Enquanto o Havai arde, procuram-se os animais perdidos durante o fogo

Os incêndios na ilha de Maui deflagraram a 8 de Agosto e já provocaram 101 mortos. Há animais de companhia que se perderam dos donos e os abrigos estão a fazer os possíveis para os acolher.

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O abrigo Maui Humane Society tem recebido vários animais vítimas dos incêndios no Havai Maui Humane Society
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Os incêndios florestais em Maui, no Havai, continuam a devastar a ilha e já provocaram a morte de, pelo menos, 101 pessoas. Há equipas de bombeiros a trabalhar 24 horas por dia para combater as chamas.

As operações de busca e salvamento também prosseguem com habitantes a tentar desesperadamente localizar amigos e familiares desaparecidos. Além disto, os fóruns online e as redes sociais estão repletos de pessoas à procura dos seus entes queridos.

À medida que o caos se vai instalando, surgem outros apelos sinceros na Internet: os donos de animais de companhia que tiveram a sorte de conseguir deixar as suas casas, mas que não conseguiram levar os seus cães e gatos, estão a implorar por ajuda.

"Estou completamente destroçada. Por favor, se houver alguma hipótese de eles estarem vivos e por aí, peço-vos que me ajudem a encontrá-los. Saímos com muita pressa porque o fogo estava mesmo atrás de nós. Dói-me tanto o coração", escreveu no Facebook a dona dos gatos Lily Jupiter, Puma e Tiger, mostrando fotografias dos felinos.

"Por favor, mantenham os nossos labradores, que amamos mais do que tudo, debaixo de olho”, escreveu a tutora dos cães Molly e Dakota noutro grupo de Facebook. "Eles são doces e amorosos e provavelmente estão muito assustados", acrescentou na descrição que acompanha as fotografias dos animais.

Em resposta, milhares de pessoas acederam ao pedido e mobilizaram-se para oferecer apoio de várias formas. Muitos tentaram divulgar a situação dos animais encontrados, incluindo dois cães pastores que foram vistos a vaguear cobertos de lama.

"Encontrado coelho castanho na rua Komo Mai. O animal tem o pêlo e os bigodes queimados, mas está seguro e saudável. Deixámo-lo no abrigo Maui Humane Society", escreveu outro utilizador no grupo do Facebook Lost & Found Animals of Maui Fires, na sexta-feira à tarde, dia 11 de Agosto, publicando uma fotografia de um coelho com orelhas caídas, embrulhado numa camisola cinzenta.

"A comunidade tem-se esforçado imenso", afirma Katie Shannon, directora de marketing do Maui Humane Society. "Os nossos funcionários ficaram comovidos", acrescenta.

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Veterinário trata cão resgatado dos incêndios Maui Humane Society
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Os funcionários do Maui Humane Society estão a receber ajuda de milhares de pessoas Maui Humane Society

Na terça-feira à noite, dia 8 de Agosto, um bombeiro voluntário local resgatou uma cadela na cidade de Lahaina. O animal chegou à Maui Humane Society com queimaduras graves no corpo, bigodes queimados e bolhas a cobrir as patas. Apesar de estar a usar um arnês, não tinha microchip.

"As patas estão completamente queimadas até ao osso. Neste momento, a cadela está estável e sob os nossos cuidados", afirma Katie.

Segundo a responsável pelo abrigo, apesar de estar assustada, desorientada e em choque, a cadela é "muito querida" e também uma das mais sortudas, adianta, explicando que, provavelmente, milhares de outros animais perdidos não vão sobreviver.

O animal é um dos cerca de seis que foram resgatados das chamas pela equipa de emergência e levados directamente para a Maui Humane Society. Outro cão foi encontrado no quartel dos bombeiros de Lahaina e levado para o centro na quinta-feira à noite, tal como uma segunda cadela encontrada a vaguear sem destino na rua. Até à data, apenas Roman, um dos cães resgatados, foi entregue aos donos. "Foi incrível", recorda Katie.

O cão Roman com os donos Maui Humane Society
Cadela resgatada por bombeiro Maui Humane Society
Dezenas de voluntários apareceram para ajudar Maui Humane Society
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O cão Roman com os donos Maui Humane Society

Segundo as autoridades, depois de o incêndio ter deflagrado, só o pessoal de emergência está autorizado a entrar em Lahaina — a zona mais devastada — ainda que os milhares de residentes retirados possam regressar à cidade esta sexta-feira.

Assim que isso acontecer, os funcionários do Maui Humane Society em Puunene — que fica a cerca de uma hora de carro de Lahaina — esperam a chegada de mais animais feridos.

Como o abrigo já se encontrava em capacidade máxima antes do fogo, os trabalhadores lançaram um apelo nas redes sociais a pedir donativos urgentes e o acolhimento dos animais que aí vivem para que pudessem libertar espaço e adquirir os suprimentos necessários.

"O Maui Humane Society espera a chegada de centenas de animais que foram queimados ou se perderam dos donos quando estavam a sair de casa e que precisam de cuidados urgentes devido à inalação de fumo", lê-se na publicação de quinta-feira, dia 10. "Os incêndios deixaram milhares de pessoas e animais desalojados o que está a gerar uma enorme angústia e a criar uma necessidade urgente de solidariedade na comunidade."

Em menos de 24 horas, a organização angariou mais de 280 mil dólares (256 mil euros). A par disto, dezenas de habitantes ofereceram-se para receber os animais — incluindo gatos, cães, coelhos e porquinhos-da-índia — e, até agora, mais de 100 foram acolhidos por voluntários.

"Temos de abrir canis para que, quando esta enchente de animais chegar, tenhamos espaço para eles", reforça Katie. "Todos os cães que puderam ir para casa ontem e anteontem foram", assegura.

Também houve quem doasse comida para cães e gatos, caixas transportadoras, trelas e outros artigos para animais que o Maui Humane Society entregou a abrigos de toda a ilha. Cerca de 60 habitantes locais ficaram nas instalações da organização para prestar assistência, ajudando a preparar os kits de emergência e a organizar os materiais de socorro.

Nos próximos dias, o Maui Humane Society terá uma ideia mais clara da ajuda necessária, que inclui mais casas de acolhimento temporário de animais, material ou voluntários.

"O incêndio ainda está a lavrar, por isso ainda não foi feita uma avaliação dos danos", explica Katie, acrescentando que todos os fundos serão destinados à realização de procedimentos médicos que salvam vidas de animais de companhia feridos, bem como à compra de bens para as famílias que perderam as suas casas no incêndio.

"O maior receio é não sobreviverem tantos animais como pensamos poder salvar", destaca. Ainda assim, os funcionários do abrigo continuam a ajudar. "É mesmo inspirador ver quantas pessoas se preocupam", concluiu.

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