Quero fazer o teste de rastreio de infecções sexualmente transmissíveis. O que preciso de saber?

Portugal registou o número mais baixo de diagnósticos de VIH desde 1990, mas outras infecções sexualmente transmissíveis têm vindo a aumentar. Eis o que precisas de saber sobre a testagem.

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Os testes rápidos ao VIH e a outras IST são feitos com uma picada no dedo Artem Podrez/Pexels

O número de diagnósticos por VIH tem vindo a baixar em Portugal. Em 2022, foram 804 os novos casos de infecção, o número mais baixo desde 1990. Mas as infecções sexualmente transmissíveis (IST) não se esgotam no VIH e o cenário das IST, com um milhão de novas infecções por dia em todo o mundo, continua a preocupar a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Hepatite B e C, sífilis, vírus do papiloma humano (HPV), gonorreia ou clamídia são algumas das infecções mais comuns. Nem todas têm cura, mas testar permite curar sintomas, quando existem, e parar a cadeia de transmissão. Assim, eis tudo o que precisas de saber sobre a testagem e o rastreio das IST.

Como funcionam os testes? São dolorosos?

Para detectar os vírus responsáveis pelas diferentes infecções, os testes rápidos fazem-se através de algumas gotas de sangue. Para a recolha, basta uma picada no dedo (à semelhança do que acontece com a medição da glicemia).

A análise clínica da amostra de sangue vai procurar a presença de anticorpos para estes vírus, ou seja, “proteínas protectoras produzidas pelo sistema imunológico em resposta à presença de uma substância estranha”, explica o portal online do SNS.

Os testes rápidos dão a conhecer os resultados em cerca de 30 minutos e são estes que se costumam encontrar nos checkpoints e centros de rastreio comunitários.

No entanto, também é possível rastrear as IST através de análises clínicas à urina ou de exames físicos e ginecológicos como a citologia (conhecida como teste do Papanicolau), que permite identificar o vírus do papiloma humano (HPV), em particular.

Posso pedir estes exames no centro de saúde?

Sim, os testes às infecções sexualmente transmissíveis podem ser feitos através do Sistema Nacional de Saúde (SNS) de forma gratuita. É possível pedi-los em consulta com o médico de família ou em consulta aberta, caso o paciente não tenha médico de família atribuído.

Não havendo factores de risco ou sintomas que justifiquem exames mais específicos, a prescrição pode incluir análises clínicas para rastreio do VIH tipo 1 e 2, hepatite B (VHB) e hepatite C (VHC), mas chegaram ao P3 alguns relatos de que as análises prescritas não incluíam as três infecções.

A Direcção-Geral da Saúde garante que “no que diz respeito à prescrição e realização do teste de rastreio destas infecções, não existem constrangimentos nos termos das Normas e Circulares Normativas em vigor”, lê-se na resposta.

Existem autotestes em Portugal?

Em Portugal existem, desde Outubro de 2019, autotestes para o VIH. São vendidos nas farmácias e podem ser feitos em casa, tal como os autotestes para a covid-19.

Neste caso não há zaragatoas: o teste é feito tal como descrito acima, com uma simples picada no dedo para recolha de umas gotas de sangue. O sangue é depois colocado numa tira reagente que vai indicar o resultado em até 15 minutos.

O autoteste “pode custar entre os 20 a 25 euros”, diz o site do SNS, “embora o preço possa variar consoante o local de venda”. Uma rápida pesquisa em algumas farmácias online mostra que os preços ultrapassam este valor, podendo ir até aos 30 euros.

O resultado pode ser reactivo, não reactivo ou inconclusivo. Embora o teste seja feito de forma autónoma, as autoridades recomendam que, se o resultado for reactivo, o que “pode significar que está infectado”, se contacte a linha SNS24 para fazer um teste de confirmação e dar início ao tratamento, caso se confirme a infecção.

Neste momento, o VIH é a única infecção para a qual existem autotestes. Todas as outras IST dependem de testes laboratoriais.

Quero evitar o centro de saúde. Que alternativas tenho?

checkpoints espalhados por todo o país para despiste do VIH e das principais infecções sexualmente transmissíveis, alguns com o apoio da Direcção-Geral da Saúde e outros de cariz comunitário para chegar às pessoas com maior risco de contrair este tipo de infecções.

A Associação Positivo funciona em Lisboa com rastreio para VIH, VHB, VHC e sífilis. Os testes são feitos por marcação através de uma chamada telefónica ou de um email mas, apesar do contacto inicial, a confidencialidade “é respeitada”, garante a associação no site. Todos os testes são gratuitos.

Outra opção disponível é a Rede de Rastreio, promovida pelo Grupo de Activistas em Tratamento (que é, simultaneamente, a entidade que mais preservativos distribui a nível nacional, no âmbito da prevenção das IST). Tratando-se de uma rede, está em todo o país, de Aveiro a Bragança, de Loures a Paredes, entre muitas outras cidades.

VIH, hepatites virais B e C e sífilis são as IST abrangidas pelos testes rápidos desta rede. Qualquer pessoa pode procurar um destes locais de testagem, mas a rede nasceu com o propósito de chegar a “homens que têm sexo com homens, pessoas trans, pessoas que usam drogas, pessoas que fazem trabalho sexual e pessoas migrantes”, lê-se no site do projecto.

Os locais de rastreio encontram-se essencialmente no litoral do país, em cidades como Vila Nova de Gaia, Esmoriz, Espinho, Faro, Marinha Grande, Sintra, entre outras, mas a lista de locais de rastreio pode ser consultada online.

O Grupo de Activistas em Tratamento (GAT) é o responsável pelo CheckPointLX, um “espaço de igual para igual”, ou, como se descrevem, um “centro de base comunitária, dirigido aos homens que têm sexo com homens”, de portas abertas desde 2011.

Aqui podem ser feitos testes ao VIH e a outras IST. Há também outros espaços que seguem a mesma lógica sob gestão do GAT na Grande Lisboa: em Almada, na Mouraria, no Intendente e em Setúbal. Todos os contactos estão disponíveis online.

Podes considerar também a opção de recorrer a laboratórios privados de análises clínicas que disponibilizam estes testes laboratoriais, como as redes UniLabs ou Germano de Sousa.

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