Verão febril continua: primeira semana de Julho foi a mais quente de sempre

Os primeiros dias deste mês foram a semana mais quente no planeta desde que há registos, declara a OMM. Em Portugal, o mar aqueceu, mas não se esperam recordes de calor esta semana.

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Um iraquiano joga água na cabeça para se refrescar durante um dia de calor sufocante na praça Al-Khilani, no centro de Bagdad, Iraque, no dia 5 de Julho de 2023 EPA/AHMED JALIL
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Voltou a acontecer. Os primeiros dias de Julho correspondem à semana mais quente no planeta desde que há registos, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM). “Estamos num território desconhecido e podemos esperar que mais recordes sejam batidos à medida que o [fenómeno] El Niño se desenvolve, sendo que esses impactos se estenderão até 2024”, afirmou Christopher Hewitt, director de serviços climáticos da OMM.

A notícia de mais um recorde de temperatura média global, verificado no início de Julho, chega pouco depois de sabermos que Junho foi o mês mais quente do historial de registos da Terra. “Esta é uma notícia preocupante para o planeta”, avisou o responsável da agência das Nações Unidas para a meteorologia, citado num comunicado.

A temperatura média global em 7 de Julho foi de 17,24 graus Celsius, segundo uma análise provisória de um projecto chamado JRA-3Q, liderado pela agência meteorológica japonesa, que consiste em reanalisar com maior precisão as séries de dados correspondentes aos últimos 75 anos.

O valor de 17,24 graus Celsius significa que alcançámos um patamar de 0,3 grau Celsius acima do recorde anterior, que era o de 16,94 graus Celsius, registado no dia 16 de Agosto de 2016. Recorde-se que 2016 foi um ano marcado por um El Niño forte.

Esta conclusão da reanálise japonesa ainda não está cabalmente confirmada, mas é consistente com os dados preliminares da série ERA5 do programa Copérnico.

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Anomalias positivas de temperatura do ar à superfície em Junho de 2023 Copérnico

“O calor excepcional durante o mês de Junho e no início de Julho coincidiu com o início do El Niño, [fenómeno] que deve trazer ainda mais o calor tanto à terra como ao oceano, provocando temperaturas mais extremas e ondas de calor marinhas”, refere Christopher Hewitt.

Calor na terra e no oceano

Os dados do serviço para as alterações climáticas do Copérnico, o programa europeu para a observação da Terra, mostram que Junho de 2023 bateu por uma margem significativa o recorde anterior, estabelecido em Junho 2019, com mais de 0,5 grau Celsius acima da média dos anos de 1991 a 2020.

Os valores extremos em Junho não se limitaram à temperatura média do ar à superfície. Vastas áreas do Atlântico Norte apresentaram no mesmo período temperaturas recordes na superfície do mar, provocando ondas de calor marinhas na Irlanda, no Reino Unido e no mar Báltico, segundo o serviço do Copérnico.

“Essas condições excepcionais no Atlântico Norte destacam a complexidade do sistema terrestre e recordam-nos a importância de monitorizar o clima global quase em tempo real. A interacção entre a variabilidade local e global combinada com as tendências climáticas é essencial para fazer uma melhor gestão de riscos e criar políticas de adaptação eficientes”, afirmou Carlo Buontempo, director do Serviço de Alterações Climáticas, citado numa nota do Copérnico.

Estes recordes de temperatura, tanto no mar como em terra, podem não só ter um efeito “devastador” nos ecossistemas e no ambiente, afirma o comunicado da OMM, mas também ilustram “as mudanças de longo alcance que ocorrem no sistema terrestre como resultado das alterações climáticas produzidas pela mão humana”.

A OMM também adianta que os níveis de gelo da Antárctica em Junho tinham atingido o nível mínimo, 17% abaixo da média,​ desde que há observações de satélite.

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Registos horários da temperatura da superfície do mar em Leixões, Matosinhos Instituto Hidrográfico

Mar português mais quente

Também em Portugal, o Instituto Hidrográfico registou temperaturas mais elevadas da água do mar durante o mês de Junho. “Foi observado um aumento na temperatura da água à superfície do mar, pelas bóias ondógrafo direccionais localizadas em Leixões, Sines e Faro, com valores de temperatura acima da média dos últimos 20 anos”, refere um comunicado.

A informação recolhida a partir de dispositivos localizados nos três pontos do país mostra uma clara tendência de subida da temperatura. Em Leixões foi registada no mês passado uma média de 18,9 graus Celsius, ou seja, mais 2,3 graus Celsius em comparação com a média histórica, ao passo que em Faro se verificou 20,6 graus Celsius (mais 1 grau Celsius) e em Sines 18,6 graus Celsius (mais 1,1 graus Celsius).

Apesar dos recordes recentes de temperatura média global, em Portugal não há previsões de possíveis ondas de calor para esta semana nem se espera que sejam batidos recordes de temperatura ​em estações meteorológicas, segundo o serviço de meteorologia do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

“Há inclusivamente possibilidade de alguma nebulosidade e precipitação fraca na região Norte a partir de quarta-feira. Isto porque teremos a aproximação de uma superfície frontal fria de fraca actividade na parte Norte da península ibérica”, explicou ao PÚBLICO a meteorologista Patrícia Gomes, do IPMA.

Há aviso de tempo quente apenas para o distrito de Faro, que se deverá manter até sexta-feira da próxima semana. As regiões afectadas por mais calor continuarão a ser o Algarve, o interior do Alentejo e Castelo Branco.

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