Com o crime em foco, Sunak define agenda pré-eleitoral no Discurso do Rei

Discurso do Rei marcado por planos do Governo britânico para diminuir diferença nas sondagens para com os trabalhistas.

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Carlos III durante o Discurso do Rei Reuters/POOL

O Governo britânico apresentou, na terça-feira, os seus planos para combater a criminalidade, impulsionar o crescimento e atenuar as medidas relativas às alterações climáticas, uma agenda claramente política que poderá ser o primeiro e último Discurso do Rei do primeiro-ministro, Rishi Sunak, antes das eleições, que deverão ocorrer já em 2024.

Num documento redigido pelo Governo, mas entregue pelo rei Carlos III à Câmara dos Lordes no Parlamento, o primeiro-ministro, Rishi ​Sunak, assinalou a sua intenção de traçar uma linha divisória com o Partido Trabalhista, antes das eleições que se perspectivam para o próximo ano. Com os trabalhistas muito à frente nas sondagens, a equipa de Sunak espera mitigar a diferença entre os dois partidos, reduzindo o que diz ser o peso dos objectivos em matéria de alterações climáticas sobre o orçamento das famílias e endurecendo as penas para os criminosos violentos.

O Discurso do Rei, nesta terça-feira, não trouxe grandes novidades, sendo quase como que uma colectânea daquilo em que Sunak tem trabalhado desde que se tornou primeiro-ministro no ano passado, sucedendo a Liz Truss no cargo. “O meu Governo procurará, em todos os aspectos, tomar decisões a longo prazo no interesse das gerações futuras”, disse Carlos III, envergando a coroa imperial e o manto de Estado, a uma audiência silenciosa na câmara alta do Parlamento.

Foi a primeira vez que Carlos fez o discurso como rei – apesar de ter substituído a sua mãe, a rainha Isabel II, meses antes da sua morte no ano passado numa cerimónia marcada pela pompa e ostentação, que também atraiu um protesto antimonárquico ruidoso, ainda que pequeno, no exterior do Parlamento. Chegando ao Parlamento, vindo do Palácio de Buckingham, numa grande procissão de carruagens, dirigiu uma cerimónia que apresenta a agenda do Governo.

Campanha eleitoral

O facto de os planos referidos no discurso lido por Carlos III se centrarem sobretudo na esfera doméstica dão indicações de que o Reino Unido já entrou na fase de campanha, com os trabalhistas a afirmarem, ainda antes do discurso, que os conservadores apenas ofereciam “truques, divisão e mais do mesmo”. Os trabalhistas têm um plano para devolver ao Reino Unido o seu futuro, respondeu o líder dos trabalhistas, Keir Starmer, numa declaração.

No seu discurso, o Governo anunciou que iria avançar com a Lei das Penas, que prevê penas de prisão mais duras para os infractores mais graves, e reiterou a sua promessa de impulsionar o crescimento económico e reduzir a inflação. Ainda assim, e ao contrário do que alguns analistas tinham apontado e membros do partido tinham pedido, não haverá qualquer redução da carga fiscal. Os meus ministros vão tratar da inflação e dos problemas relacionados com o baixo crescimento, em vez de seguirem pela via do aumento da despesa ou dos empréstimos, disse o rei.

A leitura de algumas das políticas na área climática vão contra as medidas sugeridas por Carlos III, que há mais de 50 anos faz campanha sobre questões ambientais. O Governo decidiu adiar a proibição da venda de novos carros a gasolina, salvaguardando, no entanto, que não está a desistir dos objectivos globais, sendo apenas mais pragmático na forma como os atinge.

Neste sentido, Sunak confirmou que iria apresentar legislação para realizar anualmente rondas de licenciamento de petróleo e gás no mar do Norte para ajudar o país a fazer a transição para as zero emissões até 2050, sem acrescentar encargos indevidos às famílias. Este é um dos dois novos projectos de lei que deverão ser apresentados à Câmara dos Comuns esta semana, transitando os restantes projectos legislativos do anterior executivo. O Governo de Sunak planeia eliminar gradualmente a venda de tabaco aos jovens em Inglaterra e, numa tentativa de conquistar os eleitores mais jovens, avançar com reformas no mercado da habitação, proibindo os despejos sem culpa por parte dos inquilinos.

Trabalhistas mantêm-se à frente nas sondagens

Mas Sunak tem diante de si uma luta difícil para reconquistar os eleitores, com os trabalhistas a liderarem todas as sondagens. Os conservadores enfrentam alegações de escândalos sexuais; estão sob escrutínio devido às polémicas relacionadas com a covid-19 e estão profundamente divididos sobre a estratégia para as próximas eleições.

No último ano, demos a volta à situação e pusemos o país num caminho melhor, escreveu Sunak. Mas estas prioridades imediatas não são o limite da nossa ambição. São apenas os alicerces do nosso plano para construir um futuro melhor para os nossos filhos e netos e para realizar a mudança de que o país precisa, concluiu.

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