O ensino à distância como solução transitória para a falta de professores

As nossas crianças precisam de um ensino de qualidade para fazerem face a um futuro cada vez mais incerto. Para “velhos males”, temos que procurar “novos remédios”.

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A propósito do início do ano letivo, o PÚBLICO revela que os especialistas que aconselharam o Governo criticam a demora das soluções para a falta de professores. Sem desvalorizar as legítimas reivindicações do pessoal docente e não docente pela melhoria do seu estatuto profissional, todos temos vindo a assistir ao impacto negativo da instabilidade que se acomodou no setor educativo. E ainda que se possam assinalar algumas medidas importantes para a redução da precariedade da classe docente, parece-nos consensual que aquela inconstância resulta, em grande medida, da forma como o Ministério da Educação tem guiado a sua atuação.

Com o início das aulas à porta, estamos novamente confrontados com a carência de pessoal docente, com especial incidência em algumas zonas do país. De acordo com dados avançados pelo PÚBLICO, mais de 90 mil alunos teriam professores em falta, se aulas se tivessem iniciado a 8 de setembro.

Parece-nos óbvio que o modelo arcaico de gestão enraizado no Ministério da Educação deverá encarar este ponto fraco como uma oportunidade de melhoria, e adotar soluções mais flexíveis que já provaram ser eficazes em condições adversas. Refiro-me ao recurso ao ensino à distância (com a contratação de pessoal docente em regime de teletrabalho), modalidade alternativa implementada em contexto de pandemia, e que permitiu assegurar o regular funcionamento dos anos letivos visados pelo confinamento.

Aproveitando o título do editorial de Andreia Sanches, “Educação com dificuldade em ver ao longe”, apelo ao senhor ministro da Educação que tenha uma visão pragmática e direcionada para a resolução do problema da falta de pessoal docente no imediato, e que coloque na sua lista de prioridades a adoção das soluções estruturais que se impõem, para evitar que a ausência de professores se transforme numa espécie de declaração de “estado de emergência”.

Como António Arnaut, “não me conformo com as pequenas injustiças. Aceito as grandes, porque são inevitáveis, como as catástrofes, e atestam a impotência dos deuses. Aquela criança, descalça, apenas precisava de uns sapatos. Se tivesse nascido sem pés, não era tão grande a minha revolta”.

As nossas crianças precisam de um ensino de qualidade, que lhes assegure o nível de conhecimentos e as competências necessárias para fazer face a um futuro cada vez mais incerto. É inegável que para “velhos males”, temos que procurar “novos remédios”.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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