Águas de canal em Veneza foram pintadas de verde-fluorescente

Autoridades italianas estão a investigar a origem do corante que fez mudar de cor o curso que passa sob a famosa ponte Rialto, em Veneza. Especula-se se o caso estará associado a protestos climáticos.

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Um gondoleiro transporta passageiros ao longo de um trecho "pintado" de verde fluorescente no Grande Canal, perto da ponte Rialto ANDREA MEROLA/EPA
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As águas dos canais de Veneza, na Itália, amanheceram pintadas de verde-fluorescente VIGILI DEL FUOCO/REUTERS
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As águas dos canais de Veneza, Itália, amanheceram pintadas de verde-fluorescente neste domingo. As autoridades locais estão a investigar a origem do corante – provavelmente o composto orgânico fluoresceína –, que tingiu o curso de água que passa sob a famosa ponte Rialto. Há especulações de que protestos climáticos possam estar na origem desta nova cor na paisagem veneziana, mas até ao momento nenhum grupo ambiental reivindicou a acção.

O presidente da região de Veneza, Luca Zaia, garante que não há qualquer risco ambiental. “Não há perigo de poluição da mancha verde-fluorescente que apareceu ontem de manhã [domingo] nas águas de Veneza, mas o risco de emulação [repetição do acto] é preocupante”, referiu o responsável esta segunda-feira na rede social Twitter.

“Infelizmente, Veneza tornou-se palco de acções muito além dos limites: são necessárias respostas adequadas e fortes. A polícia de Veneza está a investigar a origem do líquido verde fosforescente que apareceu no domingo no Grande Canal da cidade, devido a especulações de que este foi causado por manifestantes climáticos”, acrescentou Luca Zaia.

Uma investigação “urgente” ao caso já foi aberta. Jornais italianos referem que imagens de videovigilância colhidas junto à ponte Rialto vão ser analisadas, com o objectivo de identificar possíveis responsáveis pela “pintura” das águas venezianas. Aventa-se, por exemplo, a hipótese de que esta situação possa estar relacionada com uma prova da regata Vogalonga, que decorreu em Veneza no último fim-de-semana.

A exemplo de outros países, Itália tem sido placo de diferentes protestos climáticos. No dia 22 de Maio, sete jovens manifestantes do grupo Ultima Generazione (que, em italiano, significa “última geração”) recorreram a carvão vegetal para escurecer as águas da Fontana di Trevi, em Roma. O objectivo era manifestar discordância em relação às políticas climáticas do governo italiano.

De acordo com o Corriere del Veneto, o grupo ambiental Ultima Generazione declinou qualquer responsabilidade em relação à acção com corantes no canal de Veneza.

Artista pintou Veneza em 1968

Esta não é a primeira vez que os canais venezianos são “pintados” com tinta fluorescente. No dia 19 de Junho de 1968, o artista argentino García Uriburu tingiu as águas do Grande Canal com o corante orgânico fluoresceína. Este composto orgânico sintético tem diversas aplicações, da mecânica hidráulica à medicina, sendo considerado inofensivo para a vida aquática. É muito usado por canalizadores, por exemplo, para rastrear fugas em edifícios.

A performance artística não integrava o programa oficial da 34.ª Bienal de Veneza, evento que decorria em paralelo. O objectivo era “chamar a atenção para a relação entre natureza e civilização e promover a consciência ecológica como parte crítica da cultura”, refere a página do Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque.

A página do museu norte-americano Met afirma ainda que a fluoresceína usada por García Uriburu foi desenvolvida pela agência espacial norte-americana (NASA) para fins científicos.

Já a Enciclopédia Britânica associa a síntese da fluoresceína ao químico alemão Adolf von Bayer (1835-1917), a quem foi atribuído o Prémio Nobel da Química, em 1905, pelo trabalho elaborado no domínio dos corantes orgânicos, com especial destaque para a síntese do índigo.

Quando em ambiente seco, a fluoresceína apresenta-se como um pó avermelhado. Uma vez dissolvido numa solução básica, o composto adquire uma coloração fluorescente amarelo-esverdeada, como aquela que se viu no domingo nas águas venezianas.

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