Falta tempo e dinheiro para maior consumo cultural em Lisboa, diz estudo

Média de frequência de 6,3 eventos por ano, de cinema a concertos e museus. Principais entraves, tempo e dinheiro, diz o estudo “O Consumo Artístico e Cultural na Cidade de Lisboa”, promovido pelo CCB

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Sinfonia n.º 6 de Beethoven, sob direcção do maestro da OML, Pedro Neves, em Março de 2023 Marcelo Albuquerque de Lima/cortesia ccb
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Uma média de frequência de espaços e eventos culturais de 6,3 visitas ou assistência por ano. O cinema, a música não erudita e os museus como principais focos de interesse, seguidos de perto pelo teatro. São os resultados de um estudo de públicos, “O Consumo Artístico e Cultural na Cidade de Lisboa”, promovido pelo Centro Cultural de Belém (CCB) e cuja apresentação teve lugar esta quarta-feira, a partir das 15h, na Sala Luís Freitas Branco da instituição lisboeta.

Realizado ao longo de dez meses, tendo como base um inquérito a 806 pessoas que, no ano anterior, tenham assistido ou frequentado um evento cultural e artístico na região de Lisboa (não necessariamente lisboetas: 13,5% dos inquiridos moram noutros territórios), o estudo foi conduzido pela consultora Return On Ideas, dando sequência à vontade de, três décadas após a fundação do CCB, a instituição conhecer de forma mais aprofundada o perfil dos seus visitantes. Como explica Elísio Summavielle, Presidente do Conselho de Administração do CCB, no prefácio do estudo, este segue-se ao projecto “CCB-Cidade Digital” iniciado em 2019, um programa de transformação digital da instituição que se propôs adaptá-la aos desafios do presente e do futuro.

Através do estudo, lemos na introdução ao mesmo, “procura-se oferecer pistas relevantes às entidades culturais e artísticas no seu desafio de criar e convocar novos públicos, mitigando algumas das barreiras que hoje inibem o consumo”. Um dos grandes desafios, num mundo transformado pela experiência da pandemia e os confinamentos a que obrigou, será, muito simplesmente, levar as pessoas a trocar as horas de consumo cultural caseiro pela frequência de museus, teatros, cinemas ou salas de espectáculos.

São mais aqueles que declaram que o seu consumo cultural está a diminuir (39%, perante os 26% que dão conta do contrário). É, contudo, entre os mais jovens que a tendência de aumento de consumo cultural mais se faz notar, com 31% da faixa etária entre os 18-35 a darem dele conta – ainda assim, nas faixas etárias mais jovens a frequência de eventos e espectáculos é “claramente abaixo da média da amostra”.

Entre as expressões artísticas, destacam-se aquelas “que permitem consumos em casa, em modo passivo, e até quase em modo multi-tasking”: música, referida por 82% da amostra, cinema (76%) e literatura (48%). Idas a museus, concertos, cinema ou teatro são “algo frequentes” para 25% dos inquiridos, “muito frequentes” para apenas 6%. O estudo mostra-nos que 8% dos inquiridos assistiram a apenas um evento no ano anterior, 33% entre 2 a 3, 38% entre 4 e 9 e 21% a 10 ou mais, resultando numa frequência média de 6,3 eventos. Assinale-se que, para a construção da amostra, foram excluídos aqueles que, ao longo do ano, tenham frequentado apenas cinema ou os festivais de música de massas, “pela vasta amplitude e alcance deste tipo de eventos”, justificam os autores do estudo.

As maiores barreiras ao consumo cultural, mesmo por parte daqueles que manifestam vontade de o fazer com regularidade, são, sem grande surpresa, tempo e dinheiro. “Quando questionados sobre os aspectos que os impedem de consumir a Cultura e Arte que desejariam, 73% dos inquiridos refere a falta de dinheiro e 63% a falta de tempo”, lê-se no estudo.

Globalmente satisfeitos com a oferta cultural que Lisboa oferece (26% concordam "totalmente" que esta é “completa e satisfatória”, 55% concordam “parcialmente”), os frequentadores dos seus espaços culturais privilegiam o cinema (74%), os museus (58%) e a música (49% dos inquiridos foram a pelo menos um concerto de pop/rock, 29% a um festival, 23% a um concerto de música portuguesa). O teatro foi assistido por 40%, seguindo-se a partir daqui um fosso significativo relativamente a outras expressões artísticas: dança e bailado (16%), música clássica (14%) e ópera (5%).

Com pouca abertura a deparar-se com o novo e com o desconhecido (“quase 2/3 dos inquiridos identifica-se como 'conservador' no seu consumo cultural”, aponta o estudo), os inquiridos privilegiam como espaços preferenciais, a distância considerável dos demais, a Altice Arena, o Centro Cultural de Belém, a Fundação Calouste Gulbenkian e o Coliseu dos Recreios Lisboa.

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