Mensagem de Natal: Costa despede-se enaltecendo a confiança nos portugueses e no país

Primeiro-ministro procurou passar a imagem de unidade entre o Governo e os cidadãos insistindo na ideia de que “juntos” se atingiram muitas metas. “Temos muito trabalho em curso que não pode parar.”

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António Costa exalta “confiança nos portugueses” em mensagem de Natal
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A nona e última mensagem de Natal ao país de António Costa como primeiro-ministro foi quase um hino à confiança nos portugueses e no país. Em cinco minutos e meio, o chefe do Governo demissionário fez um minibalanço da sua governação de oito anos, repetiu a palavra “confiança” 11 vezes, procurou passar a imagem de unidade com os cidadãos, insistiu na ideia de que o excedente orçamental significa “maior liberdade” para os cidadãos, reconheceu haver ainda problemas para ultrapassar, e rematou dizendo acreditar que os portugueses “continuarão a fazer de cada ano novo um ano ainda melhor”. Nem uma palavra sobre os desafios eleitorais que se avizinham ou sobre a crise inflacionista dos últimos dois anos.

Sobre os oito anos como primeiro-ministro, diz que partilhou com os portugueses “momentos muito diversos”, desde os de “profunda tristeza e de enorme incerteza” até aos de “esperança e de grande alegria”. “Em todos estes momentos, mesmo nos dias mais difíceis, procurei sempre transmitir-vos confiança. Confiança em vós, confiança na nossa capacidade colectiva, confiança em Portugal”, aponta, vincando que essa confiança “na pátria” se reforçou nestes oito anos pelo que foi conhecendo do país.

E “tinha boas razões” para isso, salienta António Costa, que procura passar a ideia de união entre o Governo e os portugueses em momentos ou temas significativos da sua governação: “Juntos vencemos as angústias da pandemia [entre 2020 e 2022]; juntos temos garantido que a tragédia dos incêndios de 2017 não se repete; juntos temos conseguido mais e melhor emprego; diminuímos a pobreza e reduzimos as desigualdades; recuperámos a tranquilidade no dia-a-dia das famílias; juntos temos atraído mais investimento das empresas e conquistado mais exportações; repusemos direitos e equilibrámos as contas públicas; juntos ultrapassámos dificuldades e juntos construímos um país melhor.”

Há apenas um leve reconhecer de dificuldades: "Há problemas que ainda temos de ultrapassar? Claro que sim", admite, mas sem uma palavra para a crise da habitação ou na saúde. "Temos muito trabalho em curso que não podemos parar", acrescenta, numa alusão indirecta à corrida eleitoral em que o PS quer manter o poder.

António Costa considera que Portugal "está preparado para vencer os grandes desafios" que enfrenta porque atingiu bons níveis de qualificações, está na vanguarda da neutralidade carbónica e abandonou os "crónicos défices orçamentais", o que tem permitido reduzir a dívida pública". No campo das qualificações, com o esforço das famílias, dos jovens e das políticas públicas, reduziu-se o abandono escolar abaixo da média europeia, triplicou-se o número de pessoas com o ensino secundário e aumentou-se a participação no ensino superior. Isso permitiu um modelo de desenvolvimento assente no conhecimento e na inovação, que rompe com o modelo de baixos salários, explica o governante.

No caso da transição energética, para além da importância da descarbonização, há também uma “extraordinária oportunidade económica de criação de emprego, valorização de recursos naturais e de substituir importações por exportações”. E, na vertente das contas certas, não ter défices orçamentais libertou capital para a redução da dívida, realça Costa. Contas certas que conferem “maior credibilidade externa” e “liberdade de escolher”, por exemplo, em que áreas se aplica o investimento ou se se reduzem os impostos.

“Porque temos mais liberdade para decidir; porque estamos mais bem preparados para enfrentar o maior desafio da humanidade; porque temos uma sociedade mais qualificada e inovadora. Por tudo isto, podemos continuar a ter confiança no nosso futuro”, destaca o líder do Governo, que enfatiza que Portugal “continuará a convergir com os países mais desenvolvidos” da UE. “É juntos que somos capazes de ir mais além e fazer mais e melhor.”

E remata: “É com esta confiança reforçada em cada um de vós, na nossa capacidade colectiva, em Portugal, que me despeço desejando um feliz Natal, um excelente ano de 2024 e a certeza de que os portugueses continuarão a fazer de cada ano novo um ano ainda melhor.”

Ao contrário de anos anteriores, Costa não deixou qualquer palavra aos que trabalham nesta quadra. Esta foi a derradeira mensagem de Natal como primeiro-ministro, desde que em Novembro de 2015 assumiu as funções depois de, em conjunto com o Bloco, o PCP e o PEV, ter deitado abaixo o executivo de Pedro Passos Coelho com uma moção de rejeição do programa do Governo.

Nesse primeiro Natal, afirmou-se crente num Portugal com crescimento, emprego e consolidação financeira, e na viabilidade política de uma "plataforma comum" assente no diálogo, na transparência e no compromisso – a então “geringonça”. No ano passado, marcado pela guerra na Ucrânia e pela inflação, centrou a mensagem nos desejos de “paz, solidariedade e confiança”.

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