Washington vê espaço para o diálogo e maior cooperação económica com a China

De visita a Pequim, Janet Yellen pede à China uma maior comunicação directa para evitar “mal-entendidos” com impacto nas relações económicas das duas potências.

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Yellen foi recebida em Pequim pelo vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng Reuters/POOL
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Entre uma guerra na Europa a mudar as peças do xadrez da geopolítica global e uma rivalidade latente entre as duas maiores potências do mundo, a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, aproveitou o segundo dia de uma visita oficial à China para tentar desanuviar a tensão política entre Washington e Pequim defendendo que os dois países devem reforçar o diálogo directo para resolver os “desafios” económicos mundiais, incluindo a resposta à ameaça climática.

Se um país tiver preocupações sobre práticas económicas específicas, deve comunicá-las “directamente”, afirmou Janet Yellen, garantindo ao vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng, que os Estados Unidos agirão dessa forma e que a expectativa da Casa Branca é ver a China fazer o mesmo, para se evitar que desacordos por falta de comunicação “conduzam a mal-entendidos” que agravem “desnecessariamente” as “relações económicas e financeiras bilaterais”.

Não por acaso, foi esse o tom das primeiras palavras da responsável pelo Departamento do Tesouro em território chinês, na véspera, quando, numa conversa com empresários norte-americanos, se mostrou “preocupada” com os novos controlos às exportações anunciados esta semana pelo Governo chinês a dois metais essenciais para a produção de semicondutores.

A partir de Pequim, a Reuters escreve que a agência de notícias pública chinesa Xinhua descreveu as cinco horas de reuniões entre Yellen e He como conversações “profundas, francas e pragmáticas”.

E, da mesma forma que Washington contesta as novas limitações, Pequim não deixa de sublinhar que vê com maus olhos as sanções e as medidas restritivas que os Estados Unidos impõem à China na área económica, considerando que o conceito de segurança nacional não é bom para as normais trocas comerciais entre os dois países, refere também a Reuters.

As relações económicas entre as duas economias bateram um recorde em 2022 e, para a Casa Branca, o facto de as trocas comerciais terem tocado num novo patamar, envolvendo 690 mil milhões de dólares, “sugere que há um amplo espaço” para os negócios dos dois países se desenvolverem, disse a secretária do Tesouro de Joe Biden.

Yellen está em Pequim até domingo para tentar baixar a tensão entre a China e os Estados Unidos depois de uma série de episódios recentes que se seguiram ao último encontro entre Joe Biden e Xi Jinping. O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, esteve na capital chinesa em Junho com Xi, numa visita que funcionou como um primeiro momento de desanuviamento entre as potências, relacionado com a posição norte-americana sobre Taiwan, a posição chinesa em relação à invasão russa da Ucrânia, as estratégias nacionais de competição económica e tecnológica e o recente episódio do balão chinês que sobrevoou o espaço aéreo norte-americano por cima de instalações militares sensíveis e que acabou abatido por um caça dos Estados Unidos (entretanto o Pentágono revelou que o objecto não recolheu informações).

Já depois da visita de Blinken, Joe Biden referiu-se ao Presidente chinês como um “ditador” e, ao falar da rivalidade entre as duas potências, disse que a China “tem problemas económicos reais”.

Mas a perspectiva que as duas capitais tentavam desenhar era já de reforço do diálogo e foi com essa mensagem que Janet Yellen apareceu na capital chinesa nesta visita.

Para a secretária norte-americana, sendo a conjuntura económica global “complexa”, os dois países devem comunicar “de forma estreita e trocar opiniões” sobre a resposta a vários desafios. Nesta fase, notou, as mudanças climáticas são uma “ameaça existencial” a que os dois países, os dois maiores emissores mundiais de gases com efeito de estufa, têm de dar atenção. E os dois devem liderar a cooperação com os países em desenvolvimento para ajudar as economias mais pobres a cumprirem os objectivos climáticos, disse a secretária dos Estados Unidos, citada pela Reuters.

Segundo o jornal South China Morning Post, sediado em Hong Kong, o vice-primeiro-ministro chinês lembrou o encontro oficial que Joe Biden e Xi Jinping tiveram em Novembro e, numa referência implícita ao sobrevoo do balão, lamentou que “incidentes inesperados” tenham interrompido os esforços que os dois líderes fizeram para melhorar o relacionamento entre os dois países.

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