Quase 50 graus Celsius no Norte de África. Mais de 30 mortes em incêndios na Argélia

Regiões do Norte de África estão com temperaturas até 7 graus Celsius mais elevadas do que o normal para a época. Na Argélia, mais de 30 pessoas morreram nos incêndios devastadores desta semana.

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Incêndios devastadores deflagraram na Argélia no início da semana EPA/STR
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Enquanto muitos olhos estão postos no Sul da Europa, uma grande vaga de calor está a varrer também o Norte de África, com temperaturas de 49 graus Celsius registadas em algumas cidades da Tunísia e a atingir os 50 graus na Argélia. De acordo com a BBC, as temperaturas em várias regiões do Norte de África são até 7 graus Celsius mais elevadas do que o normal para esta época do ano.

Os incêndios florestais que varreram regiões da Argélia já provocaram a morte de pelo menos 34 pessoas, incluindo 10 soldados. Em apenas quatro dias, entre 23 e 26 de Julho, relata o jornal El País, pelo menos 40 pessoas morreram e mais de 200 ficaram feridas na sequência de cerca de 140 incêndios que assolaram 17 províncias, na sua maioria no nordeste do país, obrigando cerca de 1500 pessoas a abandonar as suas casas.

Um dos epicentros da catástrofe, relata o jornal espanhol, foi a aldeia de Ait Oussalah, onde 16 pessoas - muitas delas crianças - perderam a vida. A aldeia foi subitamente engolida pelas chamas durante a madrugada de 24 de Julho, enquanto os seus habitantes dormiam. A intensidade do vento nessa noite fez com que o fogo avançasse rapidamente. “Nunca tinha visto ventos tão fortes na minha vida”, disse uma testemunha à estação de televisão local BRTV, citada pelo El País.

Na quarta-feira, a televisão estatal argelina noticiou que o país conseguiu, finalmente, controlar grande parte dos incêndios que assolava as suas florestas. Ontem, a BBC mostrava pessoas a regressar às zonas devastadas pelas chamas, encontrando as suas casas, bens e gado perdidos nos incêndios.

Os incêndios alastraram-se também a regiões da vizinha Tunísia, incluindo as florestas de Tabarka, Jendouba, Beja, Bizerte e Siliana. Na Tunísia, duas pessoas morreram nos incêndios e cerca de 200 ficaram feridas.

O governo tunisino chegou a pedir ajuda internacional. Os incêndios foram contidos na quarta-feira pelos bombeiros tunisinos, com a ajuda de membros do exército argelino e de aviões de combate a incêndios vindos de Espanha, informou o ministro do Interior tunisino, Kamel Feki.

Os incêndios florestais na Tunísia obrigaram centenas de pessoas a evacuar as suas casas. A Reuters relata que o ministro tunisino disse ao Parlamento que 600 habitantes que foram retirados dos locais já estão a regressar às suas casas.

Terceiro Verão de incêndios na Argélia

Este é o terceiro Verão consecutivo em que os incêndios florestais provocam dezenas de mortos na Argélia, o que tem levantado críticas à actuação das autoridades argelinas. Embora a catástrofe tenha coincidido com uma onda de calor sem precedentes cuja intensidade inédita está largamente relacionada com as alterações climáticas, com temperaturas a atingir os 50 graus Celsius em várias partes do país, algumas vozes se têm levantado contra a inércia do Governo.

O jornalista argelino Otman Lahiani, do canal Al Araby, responde ao El País que “as pessoas compreendem que há factores estruturais inevitáveis por detrás dos incêndios, mas também se interrogam se alguns dos danos poderiam ter sido evitados com uma política de prevenção e mais recursos, como prometido”.

O jornal relata que as críticas à actuação das autoridades surgem em particular através das redes sociais e, em menor grau, nos meios de comunicação social, “uma vez que existem cada vez menos órgãos de comunicação social independentes”.

Apesar das duras críticas à má gestão do governo, em particular no que toca aos meios de combate aéreo, a opinião pública não parece tão peremptória em exigir avanços na chamada transição ecológica, no sentido de adaptar a economia para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e contribuir para a mitigação das alterações climáticas.

“A responsabilidade é dos grandes emissores, como os Estados Unidos, a China, a Índia e todos os grandes países industrializados... A Argélia, tal como outros países da sua dimensão, não pode influenciar esta tendência”, escreveu o jornalista Ryad Hamadi no jornal TSA Algeria, que, segundo o El País, faz eco de uma ideia muito difundida na opinião pública argelina.

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