Associação José Afonso leva as Batukadeiras Bandeirinhas da Boba ao Auditório Camões

O concerto deste grupo de mulheres cabo-verdianas, esta quinta-feira, é o segundo capítulo do ciclo Venham Mais 6, a decorrer até Maio em Lisboa. Segue-se o humorista Diogo Faro, em Fevereiro.

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As Batukadeiras Bandeirinhas da Boba estão sediadas no Casal de São Brás, na Amadora DR
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No Natal que acabou de passar, cumpriram-se 50 anos desde o lançamento de Venham mais Cinco (1973), um dos álbuns – e uma das canções – incontornáveis do percurso de José Afonso, o último editado antes da Revolução do 25 de Abril, também ela prestes a assinalar cinco décadas.

À boleia dessa data, a Associação José Afonso (AJA) organizou o ciclo Venham Mais 6, uma série de espectáculos protagonizados por artistas de várias áreas, da música à stand-up comedy, “solidários com a missão da associação”, diz ao PÚBLICO Filipa Ferreira, um dos membros da AJA.

Depois do arranque com um concerto do cantor e compositor JP Simões, a próxima sessão caberá às Batukadeiras Bandeirinhas da Boba, esta quinta-feira às 19h no Auditório Camões, em Lisboa, onde este ciclo tem lugar nas primeiras quintas-feiras de cada mês, até Maio.

“Pegámos na data e na letra da música, que fala sobre um grupo de amigos que se juntam numa tasca para beber vinho, ‘do branco ao tinto’, mas que tem um significado mais profundo: vai buscar o espírito da camaradagem, da luta, da união, da amizade. Decidimos juntar mais um à nossa taberna”, explica Filipa Ferreira. “O Zeca também faz uma crítica às dificuldades que se viviam nessa altura – ‘a bucha é dura/ mais dura é a razão que a sustém' – e nós fizemos um paralelo com o que se passa hoje, dos problemas do acesso à habitação aos cuidados de saúde, sem esquecer as situações de extrema pobreza.”

Um dos objectivos deste ciclo, nota Filipa, é chegar a públicos e contextos “mais abrangentes”, de forma a expandir o raio de acção das actividades culturais da AJA, fundada em 1987, ano da morte de José Afonso. E, por arrasto, “tentar arranjar mais financiamento” para manter a “associação viva”. Os bilhetes para os espectáculos do Venham Mais 6 custam oito euros, sendo que 50% dos lucros revertem para a associação e a outra metade para os artistas.

Esta quinta-feira o palco do Auditório Camões vai ser tomado pelas Batukadeiras Bandeirinhas da Boba, um grupo de mulheres cabo-verdianas sediado no Casal de São Brás, na Amadora. Empregadas domésticas de profissão, estas mulheres juntam-se para honrar e dar continuidade ao batuque, género de música e de dança tradicional de Cabo Verde.

“Elas falam de temas muito importantes, como a condição da mulher negra e africana, da mãe trabalhadora, do racismo, das injustiças no mundo do trabalho e do direito a uma vida digna”, aponta Filipa Ferreira. Temas que, directa ou indirectamente, estão alinhados com o posicionamento político e com a obra de José Afonso.

O ciclo Venham Mais 6 fica completo com o espectáculo de stand-up comedy de Diogo Faro (1 de Fevereiro); o concerto de Pedro Branco (Old Mountain, You Can’t Win Charlie Brown), que apresentará o seu disco a solo, A Narrativa Épica do Quotidiano (7 de Março); o concerto de La Família Gitana, grupo de música cigana (4 de Abril); e a dupla de jazz João Paulo Esteves da Silva & Ricardo Toscano (2 de Maio).

“São seis espectáculos em seis meses, mas estamos superabertos a voltar a ter este ciclo se a comunidade de artistas tiver interesse”, remata Filipa Ferreira. “Como diz a canção, ‘a gente ajuda, havemos de ser mais’.”

Na próxima semana, dia 13 de Janeiro, o núcleo Norte da AJA apresenta no Porto a iniciativa Abril no Caminho dos 50 Anos. Pide, Prisões e Tortura, na Macaréu – Associação Cultural. Haverá uma leitura encenada de O Congresso dos Pides, texto de Hélder Costa, e uma conversa com a presença de Jorge Carvalho (Pisco), o último preso a ser libertado da antiga sede da PIDE na Rua do Heroísmo, na tarde de 26 de Abril de 1974.

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