A dívida dos EUA e o bater de asas que vira furacão

Cada português deve em média cerca de USD 30.000 enquanto cada norte-americano deve em média USD 95.000.

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Quer se goste ou não, os EUA ainda são o pilar da economia mundial e o dólar é a moeda de referência, sendo que até agora o euro apenas conseguiu tanto para transações como para unidade de reserva, uma quota de mercado que nunca ultrapassou os 25%, enquanto a quota do dólar ronda os 60%. Por estes e outros motivos, que a globalização acelerou, qualquer instabilidade que possa ocorrer nos EUA, tem um forte impacto em todo o mundo.

Recentemente, os EUA quase entraram em default, pois o seu limite superior de dívida pública já tinha sido ultrapassado em janeiro. A encenação vivida entre republicanos e democratas não deixa de ser uma manobra de jogos políticos, para verem quem mais ganha votos nas eleições presidenciais do próximo ano. Por questões políticas, chegaram ao absurdo. Também aqui em Portugal temos e tivemos imensos políticos deste género, em que o sentido de Estado e de responsabilidade lhes diz pouco.

Apesar de ter sido obtido um acordo para aumentar o limite da dívida pública, não deixa de ser curioso que seja apenas válido até janeiro de 2025, ou seja, poucas semanas após as eleições presidenciais. Ao próximo Presidente está já de antemão dada a árdua tarefa para resolver este delicado problema. Trata-se de um problema que tem sido fortemente agravado nos últimos vinte anos, em que a dívida pública dos EUA aumentou oito vezes.

Para se ter uma ideia da realidade da dívida americana, basta comparar com o nosso caso, em que já estamos fortemente endividados. Cada português deve em média cerca de USD 30.000 enquanto cada norte-americano deve em média USD 95.000. Os EUA apenas apresentam a vantagem da sua dívida pública ser maioritariamente detida por nacionais e por instituições nacionais, enquanto a nossa é maioritariamente detida por estrangeiros e fundos internacionais. Mesmo assim, trata-se de um grande problema. Se tal se passasse no nosso país, já tínhamos entrado em falência há 10 ou 20 anos.

Mas se os EUA entrarem um dia em incumprimento o que pode acontecer para ser tão grave esta situação? Internamente, o país deixaria de ter de imediato dinheiro para pagar aos seus milhões de funcionários públicos e demais encargos correntes. Estimativas da Administração Biden calculam que de imediato existiria uma recessão, com o PIB a contrair 6% e o rating a cair do triplo A em dois ou três níveis, algo que seria inédito.

De seguida, o problema atingiria os restantes países ocidentais e o mundo inteiro, instalando-se receios, subidas dos juros para os países mais endividados, contração económica e aumento do desemprego. O ouro e outros ativos voltariam a aumentar o seu valor, dado os seus estatutos de ativos de refúgio. Na verdade, não se conseguem imaginar os verdadeiros efeitos, nem a sua duração, porque nunca ocorreu situação semelhante.

Os EUA devem ter mais cuidado com as decisões que tomam e as consequências que provocam, não só internamente, mas externamente. Para quê continuar a aumentar de uma forma desmesurável a sua dívida? Situações destas e as suas consequências são as que levam ao extremismo e radicalismo tanto de esquerda como de direita. Já não existem estadistas. Nada se aprendeu com a história.

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