Centenas de milhares nas ruas de Londres pela Palestina
Mais de 120 pessoas foram detidas na sequência de confrontos com a polícia. A maioria faria parte de um grupo de extrema-direita anti-islâmico que tentou perturbar a manifestação.
Centenas de milhares de pessoas concentraram-se este sábado nas ruas de Londres para apelar a um cessar-fogo na Faixa de Gaza. Os organizadores do protesto falam em 800 mil manifestantes na capital britânica. A Polícia Metropolitana de Londres indica um número menor — 300 mil pessoas — mas admite que se trata da "maior marcha" registada no Reino Unido desde o início da mais recente crise no Médio Oriente.
Dezenas de contramanifestantes, apoiantes da extrema-direita britânica, foram detidos na sequência de confrontos com as autoridades, numa tentativa de perturbar o acto de solidariedade com o povo palestiniano. O primeiro-ministro Rishi Sunak identificou-os como membros do English Defence League (EDL), um movimento de extrema-direita anti-islâmico.
"Estamos a lidar com um contraprotesto e com a marcha principal pró-palestiniana. Os contramanifestantes chegaram cedo esta manhã em grupos de várias centenas que pareciam ter como intenção o confronto e a violência", disse durante a tarde o superintendente Matt Twist, da Polícia Metropolitana de Londres.
Transportando bandeiras com a cruz de São Jorge — a bandeira de Inglaterra — e gritando "Inglaterra até à morte", alguns tentaram, sem sucesso, chegar ao cenotáfio, um monumento em honra das vítimas da Primeira Guerra Mundial no centro de Londres, enquanto decorria uma cerimónia por ocasião do aniversário do Armistício. O grupo empurrou agentes de segurança, arremessou objectos contra as autoridades e tentou derrubar barreiras na via pública.
Na sequência dos confrontos, foram detidas pelo menos 82 pessoas, algumas por posse de armas. Ficaram também feridos nove polícias, sendo que dois precisaram de receber assistência médica por uma fractura no ombro e luxação da anca.
Our officers continue to utilise their powers under S35 to enforce a Dispersal Order for anti social behaviour.
— Metropolitan Police (@metpoliceuk) November 11, 2023
Officers have taken positive action to ensure that London can continue to function normally this evening and will continue to do so, and make arrests where necessary. pic.twitter.com/WSz6X4bI4r
"A violência extrema de apoiantes da extrema-direita em relação à polícia no dia de hoje é profundamente preocupante", considerou o superintendente Matt Twist, em comunicado. "A maioria eram hooligans de várias partes do Reino Unido e passaram o dia a atacar ou ameaçar agentes que tentavam impedir que perturbassem a manifestação principal."
Já depois de terminar a marcha que seguiu de Hyde Park até à embaixada dos Estados Unidos, a Polícia de Londres avançou com uma ordem de dispersão para as multidões que continuavam nesta zona — entre a margem do Tamisa e Hyde Park —, o que levou a uma operação para apreensão de eventuais armas na posse dos manifestantes.
Na sequência dessa operação, a polícia interceptou um grupo de "cerca de 150 pessoas" que "estava a disparar engenhos pirotécnicos e muitos usavam máscaras" a esconder a cara. Foram realizadas detenções — as autoridades não especificam quantas — depois de alguns agentes serem atingidos por petardos.
"Existiram também uma série de ocorrências por possíveis crimes de ódio e apoio a organizações extremistas durante a manifestação, que estamos a investigar", avançou a Polícia Metropolitana.
Numa última actualização, pelas 20h45, a polícia informou que foram detidas no total 126 pessoas e que prosseguiam os esforços para responder a quaisquer desacatos no centro de Londres durante a noite.
Ministra do Interior acusada de encorajar violência
O acto de solidariedade para com o povo palestiniano recebeu autorização prévia da polícia londrina, apesar da oposição do primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, que considerou desrespeitoso realizar a manifestação ao mesmo tempo que decorriam as cerimónias oficiais do Dia do Armistício.
"Condeno os episódios violentos e totalmente inaceitáveis a que assistimos hoje por parte do EDL e simpatizantes do Hamas na marcha pela Palestina. Os actos desprezíveis de uma minoria prejudicam os que escolhem expressar-se de forma pacífica", reagiu o chefe de Governo ao final desta tarde, em comunicado. "Isto é verdade para os criminosos do EDL que atacaram agentes da polícia, mas também para aqueles que entoaram cânticos anti-semitas e exibiram símbolos pro-Hamas. É lamentável o medo sentido pela comunidade judaica este fim-de-semana."
Ainda esta semana, a ministra do Interior britânica, Suella Braverman, acusou a polícia de Londres de parcialidade por permitir a realização de manifestações pró-palestinianas, que descreveu como "marchas de ódio", de "intimidação e extremismo" — palavras criticadas este sábado pelo autarca de Londres, Sadiq Khan, que culpou a ministra por "encorajar" a violência dos grupos de extrema-direita.
Hate will never win. We must stand together: it's what London does best.
— Sadiq Khan (@SadiqKhan) November 11, 2023
My statement on events today: pic.twitter.com/7hnKV71SxM
As considerações que Braverman decidiu partilhar num artigo de opinião, publicado sem a autorização do Governo, foram aplaudidas pela ala mais à direita do Partido Conservador, mas a violência deste sábado e as acusações de Sadiq Khan vêm aumentar a pressão sobre Rishi Sunak, que deverá tomar uma decisão quanto ao futuro político da ministra nos próximos dias.
A própria polícia de Londres, no mesmo comunicado em que deu conta das 126 detenções realizadas este sábado, apontou o "intenso debate sobre protestos e policiamento da última semana" como um dos motivos para o aumento das tensões na capital.
Há um mês que decorrem semanalmente protestos em Londres, tal como noutras capitais europeias, para exigir um cessar-fogo em Gaza, onde já morreram perto de 11.000 civis, incluindo mais de 4000 crianças, em acções retaliatórias de Israel na sequência do ataque do Hamas em solo israelita a 7 de Outubro.