Boris Johnson já tem emprego: é o novo colunista do Daily Mail

Contratação do antigo primeiro-ministro britânico pelo jornal conservador anunciado um dia depois de o Parlamento ter confirmado que “enganou deliberadamente” os deputados durante o “Partygate”.

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Boris Johnson foi primeiro-ministro do Reino Unido entre 2019 e 2022 Reuters/PETER CZIBORRA
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Uma semana depois de ter renunciado ao cargo de deputado e um dia depois de uma comissão parlamentar ter concluído que “enganou deliberadamente” a Câmara dos Comuns durante o escândalo das festas ocorridas na sede do Governo do Reino Unido durante a pandemia, violando regras sanitárias, Boris Johnson foi anunciado esta sexta-feira como o mais recente colunista do Daily Mail.

A contratação do antigo primeiro-ministro, um antigo jornalista que construiu a sua imagem pública e política, durante anos, com textos mordazes e polémicos no Daily Telegraph, foi confirmada a meio da manhã, depois de a capa da edição em papel do tablóide britânico ter prometido revelar a identidade de um “novo colunista erudito”.

Num vídeo publicado nas redes sociais do Mail, Johnson promete escrever aquilo que pensa “sobre o mundo”, com total liberdade e não necessariamente sobre política: “Vou escrever sobre aquilo que quiser. Posso até ter de vir a cobrir temas políticos, de vez em quando, mas irei, obviamente, tentar fazê-lo o menos possível”.

“Quer seja ou não seja fã de Boris, será uma leitura necessária – tanto em Westminster como para milhões em todo o mundo”, celebrou o jornal, que tem uma linha editorial assumidamente de direita, eurocéptica e próxima da ala mais neo-liberal do Partido Conservador. O primeiro artigo será publicado às 17h desta sexta-feira.

Ainda não são conhecidos os valores da remuneração do antigo líder tory – que deixou o cargo de primeiro-ministro em Julho do ano passado, na sequência de dezenas de demissões no seu Governo, em protesto pela forma como lidou com vários escândalos, incluído o “Partygate” –, mas a imprensa britânica acredita que tenha conseguido um acordo muito lucrativo.

Em 2018 foi revelado, por exemplo, que o Telegraph lhe pagava 275 mil libras (cerca de 322 mil euros) por ano para escrever uma coluna semanal.

O processo de contratação de Boris Johnson ainda terá, no entanto, de ser esclarecido. Isto porque a lei obriga qualquer antigo ministro que tenha saído do Governo britânico nos dois anos anteriores a informar uma comissão pública, a Acoba, sobre o seu próximo emprego.

Num comunicado, um porta-voz da Acoba revelou que Johnson só a informou sobre o contrato com o Mail “trinta minutos” antes de ter sido confirmado como colunista, algo que, considera, consubstancia “uma violação clara” das regras.

“Escrevemos ao Sr. Johnson a pedir uma explicação e iremos publicar a correspondência a seu tempo, em linha com a nossa política de transparência”, disse o porta-voz.

Oposição a Sunak?

Ainda que Boris Johnson tenha dito que não vai escrever muito sobre política, é difícil imaginar um cenário em que não venha a utilizar a nova coluna para fazer oposição interna ao actual primeiro-ministro, Rishi Sunak.

Nos últimos dias, à boleia da investigação da comissão de Privilégios à sua conduta durante o “Partygate” e do chumbo, por parte do Governo, de alguns dos nomes que propôs para a Câmara dos Lordes, o antigo chefe do executivo e os seus aliados dentro do partido têm atacado Sunak, acusando-o de ser cúmplice com aquilo que consideram ser uma “caça às bruxas” para diminuir a influência de Johnson no partido.

No seu relatório, publicado na quinta-feira, a comissão recomendou a suspensão de Johnson do Parlamento durante 90 dias – que já não se aplica, uma vez que ele se demitiu –, não só por não ter sido verdadeiro com os deputados, quando garantiu repetidamente que tinham sido cumpridas todas as regras sanitárias, quando estavam a ser reveladas mais de 15 festas e convívios em Downing Street durante períodos de confinamento, mas por ter procurado descredibilizar a legitimidade da investigação, ao longo dos últimos dias.

Johnson catalogou o relatório como “lixo”, “charada” e “mentira” e disse estar a ser alvo de uma campanha de “assassínio político”.

Apesar de o ex-primeiro-ministro já não ser deputado – o círculo eleitoral que representava vai a votos em Julho para encontrar um sucessor –, a Câmara dos Comuns será chamada, na próxima segunda-feira, a adoptar ou a chumbar as suas conclusões.

Em perspectiva está um cenário em que os deputados conservadores aliados de Johnson podem votar contra as conclusões, pondo a nu o volume da rebelião dentro do partido contra a actual liderança, de Rishi Sunak.

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