Primeiro-ministro britânico demite ministra do Interior

Braverman tinha acusado a polícia britânica de proteger manifestantes pró-palestinianos e a oposição responsabiliza-a pelos protestos de extrema-direita no domingo.

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Rishi Sunak e Suella Braverman, nas celebrações do Dia do Armistício, no domingo Reuters/POOL
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O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, dispensou esta segunda-feira a ministra do Interior, Suella Braverman, acusada pela polícia e pela oposição de ter inflamado as tensões no Dia do Armistício.

Num artigo de opinião publicado na semana passada no Times, sem o aval do número 10 de Downing Street, Braverman tinha argumentado que a polícia britânica protegia propositadamente manifestantes pró-palestinianos, membros do movimento anti-racismo Black Lives Matter e pessoas de esquerda nos protestos de rua, em comparação com os protestos da direita radical e dos opositores do confinamento durante a pandemia de covid-19.

Braverman descreveu as manifestações pró-Palestina como manifestações de “ódio” e de anti-semitismo.

Segundo os críticos da agora ex-ministra conservadora, esta posição legitimou a manifestação de extrema-direita, no domingo, no centro de Londres, que culminou em confrontos entre os manifestantes e a polícia. No mesmo dia, centenas de milhares de pessoas juntaram-se na capital britânica para pedir um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza.

Protagonista de várias polémicas nos últimos meses, assumindo-se como uma das principais vozes à ala mais radical e brexiteer do Partido Conservador, Braverman contou sempre com o apoio de Sunak. O seu afastamento, esta segunda-feira, é entendido, até dentro do próprio universo tory, como o resultado de uma situação que se tornou politicamente insustentável para o primeiro-ministro, que resistiu a demiti-la até ao último segundo.

Principal rosto da política de restrições executivo britânico à imigração, Braverman – que é filha de imigrantes da Ásia do Sul que chegaram ao Reino Unido nos anos 1960, vindos do Quénia – vinha endurecendo o seu discurso, atacando as “elites”, o “politicamente correcto” e “esquerda radical” ou argumentando que a “imigração descontrolada, a integração inadequada e o dogma falacioso do multiculturalismo provaram ser uma combinação tóxica para a Europa nas últimas décadas”.

Este afastamento acontece a poucos dias de ser conhecida a posição do Supremo Tribunal do Reino Unido sobre uma das principais políticas de Braverman para travar o número recorde de travessias de imigrantes no canal da Mancha: o polémico plano de envio de requerentes de asilo para o Ruanda, país africano localizado a mais de seis mil quilómetros do território britânico.

Bloqueado em Junho pelo Tribunal de Recurso de Inglaterra e do País de Gales, que reverteu uma decisão anterior, do Tribunal Superior, o programa conhecerá o seu destino esta quarta-feira, na última instância judicial britânica. Suella Braverman chegou a dizer era “um sonho e uma obsessão” ver o primeiro avião com deportados a aterrar no Ruanda.

A cerca de um ano das próximas eleições legislativas no país, e com o primeiro-ministro a revelar-se incapaz de contrariar o favoritismo do Partido Trabalhista, quer nas sondagens, quer nas últimas eleições locais e intercalares realizadas em Inglaterra, muitos analistas britânicos olhavam para as declarações mais polémicas de Braverman como uma estratégia propositada de posicionamento da ministra para a corrida ao lugar de Sunak.

Rishi Sunak vai aproveitar a dispensa de Braverman para levar a cabo (mais uma) remodelação no seu governo. David Cameron, antigo primeiro-ministro, foi fotografado pela imprensa britânica a entrar no número 10 de Downing Street, situação que já está a dar azo a todo o tipo de teses, nomeadamente que está na calha para ser o próximo ministro dos Negócios Estrangeiros (cargo actualmente ocupado por James Cleverly).

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