórios pelo território espanhol. Nos Estados Unidos, a tendência é semelhante: pelo menos quatro estados restabeleceram a obrigatoriedade do uso de máscara por causa do aumento de casos de covid-19, de gripe sazonal e de outras doenças respiratórias.

Por cá, a Direcção-Geral de Saúde (DGS) recomenda o uso de máscara para os doentes com infecções respiratórias sempre que estejam em contacto ou próximo de outras pessoas, bem como a adopção do teletrabalho, nomeadamente nos primeiros cinco dias de sintomas ou após o diagnóstico de covid-19.

Em entrevista à RTP na noite de sexta-feira, a directora-geral da Saúde, Rita Sá Machado, relembrou que a DGS tem apelado à vacinação, lembrando que a campanha desta temporada gripal ainda não terminou, mas não optou por tornar obrigatório o uso de máscara nos serviços de saúde.

Na opinião de Tiago Correia, professor de Saúde Internacional, o país não "aprendeu nada com as lições da covid-19" e a utilização de máscara já deveria ser mais do que recomendada nos estabelecimentos de saúde, já que o país está "há vários dias com uma mortalidade em excesso".

No entanto, o especialista afirma que é difícil dizer se a utilização de máscara deve ser obrigatória ou apenas recomendada, visto não existir "enquadramento jurídico para a questão". "Não temos uma lei que enquadre preocupações e emergências de saúde pública. Há um vazio na lei porque a lei de base da protecção civil que foi utilizada para as situações de alerta e de contingência não tem a menor adequação para as situações de saúde pública", diz.

Para o investigador do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa (IHMT), a introdução de qualquer medida obrigatória — seja a vacinação, as máscaras ou o teletrabalho —​ deveria estar enquadrada na lei.

"Uma medida obrigatória e de restrições em certos contextos representa um ataque às liberdades individuais, sim ou não? Se sim, justifica ser implementada para efeitos de protecção da população? É tão simples quanto isto, é uma questão jurídica. Agora, se me pergunta se é recomendável utilizar máscaras em contexto de saúde, obviamente que digo que sim", aponta Tiago Correia.

De acordo com o último boletim de vigilância epidemiológica da gripe e outros vírus respiratórios, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa), os hospitais já notificaram mais de 38 mil casos de infecção respiratória e mais de seis mil casos de gripe nesta temporada de doenças de Inverno e a mortalidade por todas as causas está acima do esperado em pessoas com mais de 45 anos.

Na última semana de 2023, e apenas no universo de dados constante desse boletim, foram identificados 1472 casos positivos para o vírus da gripe, dos quais 1372 do tipo A e 49 do tipo B. Foram ainda detectados, desde Outubro, 118 casos de co-infecção pelo vírus da gripe e SARS-CoV-2, que provoca a covid-19.

Foram reportados 36 casos de gripe pelas 21 unidades de cuidados intensivos (UCI) que enviaram informação ao Insa. Dos doentes, 32 apresentavam doença crónica e 33 tinham recomendação para vacinação contra a gripe sazonal, mas apenas nove estavam vacinados (em seis casos, a informação é desconhecida).

Notícia actualizada às 13h30 do dia 6 de Janeiro, com declarações da directora-geral da Saúde, Rita Sá Machado

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