Sinais sobre pico dos juros levam bolsas e euro a valorizar

O BCE voltou a subir as taxas de juro de referência, mas deu sinais de que já poderão ter atingido o pico e que não haverá novas subidas em breve, um cenário que está a animar os investidores.

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Christine Lagarde, presidente do BCE, que voltou a subir as taxas de juro EPA/RONALD WITTEK
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O Banco Central Europeu (BCE) voltou, esta semana, a optar por subir as taxas de juro de referência da zona euro, contrariando as expectativas de quem aponta para os riscos de recessão económica e agravando novamente os custos de financiamento na zona euro. Mas os sinais dados por Christine Lagarde de que as taxas de juro poderão já ter atingido o pico estão a ser suficientes para animar os mercados, com as principais bolsas europeias e a moeda única a reagirem em alta.

A decisão do BCE foi anunciada nesta quinta-feira, no final da reunião realizada em Frankfurt. Os membros do conselho da instituição decidiram aumentar as suas taxas de juro em 0,25 pontos percentuais, levando a taxa de juro de depósito, a principal referência para os custos de financiamento da zona euro, a aumentar de 3,75% para 4%. A justificar a decisão, está o facto de a evolução dos preços continuar aquém dos objectivos do BCE: desde do pico de 10,1% atingido, a taxa de inflação da zona tem estado a baixar de forma contínua, mas, em Agosto, continuava a ser de 5,3%, permanecendo longe da meta de 2% do banco central.

Seja como for, esta é uma decisão com impacto directo sobre as famílias e empresas da zona com crédito contraído, ao mesmo tempo que vem contribuir para os riscos de uma recessão da economia europeia, pelo que poderia ser mal recebida pelos mercados. Mas, para já, é sobretudo aos comentários que se seguiram à reunião, e não tanto à decisão em si, que os investidores estão a reagir.

Em concreto, no comunicado emitido após a reunião, a instituição liderada por Christine Lagarde afirmou que "as taxas de juro chave do BCE atingiram níveis que, se mantidos por um período de tempo suficientemente longo, irão dar uma contribuição substancial para o regresso da inflação ao objectivo", sinalizando que as taxas de juro poderão ficar estabilizadas em 4%, ainda que por um período de tempo alargado.

É neste contexto que, esta manhã, o Stoxx Europe 600, índice accionista de referência na Europa, já chegou a valorizar em torno de 1%, estando agora a subir cerca de 0,75% e a negociar nos níveis mais altos em mais de um mês. Em Portugal, o sentimento é idêntico, com o PSI a avançar 0,15%, com a maioria das cotadas a negociar em alta.

Também no mercado de divisas a tendência é positiva para o lado europeu. Por esta altura, o euro está a valorizar 0,23% contra o dólar, negociando em cerca de 1,067 dólares, embora se mantenha nos níveis mais baixos em seis meses.

Já no mercado de dívida, mais sensível a decisões de política monetária, os investidores reagem à subida de juros por parte do BCE a agravarem os custos de financiamento na zona euro. Os juros da dívida da Alemanha a dez anos, tida como referência para a região, estão a subir em quase cinco pontos base e fixam-se em torno de 2,65%. Já os juros da dívida portuguesa a dez anos agravam-se em perto de quatro pontos base e estão nos 3,36%.

Mas o alívio sentido nos mercados é, para já, apenas temporário, numa altura em que os investidores mantêm a cautela, até porque as expectativas são de que as taxas de juro se mantenham em níveis elevados durante mais tempo. "Continuamos a não antecipar cortes nas taxas de juro antes de Setembro de 2024 – o que implica uma pausa de 12 meses na taxa de 4% – e acreditamos que é pouco provável que as taxas venham a cair de volta para um nível neutro em 2025, tendo em conta a preocupação quanto à inflação persistente no médio prazo", referem os economistas do Deutsche Bank numa nota divulgada esta sexta-feira.

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